O controlo de qualidade consiste na execução de um protocolo que inclui análises físicas, químicas e microbiológicas para garantir a qualidade dos géneros alimentícios, bem como para prevenir, detectar e gerir os riscos.
Amostragem
O primeiro passo no controlo de qualidade é a amostragem, que é essencial para a fiabilidade dos resultados da análise e para as decisões subsequentes sobre a utilização de ingredientes e/ou alimentos para animais. O princípio básico é poder representar o material total numa pequena porção.
A figura 1 mostra uma amostragem representativa num camião a granel e em silos ensacados.
No sistema de amostragem em camião a granel, utilizar uma colher adequada à matéria-prima e inseri-la no fundo, de modo a que todos os extractos da massa sejam amostrados. Na amostragem em saco, utilizar uma colher adequada à matéria-prima e inseri-la num ângulo de cerca de 30° em relação ao fundo, de modo a que todos os extractos da massa sejam amostrados.
Análises físicas
Consistem em análises macroscópicas e organolépticas. Constituem o primeiro filtro de controlo, onde são avaliados parâmetros como: qualidade dos grãos (danificados, partidos, queimados, germinados, etc.), presença de impurezas e de insectos vivos, cor, cheiro ou textura. Apesar da sua simplicidade, do facto de não necessitarem de equipamento dispendioso e de serem de baixo custo, podem evitar grandes perdas económicas para o produtor.
Tabela 1. Parâmetros que cumprem a norma de qualidade para a comercialização de milho da Bolsa de comércio em Rosário, Argentina.
Milho duro (Colorado-Amarelo-Branco) | |||
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Parâmetro de qualidade* | Grau 1 | Grau 2 | Grau 3 |
Humidade (%) | 14,50 | 14,50 | 14,50 |
Peso hectolítrico (kg/hl) | 75,00 | 72,00 | 69,00 |
Grãos picados por insectos (%) | 3,00 | 3,00 | 3,00 |
Grãos danificados (%) | 3,00 | 5,00 | 8,00 |
Grãos partidos1 (%) | 2,00 | 3,00 | 5,00 |
Matérias estranhas (%) | 1,00 | 1,50 | 2,00 |
Sementes de Datura ferox (unidade/100g) | 2,00 | 2,00 | 2,00 |
*Tolerâncias máximas para cada grau. 1Fragmentos de grãos que passam por um crivo com orifícios circulares de 4,76 mm de diâmetro (+/- 0,013 mm), com excepção dos grãos danificados. Fonte: Bolsa de comercio de Rosario. Norma XII - Resolución SAGyP 1075/94
Outro parâmetro físico importante é o tamanho das partículas, que pode afectar positiva ou negativamente o rendimento e a saúde dos suínos, bem como o gasto energético da instalação e a correcta mistura da ração. Esta análise é efectuada através de um conjunto de peneiras sobre um vibrador, onde se obtêm os valores de DGM (diâmetro médio geométrico) e o desvio padrão.
O controlo da mistura é complementar às análises físicas essenciais. Uma mistura correcta deve garantir que uma porção de 10 gramas de alimento contém a proporção certa dos diferentes ingredientes. O método mais simples, rápido e económico para o fazer é a utilização de microtraçadores, no entanto, este método pode ter uma elevada taxa de erro (> 10%) (Klein 2016). Outro método muito preciso, mas muito mais caro, pode ser a análise de absorção atómica de microminerais como o selénio ou o manganês.
A figura 2 descreve o ensaio de qualidade da mistura passo a passo.
Tabela 2. Parâmetros de uma boa misturadora e os seus valores óptimos.
Requisitos de uma boa misturadora | |
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Parâmetro | Valor óptimo (%) |
Qualidade da mistura | ≤ 5% coeficiente de variação |
Fugas ou escapes | Não deve apresentar fugas |
Resíduos no fundo | ≤ 0,2% |
Fonte: Klein A. 2016
Análises químicas
Também conhecidas como análises bromatológicas, podem ser divididas em dois grupos principais: análises nutricionais e análises de qualidade.
As análises nutricionais permitem verificar se os alimentos transformados cumprem o perfil nutricional esperado.
Geralmente, na indústria suinícola, são analisados: humidade, proteína bruta, fibra bruta, fibra neutrodetergente, fibra ácidodetergente, extracto etéreo e cinzas, sendo a humidade um dos valores mais importantes. Uma humidade superior à especificada pode levar a perdas de estabilidade química, a um aumento da deterioração microbiológica e a uma diminuição geral da qualidade.
Algumas explorações utilizam nas suas formulações carbonato de cálcio ou concha e fosfato sob várias formas. A análise periódica do cálcio e do fósforo nestes ingredientes é essencial, especialmente o cálcio no carbonato de cálcio/concha, que pode variar continuamente.
As análises de qualidade são utilizadas para caracterizar e avaliar ingredientes e rações. Tendo em conta as matérias-primas habitualmente utilizadas nas explorações pecuárias, as análises da actividade da urease e da solubilidade proteica dos subprodutos da soja, bem como o índice de peróxidos e a acidez dos óleos e gorduras, são de importância primordial. Estes indicadores podem afectar directamente a disponibilidade e a digestibilidade das proteínas, tanto em termos de consumo de ração como de rendimento animal.
Tabela 3. Valores óptimos esperados de actividade ureásica e solubilidade da proteína para soja integral desactivada e subprodutos de soja (ex.: bagaço de soja, soja integral).
Soja integral desactivada e produtos | |
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Parâmetro | Valor óptimo |
Actividade ureásica | ≤ 0,2 |
Solubilidade da proteína (em KOH) | 80 - 85% |
Fonte: Butolo, 2002
Tabela 4. Valores óptimos esperados dos parâmetros de qualidade de óleos vegetais e gorduras animais.
Óleos vegetais e gorduras animais | |
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Parâmetro | Valor óptimo |
Odor a ranço | Ausente |
Índice de acidez | Según contrato |
Índice de peróxidos | < 10meq/kg |
Impurezas | < 0,15% |
Fonte: Fedna, 2002
É importante notar que o índice de acidez é acordado no contrato de compra da matéria-prima.
Análises microbiológicas
Estas análises fornecem informações sobre o nível de contaminação por microrganismos que podem ser prejudiciais para a saúde animal. As principais análises microbiológicas são:
- contagem geral de coliformes - um indicador importante da higiene da fábrica;
- presença de E. coli; Salmonella - são principalmente recomendadas para as matérias-primas de origem animal, que são as mais susceptíveis a uma elevada contaminação por microrganismos.
Tabela 5. Valores aceitáveis de microorganismos nas matérias-primas de origem animal.
Matérias-primas de origem animal | |
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Parâmetro | Valor óptimo |
Contagem aeróbios | < 106 ufc/g |
Contagem coliformes | < 103 ufc/g |
E. coli | Ausente ufc/g |
Salmonella | Ausente ufc/25 g |
Fonte:Fedna; 2002
Os microrganismos nem sempre causam problemas de saúde nos animais, isso vai depender do nível de contaminação e da categoria de suínos que vão consumi-los, mas são indicadores de higiene no processo de produção de ração.
As micotoxinas produzidas por fungos presentes nas matérias-primas vegetais afectam directamente a saúde e a produtividade dos suínos, pelo que são essenciais no controlo de qualidade, para definir a adequação das matérias-primas, a sua utilização estratégica e a necessidade de adicionar aditivos mico-sequestrantes. Devido ao elevado custo destas análises, não é viável analisar a totalidade das matérias-primas vegetais utilizadas, mas é necessário criar uma estratégia de amostragem e análise tão representativa quanto possível.
Tabela 6. Valores aceitáveis de micotoxinas para porcos.
Níveis de micotoxinas aceitáveis para porcos | |
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Micotoxinas | Limítes |
Zearalelona | 100 ppb |
Fumonisina | 2 ppm |
Toxina T2 | 100 ppb |
Aflatoxinas | 20 ppb |
Deoxynivalenol | 1 ppm |
Ocratoxina | 50 ppb |
Fonte: Codex alimentar (comité de Deoxynivalenol) 2003; FAO 2003
É importante salientar que as micotoxinas podem ter um efeito sinérgico umas sobre as outras, pelo que, se estiver presente mais do que uma micotoxina, é possível observar efeitos negativos nos animais, mesmo que a contaminação de cada uma esteja abaixo do nível aceitável.
Estes são os principais controlos de qualidade que devem ser efectuados para garantir a qualidade das matérias-primas e dos alimentos para animais. Sem dúvida que a sua realização representa um esforço e um custo económico, mas o custo da sua não realização é exponencialmente maior se pensarmos nos danos que podem causar aos animais.