Lérida tem sido, desde sempre, um território com grande concentração de suínos. Seguramente seja esta a razão pela qual, hoje, o mercado espanhol do porco tenha como referência a Bolsa dessa cidade que é conhecida como Mercolérida.
A Mercolérida (MLL) nasceu na década de 70 do século passado numa clara tentativa de homogeneizar e racionalizar os preços dos porcos "brancos" para abate. Na sua essência, tratava-se de institucionalizar uma Mesa de Negociação na que estivessem representados tanto a oferta de porcos vivos (produtores) como a procura para abate (os matadouros). Tratava-se de definir um terreno de jogo onde ambas as partes pudessem negociar e que esta fosse arbitrada por uma instituição de forma a se chegar a um consenso, caso existissem dificuldades na obtenção da cotação. A MLL é uma instituição dependente e controlada pelo Câmara Municipal de Lérida. O Governo da Catalunha (Generalitat) é outro accionista de referência.
Desde os titubeantes inícios até ao consolidado mercado profissional de hoje, a Bolsa de MLL teve numerosos avatares e anedotas sem fim. Neste momento, a MLL representa o mercado com maior actividade de abate de suínos em toda a União Europeia.
Na década de 90 e até ao início deste século, era frequente haver sessões de autêntica maratona, com muitíssima tensão e, por vezes, tão intermináveis que se interrompiam já a noite ia avançada para se concluírem no dia seguinte. Eram tempos em que as emoções dominavam quem devia negociar e essas mesmas emoções impediam que o raciocínio e a realidade se impusessem.
Para racionalizar e reconverter a Bolsa no que devia ser única e exclusivamente a sua função, pensou-se, com acerto, que era necessário dispor de informação verdadeira e contrastada, neutra em si mesma, sobre a realidade do mercado (peso médio da carcaça, número de animais abatidos, evolução dos mercados vizinhos, ….).
Deste modo, a actual Mesa de Negociação da MLL é constituída por 16 pessoas, 8 representantes da produção suína e 8 representantes da indústria. No momento de se iniciar a sessão (às 5ªs ferias à tarde em semanas normais) cada membro da mesa dispõe da seguinte informação:
- Documento estatístico realizado com dados reais fornecidos tanto pela produção (grandes integradores) como pelos matadouros (16 empresas que aglutinam cerca de 60% do mercado). Estes dados são auditáveis. Também há informação sobre o número total de animais abatidos na semana em curso, previsões de abate para a seguinte, peso médio de carcaça na semana em curso e os mesmos dados referentes à semana anterior. Também a mesma informação referente à mesma semana do ano anterior.
- O resultado do mercado alemão do dia anterior.
- O resultado do mercado francês desse mesmo dia (ao meio dia).
A sessão inicia-se com um debate em que participam todos os membros. A seguir fazem-se negociações em privado entre um membro da produção e um membro dos matadouros. Normalmente a primeira negociação é infrutífera e, então, procede-se à realização de duas reuniões simultâneas - em separado - de ambos os grupos para “apalpar terreno”. E dessa forma, uma e outra vez. Em caso de não haver acordo, irá negociar o “par arbitral” (pré-estabelecido a cada três meses, absolutamente soberano e com poder).
No caso de continuar a não haver acordo, apela-se ao “Sistema Técnico Porcino (STP)”, ferramenta técnica e instrumento cego em si mesmo, que consiste numa fórmula algoritimica que funciona em rede neuronal (desenvolvida por matemáticos e físicos da Universidade de Barcelona) que tem em conta, com diferentes graus de ponderação, um autêntico leque de dados computáveis:
- Alteração de preço na mesma semana do ano anterior.
- Resultado do mercado alemão do dia anterior.
- Resultado do mercado francês desse mesmo dia.
- Estamos em época de baixa ou de subida?
- Redução ou subida do peso médio das carcaças.
- Etc, etc
O que faz o STP, por próprio todas as semanas, é realizar uma previsão sobre o resultado da Bolsa. Temos que dizer que se retroalimenta com os seus próprios resultados; por si só parece que terá tendência a exacerbar e exagerar os movimentos naturais do mercado.
No caso de haver posições extremadas entre o "par arbitral", a MLL pede a intervenção do seu “homem bom - e sábio” para que medeie entre os dois protagonistas. No caso de não haver qualquer possibilidade de acordo, são então chamados dois membros do Conselho de Administração da MLL, (um representante da Câmara de Lérida e outro da Generalitat) que, tendo em consideração os argumentos de ambas as partes e com toda a informação disponível nas suas mãos, decidem o preço final da semana.
Temos que referir que a MLL obtém um preço que não é vinculativo. É um preço do dia. No final, na prática, converte-se no preço de referência, sendo que o preço real é gerido por cada matadouro com cada um dos seus fornecedores. É um preço por quilo vivo, à saída da exploração.
Na nossa opinião, é importante sublinhar vários aspectos:
- Tenta-se trabalhar com dados. Dados e mais dados. Os números são neutros, não têm sentimentos e dizem a verdade. Os instrumentos postos à disposição de quem decide baseiam-se em informação Verdadeira.
- MLL, como instituição, tem sólidos contactos com outras bolsas europeias e mundiais. Estabeleceram-se relações regulares com outras bolsas importantes e troca-se informação sob o lema "saber é poder".
- Com a passagem dos anos, a MLL conseguiu ganhar um excelente prestigio profissional no âmbito do sector tanto europeu como mundial
No momento actual ninguém no mundo duvida da excelência da fileira suinícola espanhola: profissionalismo, crescimentos acumulados, eficiência da produção, do matadouro e da desmancha. É de referir que o sector pode estar tranquilo relativamente à eficiência e profissionalismo do seu mercado de referência. Na Mercolérida fazem-se as coisas bem feita e - muito importante - não existe nenhuma voz dissonante que ouse negá-lo.