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Nora de preços

O mercado de matérias-primas tornou-se numa nora, e este último mês apeteceu-lhe descer.

O nosso mercado tornou-se numa nora e neste último mês apeteceu-lhe descer. Mas nem todos os cereais desceram de preço do mesmo modo, portanto vamos aprofundar um pouco mais o que se passou.

Soja, colza e girassol

Quando escrevi o meu último comentário o preço da soja estava situado por volta dos 530 €/ton. Actualmente o seu preço está ao redor dos 470-460 €/ton o que, em termos relativos, significa 15% de diminuição do preço, o que não é pouco. Tentemos ver os diferentes factores que propiciaram esta descida:

- Os fundos tinham posições muito longas e "soltaram lastro".
-Apesar da má colheita nos Estados Unidos esta parece melhor do que o havia descontado o mercado, o que favorece a queda dos preços. Também nos encontramos em plena campanha... o que é sempre um factor de pressão sobre os preços.
- Os chineses estão imersos em batalhas internas pelo poder, esta situação costuma desembocar em cenários de preços mais ou menos estáveis ou em baixa dos preços. Isto é conseguido graças ao consumo dos stocks internos e a baixar importações.
- Espera-se que o Brasil passe de 66,6 milhões de ton para 81-83 milhões de ton para a próxima colheita de soja e a Argentina passe de 41 milhões de ton a 55-57 milhões de ton. No total da próxima campanha (que, não esqueçamos, teremos que esperar até ao mês de Maio) contará entre 33 e 39 milhões de toneladas a mais. Claro que ainda falta muito mercado e muitas notícias para que estes valores se confirmem mas de momento tudo ajuda.

E agora o que podemos esperar? Creio que pelo menos durante o próximo mês a tendência será de estabilidade ou ligeiramente para baixo, mas não devemos perder de vista estes factores:

- A pressão de colheita nos Estados Unidos durará mais um mês.
- Os chineses num mês ou mês e meio terão terminado a "repartição de cromos" do poder e voltarão a aparecer no mercado.
- O preço dos aminoácidos voltou ao seu nível habitual pelo que deixaram de ser uma alternativa.
- Com os preços actuais (tanto de soja como de aminoácidos) o consumo de bagaço de soja está garantido.
- Para esta campanha os stocks finais continuam a ser muito curtos, apesar da melhoria da colheita nos Estados Unidos.
- Os fundos podem voltar a entrar em força depois de terem tomado lucros. A política económica nos Estados Unidos (dinheiro abundante e barato) segue favorecendo este tipo de comportamento do mercado.

Por tudo isto, creio que sem pressas mas sem pausas, seria conveniente aproveitar esta quebra para cobrir parte do período Janeiro-Abril. Também ter um olho posto no dolár e seus vaivéns devido à grande influência que tem no preço final.

A colza e o girassol seguiram a baixa de preços da soja de maneira dispar, já que não baixaram na mesma proporção. À data de hoje a colza cotiza à volta de 305 €/ton e o girassol de 35% proteína entre os 315-310 €/ton. Logicamente estas proteínas perderam interesse e competitividade. E, no entanto, certo que a colheita de colza na Europa é pobre, no Canadá espera-se uma colheita excelente, sendo este um grande exportador. Teremos que estar atentos à evolução dos preços.

Cereais

O produto estrela foi e continua a ser o milho, com uma baixa de preço de aproximadamente 10% tanto para o imediato como para posições futuras. Se é certo que se confirmam as más perspectivas para a colheita de milho no Mar Negro, mas esta adiantou-se coincidindo com a colheita nacional na zona do Ebro. Com a maior oferta de milho nacional coincidiu a maior oferta de milho nos portos (sobretudo para entregas Outubro/Dezembro).Além do mais dá-se por adquirido que Bruxelas autorizará novas variedades de sementes de milho transgénico e poderá importar-se milho do Brasil, o que facilitou que as ofertas nos portos se alargasse até posições de Março/Abril. Tudo isto sem ter em conta todavia a colheita de França, onde actualmente continuam pouco motivados para vender posições e de momento continuam a ver os "barcos passar" ainda que a curto prazo têm de entrar no mercado.

O mercado, sobretudo na zona do Ebro pôde comprar partidas significativas de triticale, sorgo e centeio. Não houve ofertas para períodos longos mas as coberturas até Dezembro são folgadas. Se a isto acrescentarmos o facto que os estão e continuarão a estar repletos, a tranquilidade do comprador é absoluta.

A cevada, pelo contrário, segue uma guerra totalmente diferente. Os preços estão à volta de 252-255 €/ton dependendo dos destinos, mas o mercado não é afectado já que os compradores não contam com ela.

E para terminar o que se passa com o trigo? Bem. Continua sem baixar de preço e parece que não vai baixar. A reposição (ainda com o TRQ) à volta dos 270€/ton mais ou menos. Nos portos cotiza-se entre os 264-268 €/ton. Os compradores, apesar de adquirirem todo o produto nacional que encontram e de o tentarem subtituir pelo triticale e pelo sorgo, no final cedem e realizam coberturas a 15 dias ou mês vista máximo. A sensação é que o trigo dificilmente cederá num futuro mais ou menos próximo. Além do mais os stocks finais descontados dos stocks não operativos (aqueles que não se comercializam) são bastantes ajustados. Também podemos obviar que o trigo no resto do mundo é para consumo humano, pelo que se paga um preço melhor do que para consumo animal.

Pessoalmente considero que o diferencial de preço entre o trigo e o milho é demasiado grande. Se o preço do trigo não ceder antes de Janeiro podemos assistir a uma subida dos preços do milho. Portanto parece-me prudente tomar posições de milho de Janeiro em diante aproveitando tanto os preços como a vontade de vender que estamos a ver actualmente. Além do mais o milho é, à data, o único cereal em que podemos tomar posições a mais longo prazo.

Com isto me despeço, veremos o mês que vem…

Jordi Beascoechea i Pina

Jordi Beascoechea i Pina

8 de Outubro de 2012

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