No mercado há poucos porcos e muita carne

14 de Julho de 2023

Pela décima quarta semana consecutiva a cotação dos porcos manteve-se na Bolsa do Porco em 2,802€/kg carcaça. Os pesos continuam a baixar, não só devido ao calor que reduz os seus crescimentos, mas também devido à redução da oferta de animais colocados no mercado que é inferior à procura por parte dos matadouros.

Com esta situação no mercado, seria de esperar que a cotação pudesse subir, mas a realidade é que há muita dificuldade em vender a carne e, principalmente, em a valorizar. Neste momento, são os matadouros e as indústrias que estão a passar um mau bocado.

Em todo o caso, e tendo em consideração que a oferta de porcos para abate continuará a ser mais baixa, não só em Portugal como em toda a Europa (tal como tenho vindo a referir nos meus anteriores comentários, as reduções de efectivo são grandes em muitos dos maiores produtores europeus de porco), as estruturas de abate europeias terão que sofrer ajustamentos e adaptações a esta nova realidade. Com reduções de efectivo da ordem dos 25% em 3 anos na Alemanha, de 10% na Dinamarca, Países Baixos e Bélgica em função das novas normas de bem-estar animal e do brutal aumento de custos de produção, dificilmente voltará a haver tantos porcos para abate como já houve e isso obrigará ao encerramento de matadouros, como já aconteceu na Dinamarca. Veremos quanto tempo demorará esta adaptação e que consequências terá no mercado.

Segundo o I&f da Dinamarca, a redução dos abates no 1º trimestre de 2023 na U.E.-27 foi de 7,7%, tendo-se abatido menos 4 780 000 mil porcos em comparação com o mesmo período de 2022 (61 810 000 em 2022 contra 57 033 000 em 2023), sendo que percentualmente, a reduções foram as seguintes: Dinamarca -16%, Bélgica -11%, Países Baixos -10%, Espanha -9%, Alemanha -8%, Portugal -8%.

Entretanto, e sem descartar o enorme aumento dos custos de produção, grande parte na sequência da agressão russa á Ucrânia que fez disparar o preço das matérias-primas para a alimentação animal, as cotações europeias do porco tiveram aumentos de 30 a 45% no primeiro semestre de 2023 quando comparado ao primeiro semestre de 2022. Senão vejamos:

Fonte: MPB - França

Para Portugal somente poderemos calcular o aumento da cotação de Maio e Junho, já que só a partir da 1ª semana de Maio de 2022 passou a haver cotação definida pela Bolsa do Porco. Assim, para estes 2 meses o aumento da cotação na Bolsa do Porco, foi de 29% passando de uma média de 2,172€/kg carcaça em 2022 para 2,802€/kg carcaça em 2023.

Ainda no campo das estatísticas, o mesmo I&f publicou dados relativos, às importações espanholas, no 1º trimestre de 2023, de leitões para engorda, porcos de abate e porcas de refugo para abate. Portugal surge como 4º maior fornecedor de leitões para engorda a Espanha, com 42980 leitões e em 1º lugar como fornecedor de porcos + porcas com 90285 cabeças enviadas para o país vizinho nos primeiros 3 meses deste ano. Em comparação com 2022, foram vendidos mais 500 leitões e menos 27000 porcos + porcas no mesmo período de tempo.

No mercado europeu passa-se o mesmo que no mercado português. A procura de porcos é superior à oferta, o que permite que vá havendo descida de pesos e estabilização das cotações em preços altos ou mesmo algumas subidas (Alemanha, Países Baixos, Bélgica e França) e há muita dificuldade em vender e valorizar a carne.

Desde logo, dificuldade em exportar carne para Países Terceiros. A China, o maior comprador de carne de porco na U.E. tem os porcos e a carne a preços muito baratos e prefere comprar aos Estados Unidos a carne que precisa. A carne de porco norte-americana está muito barata e é mais competitiva do que a carne de porco europeia. Os restantes países da Ásia vão comprando carne de porco europeia, mas em quantidades inferiores às do ano passado, já que as exportações de carne de porco da U.E. baixaram 12% no 1º trimestre de 2023 em comparação com o período homólogo de 2022, sendo o Vietname o único mercado em que as exportações cresceram (+27,7%) no mesmo período.

Com todos os factores referidos acima a influenciar o mercado do porco, nenhum matadouro quer congelar carne e pressiona para fazer vendas em fresco, o que implica que o mercado se encontra abastecido de carne, mas como referi acima, faltam porcos e daí as subidas das cotações que ocorreram nos diversos países.

No que diz respeito à evolução das cotações europeias do porco, em Espanha a cotação manteve-se em 2,025€/kg PV (2,70€/kg carcaça) nesta primeira metade de Julho. O peso baixou 1,8kg em carcaça nesta quinzena, mas está mais elevado 4,5kg do que em 2022.

Na Alemanha, a cotação subiu 0,07€/kg carcaça na primeira quinzena de Julho, fixando-se em 2,50€/kg carcaça, um novo record para a cotação alemã. Os pesos baixaram 200g para os 97kg carcaça. A escassez de oferta de porcos é a única razão para a subida da cotação, pois, se a carne já se vendia mal nas semanas anteriores, com a saída do país dos alemães para gozo de férias, esta redução de consumo ainda se irá acentuar mais. Apesar da redução da actividade dos matadouros, para se poderem ajustar à oferta de porcos, estes não o conseguiram fazer e daí a procura de porcos para abate ser superior à oferta, implicando a subida da cotação.

Nos Países Baixos a cotação também subiu. Neste caso foram 0,04€/kg carcaça nesta quinzena para 2,52€/kg carcaça.

Na Bélgica a cotação subiu 0,01€/kg PV para 1,83€/kg PV na primeira metade de Julho.

Na Dinamarca a cotação manteve-se em 1,85€/kg carcaça na primeira quinzena de Julho. Os dinamarqueses referem que o mercado da carne na Europa está equilibrado e que houve condições para subir o preço de algumas peças. Com as férias, há alterações de consumo e transferência de consumidores para as regiões do sul da Europa. A exportação para a Ásia está estável, mas a um nível baixo.

Em França, a cotação voltou a subir na primeira quinzena de Julho. Desta vez a subida foi de 0,008€/kg carcaça nesta quinzena para 2,352€/kg. Os pesos desceram 500g para 94,8kg e estão 800g acima do peso do ano passado. A oferta de porcos para abate é baixa e ainda se reduz mais devido a alguma retenção que os produtores estão a fazer no sentido de poderem melhorar os seus resultados de exploração e a tesouraria das suas empresas. Tal como noutros países, alguns matadouros em França também reduziram os seus abates para 4 dias apenas, de forma a se tentarem ajustar à oferta.