Descrição da Exploração
Trata-se de uma exploração de ciclo fechado de 200 mães situada em França, concretamente na zona da Bretanha. Os animais são manejados em 7 bandas e são desmamados aos 28 dias de vida.
A maternidade é formada por 2 salas de 24 lugares enquanto que as baterias são de 3 x 250 lugares. O número de leitões desmamados por porca em produção e ano é de 27.
História Recente e Descrição do Caso
História recente
O principal problema da exploração é a persistência de uma patologia digestiva a metade da fase das baterias desde há mais de 2 anos. Esta larga duração do problema explica também a atitude do suinicutor, realmente desgostoso tendo em conta que muitos "conselheiros" se propuseram experimentar o alimento, a estratégia, a genética, e todas com resultados muito promissores!
Descrição do caso
Os problemas aparecem sempre durante o mesmo período, entre os 4 a 5 dias após a retirada da transição alimentar, quase sempre no sábado ou domingo da terceira semana após o desmame, com o aparecimento de mortalidade repentina com desidratação intensa e muito rápida em leitões com muito boa aparência (colitoxicose confirmada pelo laboratório) com ou sem diarreia, frequentemente sem tempo suficiente para poder manifestar-se.
O número de mortos varia de uma banda para a outra (de 2% até, às vezes mais de 8-10% nas bandas mais afectadas).
Realizaram-se numerosas recomendações tanto no âmbito do maneio (qualidade e duração das transições) como no alimentário (experimentaram-se vários suplementos na ração e/ou água tanto na ração de 1ª idade como de 2ª ou em ambas, obtendo resultados moderados). Não obstante, alguns tratamentos pareceram, às vezes, ter trazido melhorias mas nunca definitivas.
O diagnóstico etiológico é pois colitoxicose (ou gastroenterite hemorrágica) devida a E. coli (estirpes K88 o K4).
Descrição das Variáveis da Exploração
As variáveis estudadas são:
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Hipótese sobre a origem do Caso
Considerando:
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Realiza-se a hipótese de uma patologia que entraria dentro do quadro das patologias "de transição". No caso desta exploração relacionar-se-ia com uma alteração inadequada de alimentos mal adaptados. Torna-se necessário, pois, procurar entre os principais factores da exploração voltando às variáveis anteriores:
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Cenário mais Provável e Validação das Hipóteses
Cenário
A patologia observada corresponde a uma patologia digestiva acidental que classificamos dentro das patologias de transição para as quais o cenário mais provável, no caso concreto desta exploração, poderia ser o seguinte:
1 - Os leitões consomen perfeitamente bem o alimento de 1ª idade (crescimentos excelentes) sobretudo tendo em conta que os leitões recebem um alimento complementar na maternidade. A utilização de um suplemento do antibiótico colistina permite cobrir a colibacilose dita de desmame.
2 - O alimento de 2ª idade é menos apetecível. É nesta fase onde se torna necessário ter em conta o comportamento dos leitões. Os leitões dominantes têm um comportamento particular (numerosas deslocações aos comedouros e em particular quando há outro leitão presente; figura 1).
Figura 1: Exemplo de comportamento alimentar de dois leitões desmamados de um grupo de 10 controlados durante 7 dias nos quais o crescimento foi similar. Num mesmo parque pode-se identificar um comportamento "comilão" e um comportamento "de picar".
Comportamento "comilão" |
Comportamento "de picar" |
Esta diferença no comportamento explica, em parte, o porquê dos porcos dominantes serem verdadeiramente capazes de "escolher" o alimento em favor dos grânulos. Os "dominados" só consomem durante os períodos "vazios", frequentemente à noite.
3 - Os leitões dominantes "rejeitam" o alimento de 2ª idade, tendo um acesso, devido ao seu comportamento "de picar", o alimento de 1ª idade cada vez mais limitado. Além do mais, a transição é acompanhada de uma diminuição da cobertura antibiótica e de uma fragmentação das refeições. Cerca de 24-48 horas após finalizar a transição, os porcos dominantes, que têm fome, ingerem nesse momento uma grande quantidade de alimento necessariamente de 2ª idade. Esta ingesta de uma grande quantidade de alimento conduz a um verdadeiro "acidente" digestivo, sendo a colitoxicose o "acidente grave" e a colibacilose digestiva "banal" o "acidente benigno".
Validação das hipóteses
Para poder avaliar clinicamente as hipóteses o veterinário pôde visitar a exploração durante a semana de desmame. Os leitões encontravam-se a meio da transição. Colocaram-se grânulos de 1ª idade debaixo da ração farinada (alimento 2ª idade), tudo sobre um painel de madeira (imagem esquerda) e observou-se o comportamento dos leitões. Em poucos minutos 4 ou 5 lechones comeram todos os grânulos (imagem intermédia) enquanto que os outros só tiveram acesso mais tarde (imagem direita).
Grânulos de 1ª idade sob farinha de 2ª idade | Leitões que tiveram acesso mais tarde | |
Poucos leitões comeram todos os grânulos |
A seguinte figura, que esquematiza a evolução das necessidades qualitativas e quantitativas do alimento em função da idade (pode tratar-se de quantidade de proteínas brutas assim como da sua qualidade), ajudará a interpretar o exposto anteriormente. A zona cinza corresponde à zona de transição.
O alimento de 1ª idade (granulado) distribui-se durante largo tempo (demasiado tempo para os leitões maiores), o que é acompanhado de um efeito positivo sobre o crescimento.
O alimento de 2ª idade é muito diferente tanto em textura como em composição o que dá lugar a uma grande diferença ente ambos alimentos agravada pela duração estandarizada da distribuição do alimento de 1ª idade seja qual seja o peso dos animais.
Recomendações
A recomendação baseia-se na eleição de uma estratégia.
Foi necessário convencer o suinicultor que a patologia observada podia estar vinculada a um pequeno erro de medida generalizada nas explorações, a transição alimentar. Também era necessário que o próprio veterinário se convencesse que não existes uma única estratégia possível: todas têm vantagens e inconvenientes e/ou limitações e algumas delas são complementares.
As recomendações afectam a:
1- A duração da distribuição do alimento de 1ª idade (limite: deve estar ajustado à idade segundo o peso). Em qualquer caso, se é demasiado larga, a passagem ao alimento de 2ª idade equivale quase a um segundo desmame.
2- A textura do alimento (limite: uma compatibilidade da apresentação dos dois alimentos aumenta o preço): não há muito a eleger (grânulo e logo farinha, granulado fino e logo granulado mais grosso).
3- Escolher o alimento de 1ª idade (limite: redução do crescimento se se diminui a diferença entre as duas rações): é uma eleição que deve tomar-se tendo em conta indicadores zootécnicos (crescimento).
4- Escolher o alimento de 2ª idade para torná-lo mais compatível con o de 1ª idade (limite: o preço): igual que no caso da ração de 1ª idade, é uma eleição que deve tomar-se tendo em conta indicadores zootécnicos (crescimento).
5- Escolher um alimento intermédio (limite: maneio mais difícil): a sua eleição será feita em função dos objectivos zootécnicos estabelecidos pelo produtor.
6- Medicação (limite: não existe outra eleição que medicar através da água de bebida durante o período de risco).
Comentários
O caso deste mês, já há mais de 2 anos que afectava uma exploração de ciclo fechado de 200 mães situada na Bretanha francesa.
Na exploração, com um maneio em 7 bandas e desmame aos 28 dias de vida, observava-se desde há muito tempo uma patologia digestiva a meados da permanência nas baterias, concretamente aos 4 a 5 dias após a retirada da transição alimentar, com aparecimento de mortalidade repentina com desidratação intensa e muito rápida em leitões com muito bom aspecto.
O diagnóstico "básico" de colitoxicose foi substancialmente afinado. Com efeito, trata-se de uma patologia:
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Esta patologia obriga a utilizar os conhecimentos de etologia e esquecer por um tempo o microscópio e as placas de Petri!
Observação do redactor: o veterinário que nos proporcionou este caso plasmou durante o mês o desenvolvimento da sua exposição permitindo a evolução do "diagnóstico de base" (colitoxicose) para o de uma "patologia acidental de transição". É por isso que, excepcionalmente, o comentário do mês é reduzido e tem por objectivo, sobretudo, suscitar reflexões e um debate, tanto por parte dos suinicultores como dos veterinários.