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Oferta de porcos muito inferior à procura implica subida galopante da cotação

os porcos subiram 0,25€/kg carcaça na Bolsa do Porco na segunda quinzena de Março. Desde o início de Fevereiro, altura em que as cotações começaram timidamente a subir, os porcos valorizaram-se 0,544€/kg

31 de Março de 2021

Apesar estarmos na Quaresma e de nos estarmos a aproximar da Páscoa, época em que os consumos de carne são sempre mais fracos, os porcos subiram 0,25€/kg carcaça na Bolsa do Porco na segunda quinzena de Março. Desde o início de Fevereiro, altura em que as cotações começaram timidamente a subir, os porcos valorizaram-se 0,544€/kg (aumento de 0,34€kg só em Março) carcaça na Bolsa do Porco. Se a valorização foi a mesma que os produtores tiveram pelos seus porcos no mercado real, isso já é outra conversa.

A subida referida acima, representa um aumento de receita, por parte do produtor, de 43-45€/porco abatido que permite que estes deixem de operar a preços abaixo do custo de produção para passarem a vender os seus porcos com margem positiva, apesar do forte aumento dos custos da alimentação animal, fruto da forte subida dos preços das matérias-primas.

Quem tem tido grandes dificuldades, nestas últimas semanas, têm sido os matadouros/indústrias de carne que não têm conseguido fazer repercutir nos preços da carne a valorização dos porcos. O mercado da carne precisa sempre de algum tempo para que os consumidores se adaptem aos novos preços. Mesmo assim, os produtores conseguiram fazer valer a baixa oferta de animais para abate, devido a alguma retenção de animais nas explorações para aumentarem peso de abate que também se junta um elevado ritmo de envio de porcos para abate e leitões de engorda para Espanha, para fazer diminuir a oferta e permitir os aumentos referidos acima. É a lei da oferta e da procura, baixa a oferta, aumenta o preço.

O mercado europeu anda a duas velocidades. Por um lado, a Espanha que “não tem mãos a medir” para satisfazer os pedidos chineses de carne de porco. Segundo dados da Mercolérida, a Espanha, que em 2020 representava 25% do total das exportações de carne de porco da U.E., em Janeiro exportou 41%, o que representa 20% das exportações mundiais de carne de porco. Impressionante, sem dúvida e um elemento fulcral para o que de bom se tem estado a passar no mercado português do porco.

Por outro lado, há a Alemanha que continua com a proibição de exportação para a China e com o mercado interno algo mais estagnado. Nestas últimas semanas, e após a fortes subidas do início de Março, a cotação manteve-se porque existe mais oferta de porcos para abate no mercado, suficiente para as necessidades internas e de exportação, e porque arrefeceram as expectativas relativas à abertura dos restaurantes e dos bares que foi alvo de novo adiamento devido ao recrudescer de casos positivos à Covid-19 em território alemão.

Neste momento, na Península Ibérica, as cotações de final de Março estão muito idênticas às cotações de há 1 ano atrás. A diferença é que o ano passado estavam a iniciar-se os primeiros confinamentos e agora estão para se iniciar (veremos se assim é) os segundos desconfinamentos. Para além disso, temos a perspectiva de aumento do número de cidadãos vacinados o que permitirá alguma maior segurança na circulação de pessoas a nível europeu com as evidentes vantagens para o turismo. Em todo o caso, a cotação média dos principais países produtores de porcos no 1º trimestre de 2021, foi cerca de 30% inferior à cotação média do 1º trimestre de 2020 (Alemanha, Dinamarca e Holanda), mas “apenas” de 20% em Espanha.

Todavia, e para o ano 2021, os indicadores relativos ao efectivo de suínos na U.E. são de descida o que implicará menos porcos no mercado e a tendência de que os preços se possam manter num bom nível.

Em todo o caso, neste momento há algumas situações que poderão trazer consequências negativas ao comércio mundial de carne de porco. Uma delas será o aumento de casos positivos à covid-19 entre os trabalhadores dos matadouros e das salas de desmancha na Europa. Com o desconfinamento, é natural que o número de casos positivos comece a subir com as consequências da redução dos abates e da desmancha de peças. Outra será o aumento do desemprego em toda a Europa com o fim do layoff e do eventual encerramento de empresas.

A U.E. não pode perder a possibilidade de continuar a fornecer grandes quantidades de carne de porco ao mercado asiático, em espacial ao mercado chinês, até porque os Estados unidos estão com muito menor oferta de porcos para abate e as cotações naquele país subiram enormemente, situando o preço em 2 dólares/kg carcaça (+45% do que há 1 ano atrás), preço que não era atingido desde 2014. Neste momento, a cotação nos Estados Unidos está a meio entre a cotação da Espanha e a cotação da Dinamarca, o que permite que a Europa tenha maiores possibilidades de sucesso na exportação para os mercados de Países Terceiros.

Outro dado interessante no mercado português é o aumento dos preços dos leitões, quer dos leitões para assar quer dos leitões para engorda. Estes últimos com destino, principalmente, ao mercado espanhol. A ver se o mercado do leitão continua no mesmo registo.

No que diz respeito às cotações europeias:

Em Espanha a cotação subiu 0,165€/kg PV (+0,22€/kg carcaça) na primeira quinzena de Março fixando a cotação em 1,46€/kg PV (1,947€/kg carcaça). Os pesos continuam a baixar e já se encontram num nível mais baixo que na mesma altura de 2020. O mercado espanhol, como vimos acima, está fortemente influenciado pela exportação para a China, mas os matadouros que não exportam estão a braços com as dificuldades no escoamento de carne para o mercado interno espanhol devido ao ainda encerramento da restauração e à pressão que a grande distribuição está a fazer no sentido de tentar conter os preços da carne. Além disso, estes mesmo matadouros têm a pressão da carne alemã mais barata que a espanhola, no mercado da U.E. Com esta dicotomia, a Espanha segue de vento em popa no que à cotação dos porcos diz respeito, sendo a cotação mais alta de toda a U.E. apesar do nosso vizinho ser excedentário na produção suína, apresentando um grau de auto-suficiência de 170%.

Na Alemanha a cotação subiu 0,10€/kg carcaça e passou para 1,50€/kg carcaça. Começa a haver maior oferta de porcos para abate na Alemanha e com as proibições de exportação para Países Terceiros e a não abertura dos restaurantes, o mercado arrefeceu já que existem maiores dificuldades em escoar carne e os porcos começam a ser suficientes para as necessidades do mercado alemão e para o seu nível de vendas para o exterior, seja para os restantes países da U.E. seja para alguma exportação para alguns Países Terceiros que aceitam comprar carne alemã, apesar de haver focos de Peste Suína Africana em território germânico. Os pesos de carcaça desceram 400g e encontram-se nos 97,9kg.

Na Holanda a cotação subiu 0,23€/kg carcaça para 1,67€/kg carcaça. Os matadouros holandeses queixam-.se que não consegue transferir para a carne as subidas das cotações dos porcos e alegam que começam a ter mais dificuldades em abater fruto do aumento de casos positivos de Covid-19 entre os seus trabalhadores. Isso levou a uma manutenção das cotações no final do mês de Março depois das subidas após o meado do mês. Espera-se que os restaurantes reabram o que aliado a uma menor oferta de porcos e a uma boa exportação de carne para a China possa voltar a influenciar positivamente o mercado do porco holandês.

Na Bélgica a cotação subiu 0,06€/kg PV para os 1,03€/kg PV.

Na Dinamarca a cotação subiu 0,07€/kg carcaça fixando-se em 1,41€/kg carcaça. A exportação para a Ásia está a dar um enorme impulso ao mercado dinamarquês com a China a comprar mais quantidade de carne e a preço mais elevado, estando a fechar contratos para fornecimentos com preços mais altos para entregas na segunda metade de Abril e para início de Maio. Além disso, o Japão tem os seus stocks de carne de porco em níveis baixos e as Filipinas, devido à PSA estão a comprar quatro vezes mais carne do que compraram o ano passado e não a compram à Alemanha, seu tradicional fornecedor. Esta necessidade compradora favorece a Dinamarca, para além de outros países europeus e mundiais.

Em França, a cotação subiu 0,021€/kg carcaça para os 1,352€/kg carcaça. Os pesos baixaram 800g para os 95,8kg e estão 900g abaixo dos pesos do ano passado na mesma semana. A oferta de porcos é menor, mas considerando a redução dos abates devido aos feriados da Semana Santa (6ª feria Santa e 2ª feira de Pascoela) as cotações subiram muito pouco em comparação com os restantes mercados europeus. A não abertura da restauração e a manutenção dos confinamentos também “ajudaram” a que o preço não tivesse subido.

De uma maneira geral, o mercado do porco está num bom momento. Teremos que aguardar para ver se algumas nuvens negras que estão a pairar no mercado do porco se dissipam para que o sol continue a brilhar trazendo maior fluidez ao mercado e melhoria das condições comerciais.

Quero aproveitar para desejar-vos uma Santa Páscoa!

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