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O que sucede quando o M. hyopneumoniae entra numa população? Avaliação da infecção natural em primíparas

Alguns das principais mensagens a reter deste artigo são: M. hyo transmite-se lentamente dentro das populações expostas, mas os porcos podem excretar durante longos períodos de tempo.

Introdução

Uma componente essencial no controlo e na eliminação do Mycoplasma hyopneumoniae (M. hyo) é a avaliação da duração da excreção da bactéria nas populações de suínos, já que isso determinará o momento da introdução das porcas de substituição e, portanto. a duração do fecho da exploração. Inclusive mais importante, a referida informação permitirá o desenvolvimento de melhores estratégias para a adaptação sanitária de primíparas. Ainda que se tenha avaliado a duração da excreção em porcos infectados experimentalmente, a epidemiologia do M. hyo em populações de primíparas infectadas de forma natural continua a ser, em grande medida, desconhecida (Pieters et al, 2009; Pieters et al, na imprensa). O objectivo deste estudo foi descrever o padrão de infecção por M. hyo e a sua persistência numa população de primíparas exposta de forma natural.

Materiais e métodos

A exploração onde se realizou este estudo tinha tido, recentemente, um surto de M. hyo, depois de se ter mantido negativa durante mais de 5 anos. Neste estudo prospectivo, seleccionou aleatoriamente um grupo de 63 primíparas aos 21 dias de idade, identificaram-se através de brinco e recolheram-se amostras através de zaragatoas laríngeas semanalmente durante 5 semanas e mensalmente depois. Recolheram-se amostras de soro aos 21, 110 e 140 dias de idade. Realizou-se uma recolha de amostras final durante a sua estadia na maternidade, onde se recolheu uma amostra traqueal das porcas alvo do estudo e de 5 dos seus leitões. Preocupados pela escassa sensibilidade do método de amostragem laríngeo nas fases de infecção média a tardia, decidiu-se adoptar a recolha de amostras ao nível de traqueia a partir dos 200 dias de vida (Fablet et al, 2010). As amostras traqueais recolheram-se introduzindo a extremidade de uma cânula para inseminação artificial pós-cervical (PCAI) na traqueia. Após recolher a amostra, separou-se a peça de ligação da cânula e inseriu-se num tubo estéril tapado com 0,5 ml de PBS e refrigerou-se a 4°C. Com o objectivo de avaliar a infecção ao nível do pulmão, um total de 20 primíparas do estudo foram eutanasiadas e submetidas a um exame patológico completo. Todas as amostras laríngeas, traqueais e pulmonares foram enviadas para o Laboratório de Diagnóstico Veterinário da Universidade Estatal do Iowa e analisaram-se mediante PCR quantitativa de M. hyopneumoniae, as amostras de soro analisaram-se para anticorpos contra M. hyo mediante ELISA IDEXX.

Resultados preliminares e discussão

No decurso do estudo, 19 primíparas morreram ou foram descartadas em diferentes etapas devido a não cumprirem os critérios de selecção de primíparas (figura 1). Ao desmame, 11% das primíparas estavam infectadas e a última porca positiva só se detectou como positiva 284 dias mais tarde. Apesar do recente surto de M. hyopneumoniae, a prevalência ao desmame foi baixa. Estabeleceu-se a hipótese de que a menor prevalência poderia dever-se à administração de antibiótico via ração nas porcas, a uma estirpe de M. hyo menos virulenta ou à falta de sensibilidade do método laríngeo para a detecção precoce. A prevalência aos 80, 110, 140 e 170 dias de idade foi de 14,5%, 29,7%, 28,8% e 4,2%, respectivamente. Esta transmissão lenta e o baixo nível de exposição, inclusive num cenário de surto, representa um dos maiores desafios para o controlo do M. hyo.

Figura 1: Gráfico que mostra a detecção longitudinal de M. hyopneumoniae em primíparas.
Figura 1: Gráfico que mostra a detecção longitudinal de M. hyopneumoniae em primíparas.

A rápida redução da capacidade de detecção levou à decisão de utilizar um método de diagnóstico mais invasivo e sensível. Realizou-se uma comparação em paralelo utilizando zaragatoas laríngeas e amostras traqueais. A detecção de M. hyo em zaragatoas laríngeas foi de 8,8% em comparação com os 42,2% nas amostras traqueais aos 200 dias de idade. Aos 215 dias, 5,2% das zaragatoas laríngeas deram positivo a PCR em comparação com os 52% em amostras traqueais. Este último método de amostragem parece ser uma metodologia mais sensível para a detecção de M. hyo durante a infecção crónica (Pieters et al, na imprensa, Fablet et al., 2010). A prevalência diminuiu para 33,3%, 18,75%, 5,80%, 0% e 0% aos 245, 275, 305, 325 e 340 dias de idade, respectivamente. Quatro porcas (6,3%) permaneceram negativas por PCR ao longo do estudo; contudo; houve evidência de seroconversão em 100% das primíparas aos 140 dias. Isto revela que, ainda que 93,4% das primíparas apresentassem, pelo menos uma amostra laríngea ou traqueal positiva a PCR, nem todas as primíparas expostas foram detectadas como positivas, inclusive depois de amostragens consecutivas. Esta limitação da sensibilidade deve-se ter em conta ao desenhar estratégias de amostragem para M. hyo (ou seja, ao determinar o dia "zero" ou o de detecção antes de reabrir uma população). Finalmente, no momento de entrar na maternidade, 20 porcas e 5 dos seus leitões, prestes a serem desmamados eram negativos a PCR.

A seroprevalência aos 21 dias de vida foi de 100%, o que evidencia uma sólida transferência de anticorpos maternos da porca para o leitão. A seroprevalência aos 110 dias foi de 59,5%. Destas primíparas seropositivas, 39% foram negativas a PCR utilizando zaragatoas laríngeas. A seroconversão, geralmente, observa-se entre 4 e 8 semanas após a infecção, portanto, estes resultados indicam que o método de zaragatoas laríngeas não foi efectivo para a detecção de infecção nas amostragens anteriores. Pelo contrário, 38% das primíparas foram serologicamente negativas aos 110 dias de idade, destas, 27% inham sido previamente positivas a PCR mediante zaragatoas laríngeas entre os dias 21 e 49 de vida. Isto mostra a variabilidade na seroconversão para M. hyo e respalda o facto de que a resposta dos anticorpos é um indicador retardado de exposição. A seroprevalência aos 140 dias revelou que 100% das primíparas tinha seroconvertido, ainda que 30% das primíparas seropositivas não tenha dado um resultado positivo a PCR mediante zaragatoas laríngeas recolhidas em 8 amostragens diferentes.

A histopatologia realizada nos pulmões de 2 primíparas necropsiadas aos 215 dias de idade mostrou peribronquiolite linfocítica, congestão, com uma broncopneumonia právia de etiologia desconhecida (foto 1). Todas as amostras de pulmão e traqueia foram PCR negativas para M. hyo. Aos 245 e aos 275 dias de idade, as amostras de pulmão de 3 primíparas não apresentaram evidências macroscópicas ou histopatológicas de doença por M. hyo e todas as amostras deram negativo a PCR. Contudo, as amostras traqueais destas primíparas, recolhidas antes da eutanásia, foram PCR positivas. Esta última observação poderia indicar uma sensibilidade potencialmente mais baixa das amostras bronquiais recolhidas para a detecção de M. hyo em comparação com as amostras traqueais durante a etapa de infecção crónica.

Foto 1: Pneumonia enzoótica: lesões pulmonares macroscópicas.  Fonte: conferência de patologia, contribuição de Pat Halbur
Foto 1: Pneumonia enzoótica: lesões pulmonares macroscópicas.  Fonte: conferência de patologia, contribuição de Pat Halbur

Pontos a recordar

  1. A excreção e exposição dos leitões ao M. hyo na maternidade, inclusive após uma introdução recente numa população negativa, podem ser baixas.
  2. O pico de infecção aguda mediante zaragatoas laríngeas observou-se aos 49 dias de idade (39%). O pico de infecção crónica observou-se aos 215 dias (52%).
  3. O M. hyo transmite-se lentamente dentro das populações expostas. Inclusive durante um foco, a proporção de primíparas positivas ao mesmo tempo nunca superou os 52%.
  4. A última primípara positiva detectou-se aos 284 dias. Isto dá mais evidências de que as populações podem excretar durante longos períodos de tempo.
  5. As zaragatoas laríngeas parecem carecer de sensibilidade para a detecção de M. hyo na infecção média a tardia, como o demonstra a seroconversão juntamente com as zaragatoas de laringe negativas mediante PCR.
  6. As amostras traqueais parecem ser uma ferramenta de diagnóstico mais sensível em comparação com as zaragatoas laríngeas.
  7. A resposta dos anticorpos ao M. hyo é um indicador retardado de exposição.

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