Parece mentira mas, de há uns tempos para cá, dois ou três anos aproximadamente, é importante termos boas colheitas a nível mundial mas não é suficiente e que haver mais ou menos consumo é importante mas não é suficiente. Então, perguntam vocês, o que é que é “o importante”? Principalmente são dois os factores: o petróleo e os fundos de investimento.
Comecemos por falar do primeiro factor: o petróleo ou, mais concretamente, o preço do petróleo. A curva do preço do petróleo está estreitamente ligada com a curva dos preços dos cereais e da soja. Imagino que, seja como for à data, a produção de etanol e a de biodiesel é o que desequilibra a balança e fortalece o petróleo (ou pelo menos assim devem pensar os fundos de investimento).
O segundo factor: os fundos de investimento. Todos aqueles que, como se dizia antes, operam “em papel”, e não fisicamente, ainda que por vezes sejam os mesmos, cada vez têm mais peso específico e não podemos esquecer que para eles só existem dois princípios. O primeiro é conseguir lucros a curto prazo e o segundo é que é mais fácil fazer subir os mercados que baixá-los com base nas coberturas existentes e na situação dos mercados a nível mundial.
Todo este preâmbulo é para contar o que se passou neste último mês: mais do mesmo. No comentário anterior falei do Verão de São José, que existiu mas foi sol de pouca dura e com descidas menores que as previstas devido a vários motivos. Os principais: a falta de chuva e as perspectivas pessimistas da nova colheita em Espanha e da pouca oferta habitual neste período de Fevereiro/Março no mercado nacional. Se a isto juntarmos que as coberturas eram curtas, como não me canso de repetir mês a mês, obrigou os compradores a ir comprar antes de tempo, com o que a descida foi travada rapidamente.
Bem e agora? É curioso porque visto em perspectiva primeiro os preços pareciam afundar-se, ainda que não o tenham feito, depois parecia que escalavam mas também não se verificou e no final estamos mais ou menos onde começamos, pelo menos no que se refere às novas colheitas concerne.
No caso do mercado spot a verdade é que as subidas foram evidentes, tanto no trigo como no milho, para Abril/Maio/Junho, subindo à volta de 10€/Tm. Também é verdade que o mercado se cobriu bastante antes da subida ser tão evidente. Tenho de reconhecer que também em muito tempo os compradores tomaram posições para 3 ou 4 meses e inclusive foram tomadas posições para a nova campanha quer seja de milho, trigo ou sorgo até pelo menos Janeiro. A motivação dos compradores sobreveio pelo facto de existirem diferenças de preço de pelo menos 20/30 €/Tm e mais ou menos 20€/Tm mais baixas que as mesmas posições para a campanha anterior.
Sobretudo foram tomadas posições perante as más perspectivas e piores notícias sobre a colheita nacional(Espanha). Fala-se de 40% menos de cevada e de uma percentagem ainda não determinada de trigo (mas também pessimista). Á data parece-me exagerado falar destas percentagens mas como diz o ditado " não há fumo sem fogo".
De uma maneira geral, a respeito do futuro, estou mais confiante, por um lado existem mais coberturas do que o habitual, por outro lado o milho continua a ser o produto estrela. Outra situação viverá o trigo, na Europa dos 27 todo o trigo que resta, em princípio, é panificável e o forrageiro de outras origens está agravado em 12€/Tm. O que faz com que esteja muito mais caro que o milho. A tudo isto temos de adicionar o facto de ter começado a chover, pelo que é possível que a breve trecho toda a mercadoria que não saiu em Fevereiro e Março saia agora, o que ajudaria a ter no mercado uns preços compatíveis com o preço da carne e dos ovos.
No caso da proteína a situação está complicada, pelo menos nos próximos meses. O preço da soja subiu até aos 360€/Tm mais ou menos (refiro-me ao bagaço de 44% de proteína) e até que não comece a nova colheita Sul Americana não vejo possibilidades de alterações importantes, além do mais a colza situa-se ao redor dos 260 €/Tm e o girassol de 34/36% à volta dos 205 €/Tm, pelo que de momento não nos dão nenhuma ajuda.
Jordi Beascoechea