A guerra contínua no Leste da Ucrânia, com efeito, devido ao abate de um avião comercial no passado dia 17 de Julho, esta guerra parece estar a começar a envolver mais países que não apenas a Rússia e a Ucrânia. A Argentina está à beira de um default (suspensão de pagamentos), o que faria prever um aumento da retenção de mercadoria por parte do agricultor argentino esperando ver o que dá o futuro… Posso assegurar que com este panorama internacional, noutras circunstâncias, os mercados como CBOT estariam a deitar fumo com limites de subida. Que ocorre para que não seja assim? Basicamente confirmaram-se as colheitas e são excelentes. Segundo dados do último relatório de Oferta e Procura do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (WASDE), os números ficariam assim:
- Colheita de trigo: 705 milhões de toneladas (rácio stocks final de campanha de 26,8)
- Colheita de milho: 981 milhões de toneladas (rácio stocks final de campanha/produção de 19.10%)
- Colheita de grãos de soja: 304,79 milhões de toneladas (rácios stocks finais de campanha/produção de 27,98%)
Estes stocks finais tão avultados devem-se a que levamos dois anos consecutivos com boas ou excelentes colheitas, e isso quer dizer que no final da campanha alguém ficará com estes stocks, terá que os armazenar, financiar, manter em perfeito estado, e ainda rezar para que no próximo ano a campanha seja péssima, ou má, para poder rentabilizar todos os custos…. E é um contexto pouco animador.
A todo este cenário acrescentemos que a colheita de trigo na Europa foi excelente quanto à quantidade, mas péssima quanto à qualidade. O que fez multiplicar-se a oferta de trigo forrageiro.
Bem, este é o nosso panorama. Já tínhamos falado no último comentário que a tendência do mercado era de preços estáveis ou em baixa… Devido a todos estes factores, o mercado virou-se claramente pela senda baixista. Os preços do milho entre 165-170 €/Tm no porto dependendo das posições. O trigo, graças ao forrageiro, acentuou mais a sua tendência baixista e cotiza entre 172-177 €/Tm no porto dependendo das posições. Ambos cereais podem-se cobrir com posições até Maio de 2015, ou seja, até à próxima colheita. Quanto à cevada parece que destoa o panorama de cereais, pelo menos a nível nacional. Continua nos seus treze cotando a 172-175 €/Tm destino zona Lérida/Barcelona e só para quantidades disponíveis e para Agosto. O consumo de cevada, portanto, decresce semana após semana. Diria que o futuro da cevada terá que passar inevitavelmente por uma descida de preços, a não ser que subam os demais cereais de maneira acentuada. Pelo que, como não rectifiquem os preços, corre o risco de que antes da colheita (lá parra Abril ou Maio, que já é ver longe no nosso mercado!) nos demos conta que 50% da colheita esteja armazenada e pendente de venda.
A tudo isto e para meter mais achas na fogueira, este ano, pela primeira vez em várias campanhas, não devemos perder de vista as ofertas de França. Despertaram e parece que necessitam vender milho, trigo e cevada, é por isso que cotizam abaixo dos preços do porto, pelo menos na zona norte de Espanha. Ao dia de hoje, destino Lérida, encontram-se cotações de milho a 178 €/Tm para Agosto e 172 €/Tm para colheita nova. Enquanto que a cevada cotiza a 171 €/Tm destino Girona, 174 €/Tm destino Vic e continuamos. O trigo cotiza nos 174 €/Tm destino Lérida a partir do mês de Agosto. E todavia não vimos demasiadas ofertas de triticale e sorgo que se somem aos demais.
Resumindo, o futuro é risonho quanto ao custo das matérias-primas. Quanto ao milho, deve-se ter em conta que é o cereal com um preço de garantia dentro da U.E., é por isso que o limite de descida para o milho de importação no porto se situa um pouco acima dos 160 €/Tm. E ressalto que é o único cereal que, hoje por hoje, tem um limite de preço mínimo, isto não se dá nem no trigo nem na cevada.
A proteína vai de novo por caminhos de derrota. O preço da soja para o mês de Agosto chegou a ceder até aos 362 €/Tm. Depois, seja pelo clima nos Estados Unidos ou porque os fundos tinham que cobrir posições a curto prazo no mercado, voltou a subir e cotiza perto dos 397 €/Tm, mas continuamos a confirmar que, à medida que nos aproximemos da colheita dos Estados Unidos, estes preços irã cedendo e voltaremos a preços mais acessíveis a partir de Outubro. Por outro lado começam a surgir ofertas de colza e girassol competitivas, sobretudo a colza com preços para entrega em Agosto de cerca de 222-223 €/Tm, e a baixar.
1 de Agosto de 2014