Função barreira
O intestino é a primeira barreira contra os agentes patogénicos e a sua correcta funcionalidade será determinante para prevenir a infecção de bactérias patogénicas, mantendo os animais sãos e robustos (mais informação em: Elementos envolvidos na saúde intestinal).
Está descrita a capacidade de determinados microorganismos probióticos para interagir com o epitélio intestinal e melhorar a função barreira através do incremento da expressão de proteínas que formam as uniões estreitas (do inglês tight-junction) (Putaala et al., 2008), o aumento de produção de mucina (McCracken and Lorenz, 2001) e péptidos antimicrobianos como as lisozimas ou as defensinas (Schlee et al., 2008). Por outro lado, também é interessante destacar o papel dos aminoácidos treonina (componente maioritário da mucina), glutamina (combustível das células intestinais que favorece a reparação da morfologia intestinal) e arginina (intervem em importantes ciclos metabólicos). Todos eles têm um papel fundamental na manutenção da integridade intestinal e foi-lhes atribuída a capacidade de melhorar a morfologia intestinal e exercer protecção contra agentes patogénicos (Pérez y Nofrarias, 2008; Ewaschuk et al., 2011; Liu et al., 2008).
Resposta imunitária
A resposta imunitária terá, por vezes, que ser estimulada (por exemplo, no desmame ou infecções) e noutros casos terá que ser restringida (por exemplo, contra certos agentes alergénicos). Essa modulação é muito importante para se obter um bom estado de saúde intestinal, evitar que os animais adoeçam e também está directamente relacionada a outras funções vitais como a promoção de uma microbiota favorável, a absorção de água ou nutrientes, o metabolismo energético e finalmente eficiência produtiva.
A influência dos lipídios na resposta imunitária tem sido amplamente documentada, uma vez que os ácidos gordos são componentes estruturais das membranas celulares, moléculas sinalizadoras e precursores da síntese de eicosanóides (promotores da inflamação). Deste modo, a inclusão de ingredientes com ácidos gordos poliinsaturados omega 3 tem um papel muito importante na imuno-regulação.
A resposta imunitária também pode ser influenciada através de fontes de proteína de alto valor biológico como o plasma suíno atomizado, a gema de ovo ou o colostro bovino. Muito do seu efeito é devido à protecção passiva que eles transmitem aos animais devido ao seu alto conteúdo de imunoglobulinas activas mas, por sua vez, eles também são capazes de modular o sistema imunitário intestinal graças à sua riqueza em outros metabólitos activos. Um exemplo de sua capacidade de modulação foi relatado por King et al., (2007), que observaram um aumento nos linfócitos T (CD4 + e CD8 +) da lâmina própria do jejuno em animais que consumiam colostro bovino.
Por outro lado, entre os péptidos bioactivos com capacidades imunomoduladoras destaca o glicomacropéptido, com demonstrada capacidade de modular a resposta inflamatória reduzindo a expressão de citoquinas e quimioquinas pró-inflamatórias no epitélio intestinal suíno (Hermes et al., 2011). Outro exemplo seria a lactoferrina, a quem se atribui potencial anti-inflamatório e imunoestimulante em leitões (Wang et al., 2006) ou o factor de crescimento epidérmico, que pode estimular o desenvolvimento da mucosa intestinal e aumentar os níveis de IgA aderida (Lee et al., 2006).
A capacidade dos probióticos para modular a resposta imunitária também tem sido amplamente descrita. Actuam sobre o sistema imunitário do animal estimulando os receptores de reconhecimento de padrões (PRRs, do inglês Pattern Recognition Receptors) e, em particular, acredita-se que o seu efeito principal se deva à interação com os Receptores Toll-Like (TLRs). É interessante notar que dependendo da estirpe específica utilizada e sua concentração pode fornecer respostas inflamatórias, aumentando a resposta imunitária e activando a expressão de factores antimicrobianos (Wang et al., 2009); ou, pelo contrário, exercer um efeito anti-inflamatório e tolerância aos estímulos luminais (Siepert et al., 2014). Por outro lado, também lhes tem sido atribuido o papel de inferir sobre a resposta imunitária a determinados prebióticos específicos, como a lactulose (Krueger et al., 2002) ou os β-glucanos (Hahn et al., 2006). Ainda assim, considera-se que grande parte do efeito que podem exercer tanto os prebióticos como as enzimas exógenas sobre a resposta imunitária é indirecto, através da modulação da microbiota intestinal.
Outra estratégia amplamente conhecida no sector é incorporação de óxido de zinco (ZnO) a níveis supra-nutricionais ou terapêuticos (>2500 ppm). Embora seu mecanismo de acção seja desconhecido com exactidão, alguns de seus efeitos são atribuídos à sua participação em numerosas enzimas reguladoras do metabolismo e expressão génica. Os problemas de contaminação do solo com metais pesados derivados de seu uso limitam o uso do ZnO convencional. Não obstante, actualmente o mercado dispõe de produtos comerciais muito mais eficientes, como o ZnO microencapsulado com efeitos análogos a concentrações muito menores (100 ppm) (Kim et al., 2010). Prevê-se que estes novos compostos ganhem muita popularidade no futuro, já que há uma crescente pressão legislativa para parar de usar o ZnO convencional.
Para terminar, uma observação. É importante lembrar que, embora a resposta imunitária possa ser modulada através do uso de aditivos e ingredientes funcionais, a sua eficácia pode variar dependendo da situação e, em alguns casos, pode ser contraproducente, por isso devemos interpretar cada situação muito bem. O aumento da resposta imunitária pode prevenir doenças clínicas ou subclínicas, mas ao mesmo tempo tem um custo em termos de energia para o hospedeiro. Pelo contrário, a supressão da resposta imunitária pode ajudar a optimizar o uso de energia para o crescimento, mas pode ser má em situações em que os animais são desafiados. Portanto, em geral, espera-se que a resposta a esses aditivos e ingredientes seja maior quando os suínos estão stressados, têm um sistema imunitário enfraquecido ou estão em condições sanitárias desfavoráveis.