O ambiente actual da produção suína, com um controlo férreo sobre a utilização de pré-misturas medicamentosas e a proibição, no futuro próximo, do óxido de zinco na União Europeia, faz com que se estejam a levar a cabo distintas estratégias nutricionais para preservar a saúde do intestino, mantendo a microflora bacteriana em equilíbrio e garantindo a absorção de nutrientes e o óptimo crescimento do animal.
Estas estratégias passam pela utilização de diferentes aditivos, de matérias-primas com elevada digestibilidade e, sobretudo, por formular dietas baixas em proteína com um perfil equilibrado de aminoácidos para assegurar o correcto crescimento do animal.
Benefícios das dietas baixas em proteína
A diminuição do nível de proteína da dieta tem múltiplos benefícios:
- Permite trabalhar com uma menor inclusão de soja na dieta, pelo que o conteúdo de potássio também é inferior, o que se repercute num menor consumo de água e num menor volume de efluente
- Ao haver um conteúdo de proteína menor, o animal tem que desaminar uma quantidade inferior de aminoácidos, o que representa um menor custo energético, uma menor síntese e excreção de ureia e uma menor quantidade de azoto no efluente e, portanto, menor risco de acidificação e eutrofização.
- Minimizamos a quantidade de proteína não digerida que chega ao intestino grosso evitando a formação de aminas biógenas que têm impacto negativo na microbiota intestinal e na função protectora da mucosa, bem como na fermentação deste excesso, pelo que se reduz o risco de proliferação de bactérias patogénicas, como a E. coli, e, portanto, o aparecimento de diarreias.
- A ingestão de azoto é menor e a eficácia de retenção deste é maior.
Aminoácidos essenciais
Mas para levar a cabo esta mudança na formulação, devemos estar seguros que conhecemos as necessidades de cada aminoácido essencial e que fornecemos, através da dieta, a quantidade necessária para cobrir as necessidades de crescimento e manutenção do animal.
São nove os aminoácidos essenciais nos suínos, ou seja, que não podem ser sintetizados pelo animal e devem ser fornecidos a partir das matérias-primas da dieta e/ou graças à disponibilidade de alguns deles no mercado (lisina, metionina, treonina, triptófano, valina e isoleucina). Assim, podemos formular dietas limitando o nível de proteína com os benefícios mencionados anteriormente e mantendo o crescimento do animal. No futuro, o registo de novos aminoácidos, irá facilitar o trabalho com dietas ainda mais limitadas em proteína.
As necessidades de lisina, treonina, triptófano e valina, têm sido extensamente estudadas e são bem conhecidas por todos, o que tem permitido definir um perfil de proteína ideal. No caso da isoleucina, o seguinte aminoácido limitante depois da valina, é importante conhecer bem quais são as suas necessidades para poder diminuir o nível de proteína mantendo o crescimento do animal.
A isoleucina é um aminoácido ramificado (juntamente com a valina e a leucina) que, ao mesmo tempo pertence ao denominado grupo aminoácidos neutros de cadeia longa (como o triptófano, histidina, fenilalanina e tirosina), que competem pelos transportadores a nível da barreira hematoencefálica.
No caso dos aminoácidos ramificados (Val, Ile e Leu), devemos tratá-los como um conjunto já que partilham rotas metabólicas comuns, pelo que quando há um excesso de leucina, acelera-se o catabolismo da valina e da isoleucina. A modo de exemplo, quando há um excesso de leucina e um déficit de valina ou isoleucina, há uma diminuição importante no consumo de ração tal como demonstrou Wiltafsky et al (2010).
Isoleucina
Centrando-nos na isoleucina, Van Milguen et al (2012) levou a cabo um amplo estudo de meta-análise para determinar as necessidades deste aminoácido: observou-se que as dietas que continham farinha de sangue ou células sanguíneas, tinham uma necessidade superior de isoleucina. Este facto explica-se porque estas matérias-primas são ricas em leucina, cujo excesso é capaz de activar as vias metabólicas que catabolizam a isoleucina. Pelo contrário, quando não se utilizam este tipo de matérias-primas, as necessidades de isoleucina em relação à lisina, estabelecem-se em 53%. Este rácio deve-se mantener para evitar penalizações no crescimento tal como mostram as figuras 1 e 2. Na primeira delas, vemos como o rácio para maximizar o crescimento é de 53%, enquanto que na segunda, se resumem ensaios nos quais se comparam dietas com um rácio deficitário em isoleucina versus dietas equilibradas (53% Ile/Lys DIS). Nos três gráficos nota-se uma melhoria no ganho médio diário, na ingestão voluntária de alimento e uma melhoria na eficiência.
Conclusões
Portanto, é importante que ao trabalhar com dietas baixas em proteína, ajustemos as necessidades de cada aminoácido e mantenhamos o perfil de proteína ideal para assegurar o máximo crescimento do leitão. Evitaremos, em simultâneo, problemas de saúde intestinal e colaboraremos para uma produção animal mais sustentável.