Nos últimos anos, têm sido profusos os estudos nutricionais que visam identificar alternativas ao uso do óxido de zinco (ZnO), cuja utilização em doses terapêuticas foi proibida pela UE em 2022, devido aos riscos que este composto representa para o ambiente, bem como ao perigo de promover a resistência antimicrobiana.
No entanto, neste novo contexto, sem ZnO, sem promotores de crescimento e com um controlo crescente e severo da utilização de antibióticos terapêuticos, pouca atenção tem sido dada à relevância do nível vitamínico dos alimentos para animais, para além do papel das vitaminas como micronutrientes essenciais.
Em geral, é bem conhecido que a deficiência de vitaminas e outros micronutrientes prejudica a força imunitária dos suínos, e em particular dos leitões, afectando tanto a resposta imunitária inata como a adaptativa, levando a deficiências na resposta global do hospedeiro a doenças infecciosas e inflamatórias. Vejamos o papel que algumas vitaminas desempenham nos diferentes níveis da resposta imunitária dos leitões, à luz de algumas descobertas científicas recentes.
Ao nível da imunidade na mucosa intestinal, tanto as células epiteliais como as células imunitárias expressam o receptor da vitamina A (RAR, receptor do ácido retinóico) e o receptor da vitamina D (VDR), mostrando que ambas as vitaminas desempenham um papel importante no apoio à integridade e funcionalidade da barreira intestinal. Neste sentido, o papel da vitamina A no desenvolvimento do epitélio do intestino delgado de leitões desmamados foi corroborado por Wang et al. (2020) num estudo em que se observou que níveis muito elevados desta vitamina na ração (16 mg/kg ou 53.333 UI/kg) conduzem a um aumento significativo da expressão do gene Lgr5+, um marcador de células estaminais no intestino delgado (figura 1).
Relativamente ao papel da vitamina D a nível intestinal, as suas principais funções incluem a redução da apoptose ou morte celular em condições inflamatórias (efeito anti-inflamatório) (He et al., 2018), bem como o aumento da expressão de genes que codificam a síntese de péptidos anti-inflamatórios, como a β-defensina, pelas células de Paneth no intestino (efeito anti-microbiano) (Lu et al., 2018).
Ainda no epitélio intestinal, a B6 atua como cofator na formação de mucinas pelas células caliciformes, devido ao seu extenso envolvimento na síntese de oligossacarídeos e proteínas (Moran, 2017). A vitamina A também está envolvida na produção de mucina, embora a vitamina B6 tenha um papel muito mais direto (Lauridsen et al., 2021).
A reacção inflamatória em resposta a doenças intestinais em animais jovens, como diarreia ou enterite, gera stress oxidativo que, embora tenha um papel antimicrobiano (por exemplo, a produção de óxido nítrico por células fagocíticas, que tem propriedade antimicrobiana), se este stress for exacerbado pode causar danos nos tecidos, prolongando a reacção inflamatória, tanto local como sistemicamente (Lauridsen, 2019; Lauridsen et al., 2021). Foi demonstrado que a inclusão de níveis elevados de vitamina C em dietas contaminadas com micotoxinas de leitões desmamados aumenta a capacidade antioxidante total no fígado (Shi et al., 2017; figura 2).
Por outro lado, foi demonstrado que a produção de espécies reactivas de oxigénio (ROS) aumenta em suínos alimentados com dietas deficientes em vitamina E e selénio (Lessard et al., 1991, 1993). Por conseguinte, as vitaminas C e E são claramente intervenientes fundamentais no controlo do stress oxidativo gerado no âmbito de perturbações intestinais em leitões. No entanto, há outra vitamina envolvida na regulação do stress oxidativo: a vitamina D. Assim, os níveis da potente enzima antioxidante endógena glutationa peroxidase aumentam significativamente em leitões desmamados quando recebem altas doses do metabolito calcidiol (25(OH)D3) na sua dieta, com o nível máximo desta enzima antioxidante no soro correspondente a uma dose de 118 microgramas de 25(OH)D3 / kg de ração (Yang et al., 2018; figura 3). O papel da vitamina D na regulação do stress oxidativo contribuiria para o seu claro efeito anti-inflamatório, anteriormente referido.
Finalmente, outra intervenção vitamínica a nível imunológico é o efeito positivo da vitamina A na resposta humoral. Assim, Hu et al. (2020) observaram que a administração de 13500 UI de vitamina A/kg de ração na dieta de leitões desmamados aumentou significativamente os níveis séricos de IgA e IgM (figura 4). A IgA é a imunoglobulina mais importante nos suínos para a imunidade das mucosas e a principal imunoglobulina durante a lactação. O papel da IgM é de grande importância como a primeira imunoglobulina de defesa na resposta humoral. Além disso, a IgM é uma imunoglobulina particularmente eficaz contra um grande número de bactérias Gram-negativas (Sánchez-Vizcaino, 2010).
Em suma, estas investigações recentes sobre a resposta a diferentes níveis de vitaminas na alimentação dos leitões desmamados mostram o efeito benéfico de níveis elevados na resposta imunitária dos animais. Neste sentido, as próprias empresas de genética estão a actualizar para cima as suas recomendações de níveis vitamínicos. Assim, considerando o cenário actual, sem ZnO e com crescentes restrições ao uso de fármacos, a revisão dos níveis de vitaminas na ração de leitões é fundamental.