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Os desafios da suinicultura europeia a curto prazo

Antonio Tavares, Presidente do COPA-COGECA fala-nos dos desafios actuais para a suinicultura europeia: a Comissão pretende acabar com o corte de caudas nos próximos 3 anos, contudo não prevê mudanças legislativas relativamente à castração.

A EU produz anualmente cerca de 112% do que consome, no que concerne à carne de porco, pelo que tem de exportar mais de três milhões de toneladas de carne, para que o mercado esteja equilibrado.

Este volume faz com que a EU seja o maior exportador mundial (gráfico 1).

Gráfico 1 – Principais exportadores mundiais (Janeiro a Agosto 2015 e 2016)
Gráfico 1 – Principais exportadores mundiais (Janeiro a Agosto 2015 e 2016)

A competitividade no mercado mundial é muito grande e partimos com alguma desvantagem, pois a legislação europeia impõe os mais elevados padrões de bem-estar e segurança alimentar, que elevam os custos de produção. Se conseguimos estas performances no mercado, é porque somos os melhores do mundo em produção.

Nos gráficos 2 e 3, mostramos um estudo da Comissão sobre o acréscimo de custos devido às diferenças da legislação entre quatro países europeus e os nossos maiores competidores, os EUA e o Brasil.

Gráfico 2 –  Diferenças de custos ambientais devido à legislação europeia.
Gráfico 2 – Diferenças de custos ambientais devido à legislação europeia.
Gráfico 3 – Diferenças de custos de bem-estar animal devido à legislação europeia.
Gráfico 3 – Diferenças de custos de bem-estar animal devido à legislação europeia.

Temos, no entanto, de estar preparados para os novos desafios que a Comissão nos quer impor, para nos adaptarmos e continuarmos a ser competitivos.

Salientamos alguns pontos que nos parecem mais importantes:

 

1. Castração

Em 2010, registou-se um grande movimento europeu, com os grupos “ditos” defensores dos animais a contestarem a castração cirúrgica dos leitões, organizando uma campanha muito forte nos média, que teve um efeito negativo no consumo da carne.

Depois de duras negociações, foi assinado um acordo entre produtores, indústria de carnes, ONG’s de defesa dos animais e Comissão, que apontava como objetivo, parar a castração cirúrgica em 2018. Volto a frisar que isto era um objetivo e não uma imposição. Para atingir este ponto, deveriam ser conseguidas uma série de premissas, nomeadamente, desenvolver métodos eficazes de deteção de odores sexuais nos matadouros.

Chamo a atenção que sempre se tratou da castração de machos e nunca houve referência às fêmeas.

Este é um grave problema, pois hoje exportamos mais de 70% para países asiáticos que querem só fêmeas e machos castrados e, há mesmo quem afirme, que aquela população tem um olfato muito apurado.

A situação atual é que as premissas não estão cumpridas, pelo que a produção se preparava para defender a continuação da castração cirúrgica, quando a Comissão veio dizer que este não era um dossier prioritário e que não iria alterar a legislação sobre a castração.

Assim, vai manter-se a legislação atual que permite a castração cirúrgica en machos feita até aos sete dias de idade sem anestesia por un veterinario o persona formada e com anestesia y analgesia prolongada a partir desta idade por un veterinario.

 

2. Materiais manipuláveis / corte de rabos

O uso de materiais manipuláveis que evite o corte de rabos é uma prioridade da Comissão, que quer, no prazo de três anos, acabar praticamente com o corte de rabos nas explorações intensivas.

Este, sim, é um grave problema para as nossas explorações do sul da Europa, em que as engordas são todas em grelhas.

As discussões em Bruxelas têm sido muito duras, pois as primeiras propostas apontavam para a obrigatoriedade do uso da palha nas engordas, o que, como é lógico, inviabilizava as engordas atuais.

Conseguiu-se a autorização de outros materiais manipuláveis, tais como a madeira, mas a Comissão insiste em que o corte sistemático de rabos tem de acabar nos próximos três anos.

As inspeções aos matadouros vão começar no final de 2017, pelo que todos os suinicultores têm de estar preparados.

 

3. Emissões gasosas

As emissões de gases para a atmosfera já estão regulamentadas e, em breve, vão passar a ser controladas. O setor em maior risco é o da bovinicultura, que é responsável pela emissão de 50% de CO2 do setor agrícola, mas o setor suinícola, com 10%, também está debaixo de fogo.

As explorações que não tiverem culturas associadas, poderão vir a ter de comprar créditos de carbono.

Problema, também, com as emissões de amoníaco das explorações suinícolas.

 

4. Peste suína africana

O problema da Peste Suína Africana (PSA) começou em Janeiro de 2014 na Lituânia em javalis, tendo-se expandido em Fevereiro do mesmo ano aos restantes países bálticos e Polónia.

Os porcos domésticos também foram afetados sendo que na primeira fase tivemos pequenas explorações familiares e depois alguma (poucas) industriais.

A Comissão nada fez para erradicar a doença, limitando-se a fixar zonas de proteção de modo a tentar controlar o transito de animais.

Estas medidas não evitaram a expansão da doença, como podemos constatar com os mapas anexos. O principal problema reside hoje na Polónia onde os produtores que estão dentro de zonas de proteção e não podem vender os seus animais para fora de zona queixam-se de que os matadores lhes pagam menos 30 a 40 cts por Kg e o governo não os ajuda a cobrir esta diferença e eles têm que fazer pela vida.

Para pressionar a Comissão para que tome medidas efetivas e rápidas, de modo a erradicar a doença na Polónia e Países Bálticos, está prevista a realização de uma conferência de alto nível em Berlim, no próximo dia 20 de Janeiro, que irá contar com a presença do Comissário Andriukatis e onde os produtores querem respostas concretas e ação imediata.

Gráficos 4, 5 e 6. Evolução dos focos de Peste Suína Africana desde 2014 até à actualidade. Fonte gráficos: Comissão Europeia
Gráficos 4, 5 e 6. Evolução dos focos de Peste Suína Africana desde 2014 até à actualidade. Fonte gráficos: Comissão Europeia

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