O parâmetro comumente admitido como sendo o principal indicador da produtividade de uma exploração de porcas é o número de leitões desmamados por porca produtiva e ano (DPA) e, com base neste parâmetro, costumam-se comparar as explorações. Contudo, os DPA podem variar sem alterações nos principais indicadores de eficiência produtiva da exploração, o que pode levar a comentários como os seguintes:
— Que coisa! Logo agora que estou a fechar a exploração é quando estou a produzir mais.
— Estou a aumentar o efectivo e a exploração está a produzir pior, se sabia não aumentava.
Em ambos os casos (e noutros similares), a diferença estriba na alteração do efectivo da exploração, ou sejam, na média de porcas produtivas. Para o entender, explica-se a seguir usando um exemplo simples. Imaginemos uma exploração de 500 porcas, com 2,4 desmames/porca/ano e 12 desmamados/porca. Essa exploração terá, aproximadamente, 100 partos por mês, e aproximadamente 1200 leitões desmamados por mês. Se queremos saber os seus DPA de um mês, o cálculo que podemos fazer é:
(1200 leitões desmamados/500 porcas) x 12meses = 28,8 DPA
É o mesmo resultado que multiplicando 2,4 desmames/porca/ano x 12 leitões
Imaginemos que, no mês seguinte, a exploração sobe de efectivo em 100 porcas. Nesse mês, a exploração continuará a ter os mesmos 100 desmames, mas o seu efectivo aumentou em 100 porcas. Se calculamos o DPA neste novo mês, o resultado é o seguinte:
(1200 leitões desmamados/600 porcas) x 12meses = 24 DPA
A exploração está a produzir pior nesse mês?
Não, a sua eficácia produtiva continua a ser a mesma (a mesma taxa de partos, os mesmos desmamados por porca) mas acrescentou porcas das que ainda não se tem rendimiento sob a forma de leitões desmamados. A situação não se estabilizará até que essas porcas comecem a desmamar, ou seja, há um desfasamento de aproximadamente 5 meses entre a entrada de porcas em produção e a sua produção real sob a forma de leitões desmamados.
Esta é a razão pala qual, em explorações que estão a aumentar o efectivo (ou a arrancar), os DPA são menores que os esperados e em explorações que estão a baixar o efectivo (ou a encerrar) a situação seja inversa, os DPA são mais elevados do que o esperado.
Se não se tem em conta este efeito das variações do efectivo sobre os DPA, podem-se tirar conclusões erradas sobre a eficiência produtiva de uma exploração. A tabela seguinte mostra essas variações de DPA segundo as variações de efectivo.
Tabela 1- Efeito das variações de efectivo sobre os partos/porca/ano e os desmamados/porca/ano.
Efectivo | Estável em 500 | Sobe 50 | Sobe 100 | Baixa 50 | Baixa 100 |
Desmamados/porca | 12 | 12 | 12 | 12 | 12 |
Partos/porca/ano | 2,4 | 2,18 | 2 | 2,67 | 3 |
Desmamados/porca/ano | 28,8 | 26,2 | 24 | 32 | 36 |
Uma forma de minimizar este efeito seria, para um determinado período, dividir o número de leitões desmamados do período pela média de porcas não desse período, mas do período em que se cobriram as porcas que se estão a desmamar, ou seja, aproximadamente 4,5-5 meses antes. Contudo, como esse período é variável entre explorações, e inclusive dentro da mesma exploração, esta fórmula não costuma usar-se.
Pela mesma razão, o parâmetro "Partos por Porca e Ano" (PPA) tem variações devido a alterações no efectivo de uma exploração, tal como se vê na tabela 1. Neste caso, há um parâmetro alternativo que pode ser um indicador do ritmo produtivo na gestação e que não é afectado por alterações de efectivo. Esse parâmetro é o que nos EUA se denomina por Farrowing Index (é o parâmetro usado pela NPPC, a Associação Nacional de Suinicultores dos EUA), e que nós traduzimos por Índice de partos. A fórmula para o cálculo desse índice de partos é a seguinte:
Índice de partos = 365/intervalo médio entre partos das porcas paridas no período
Ao não se usar o efectivo na fórmula, este indicador não é afectado por alterações de efectivo, só é afectado por alterações de eficiência produtiva na gestação (por exemplo, mais retornos) ou por variações na duração da lactação ou no intervalo desmame-1ª cobrição. Ou seja, é um indicador mais fiável do ritmo e da eficiência produtiva de uma exploração.
Este artigo é um exemplo da importância de entender bem os índices chave de produção que se usam para avaliar o rendimento das explorações e o seu cálculo, para conhecer com exactidão a situação real da exploração.