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O mercado do porco anda ao contrário do habitual

A cotação dos porcos desceu 0,12€/kg carcaça na Bolsa do Porco, na segunda quinzena de Julho,

30 Julho 2021
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30 de Julho de 2021

Numa altura do ano em que, tradicionalmente, a cotação dos porcos costuma subir em Portugal, este ano temos assistido a uma situação perfeitamente inusual e que é contrária ao habitual. A cotação dos porcos desceu 0,12€/kg carcaça na Bolsa do Porco, na segunda quinzena de Julho, isto apesar de a oferta de porcos para abate ser menor (aqui o mercado do porco não apresenta alterações ao que é tradicional) e os pesos terem vindo a baixar. Em todo o caso, as temperaturas amenas que se têm feito sentir no nosso país, não tem provocado atrasos no crescimento dos porcos e a saída de animais para abate faz-se a ritmo normal.

A oferta de porcos não é elevada, mas é mais do que suficiente para cobrir as necessidades do matadouro e as de consumo de carne. A exportação para Países Terceiros está complicada e os consumos internos não disparam, pois não há entrada de turistas tão habitual em anos anteriores e as restrições pela COVID continuam na restauração. Além disso, no centro e norte da Europa não há bom tempo o que não permite que se façam umas churrascadas, tão tradicionais por aquelas bandas e que fazem aumentar o consumo de carne de porco.

Desde o início da descida, a cotação na Bolsa do Porco tem um acumulado de -0,338€/kg carcaça. Todavia, a descida no mercado real foi superior a este valor. Há produtores que estão a vender os seus porcos a cerca de 1,50€/kg carcaça que, transferindo para preço de Peso Vivo dá aproximadamente 1,125€/kg PV. Para se ter um grau de comparação, em Lérida a cotação é 1,32€/kg PV. As vendas de carne, no mercado nacional são muito difíceis – vende-se pouca carne a preços baixos - e as exportações para a China estiveram paradas, o que ainda trouxe maiores dificuldades ao mercado português da carne.

Por outro lado, em Espanha, com a “reentrada” da sua carne no mercado europeu, tendo que entrar na “guerra” com a carne alemã muito barata, e com a forte redução dos envios para Países Terceiros, principalmente para a China, viu-se obrigada a baixar a cotação dos porcos para poder ter a carne a preços mais competitivos.

A competitividade de preço da carne espanhola não é apenas necessária para poder escoar mais carne dentro dos mercados da U.E., mas também para poder ter preço para voltar a abrir portas no mercado chinês.

A China, que desde Março desceu a cotação dos seus porcos em cerca de 60% (a cotação passou de cerca de 5,00€/kg PV para 2,05€/kg PV), passou a ter carne de produção própria mais barata fruto do aumento do efectivo e, consequentemente, do aumento da oferta interna de carne. Apesar disso, os chineses irão continuar a ter necessidade de comprar carne (muita carne mesmo) nos mercados externos. A grande questão é que quantidade de carne irão comprar e a que preço estão dispostos a comprar.

Os mercados estão muito voláteis e em poucos meses (em poucas semanas) mudam completamente de feição. Por exemplo, há meia dúzia de meses atrás o governo chinês andou a colocar carne no mercado, da sua stockqgem privada, para tentar conter os preços altos de carne de porco e, dessa forma, ajudar a travar a inflação no país. Neste momento, o governo chinês compra carne no mercado interno para ajudar a travar a descida da cotação de forma a que os produtores não vendam abaixo do custo de produção.

É nesta situação que começam a estar os produtores portugueses que, devido ao elevado preço das matérias-primas para a produção de rações, viram fortemente aumentado o seu custo de produção desde finais do ano passado, mas com principal incidência a partir do 2º trimestre deste ano.

Um dado importante a ter em conta é a perspectiva de que os chineses irão regressar às compras de carne no mercado europeu. A grande questão é saber que quantidades vão querer comprar e a que preços. Na realidade, esta é a altura em que se irão começar a fechar contratos de fornecimento de carne de porco para a China até ao ano novo chinês que será em Fevereiro. Destes contratos dependerá o futuro a curto prazo do mercado do porco europeu.

Portugal e Espanha têm preços competitivos neste momento. Veremos do que são capazes, principalmente, os espanhóis porque deles, dependemos nós e o restante mercado europeu do porco.

Em Espanha a cotação desceu 0,09€/kg PV (+0,12€/kg carcaça) para 1,32€/kg PV (1,76€/kg carcaça). Os pesos desceram mais 600g nestas duas semanas e estão ao mesmo nível de 2020. As altas temperaturas (próximas as 40ºC) que se têm feito sentir em Espanha, irão trazer algum atraso no crescimento dos porcos para abate e espera-se que dentro de 8-10 dias haja menos animais para abate. Por outro lado, havia matadouros que estavam a abater apenas 3 dias por semana e que, a partir do início do mês de Agosto voltarão a abater 5 dias por semana. Em função desta decisão, espera-se que haja alguma melhoria das condições de mercado com a consequente travagem da descida, para que haja estabilidade de forma a que possam voltar as subidas.

Na Alemanha a cotação desceu 0,06€/kg carcaça fixando-se em 1,42€/kg carcaça. Na Alemanha houve uma série de semanas em que os matadouros não cumpriram com a cotação definida pela AMI, ou seja, havia 2 preços no mercado. A decida de 6 cêntimos teve a concordância dos matadouros e neste momento voltou a haver um preço único e aceite por todo no marcado alemão. Os pesos de carcaça mantiveram-se nos 96,2kg. O aparecimento de focos de Peste Suína Africana em explorações alemãs, traz maior incerteza aos produtores ainda que não tenha trazido nenhuma alteração ao mercado. Os alemães continuam a não poder exportar para fora da U.E., mas continuam a colocar a sua carne barata no mercado interno da U.E.

Na Holanda a cotação desceu 0,05€/kg carcaça para 1,54€/kg carcaça. A oferta de porcos continua a ser muito baixa e os produtores esperam que seja suficiente para parar a descida da cotação. Mesmo assim, os matadouros dizem que a venda de carne é muito fraca e que não poderão garantir que não possam haver mais descidas.

Na Bélgica a cotação manteve-se em 0,93€/kg PV.

Na Dinamarca a cotação desceu 0,08€/kg carcaça para 1,36€/kg carcaça. Com o mercado europeu estagnado e com tendência de descida, a cotação dinamarquesa seguiu a tendência de Espanha e também desceu. A carne dinamarquesa precisa de espaço para entrar no mercado europeu e o espaço consegue-se à custa de preço. Foi isto que o mercado dinamarquês tentou obter com a descida da cotação. Veremos se será pelo aumento das vendas no mercado europeu ou se pelo aumento das vendas no mercado chinês que se recuperam as cotações na Dinamarca.

Em França a cotação desceu 0,034€/kg carcaça para se situar em 1,345€/kg carcaça. Os pesos subiram 350g para os 95kg, e estão 400g abaixo dos pesos do ano passado na mesma semana. O mercado em França está equilibrado nesta altura do ano e, por isso, as cotações pararam de descer. Veremos se realmente estabilizam para voltarem a subir rapidamente.

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