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Preços sobem galopantemente…o dos porcos não foge à regra. Dará para sair de prejuízos?

Na primeira quinzena de Março, a cotação dos porcos subiu 0,21€/kg carcaça na Bolsa do Porco.

15 de Março de 2022

Na primeira quinzena de Março, a cotação dos porcos subiu 0,21€/kg carcaça na Bolsa do Porco. Há precisamente 1 ano atrás, na primeira quinzena de Março de 2021, os porcos também subiram quase tanto como agora (na altura foram 0,19€/kg carcaça). A oferta continua a ser muito inferior à procura, quer em Portugal quer no resto da U.E. e as cotações subiram com grande significado em quase todos os países com excepção da Dinamarca e da Itália.

Apesar da subida da cotação dos porcos, continua a haver forte subida dos factores de produção como sejam a alimentação/matérias-primas, a energia (eléctrica, gás e combustível) que têm forte implicação na subida vertiginosa do custo de produção. A guerra na Ucrânia continua a ter forte impacto na economia global e na da produção pecuária em particular, visto que quer este país quer o invasor Rússia são/eram fornecedores de matérias-primas para a alimentação animal e, com as atenções viradas para o esforço de guerra e com a aplicação de sanções económicas à Rússia, não há possibilidade de termos abastecimento com origem nestes países.

A não ser que a União Europeia tome medidas rápidas que possam ajudar a controlar o preço das matérias-primas, com a criação de medidas que facilitem e permitam a vinda de matérias-primas de países do continente americano fazendo aumentar a oferta na U.E. e, consequentemente, fazer baixar as cotações, dificilmente a subida da cotação dos porcos será suficiente para cobrir os custos de produção. Pode até acontecer que os porcos cheguem a 2,50€/kg carcaça e este valor não seja suficiente para cobrir os custos de produção. A semana passada houve uma reunião em Bruxelas onde foram debatidos estes temas e onde se chegou a um acordo para permitir a vinda de milho do continente americano, mesmo daquele que não tinha permissão de entrada na U.E. Será suficiente para acalmar os mercados? Veremos!

Além disso, começam a haver pressões na opinião pública, por parte de responsáveis pelas cadeias da grande distribuição, para que a produção e a indústria tenham contenção nos preços. Ora, estes players já não é a primeira vez que tentam condicionar os preços de venda dos produtores, principalmente quando estes estão a subir. Nunca os vemos preocupados quando os produtores ou os industriais estão a perder dinheiro. É necessário que os agentes económicos estejam muito atentos a este tipo de posicionamento e de comportamento e, se for esse o caso, que coloquem os seus porcos fora do nosso país caso haja limitação de subida da cotação devido a este tipo de pressão de algum dos elos da cadeia do porco.

Pode acontecer que os matadouros não consigam fazer repercutir a subida da cotação dos porcos nos preços de venda da carne por pressão dos compradores, tal como referi acima, e este pode também ser um factor limitante à subida.

O sector da carne de porco encontra-se com problemas conjunturais complicados que se poderão tornar estruturais, até porque a economia portuguesa (e a mundial) se debate com graves problemas estruturais aos quais a Fileira do porco não é imune.

Quem irá definir a cotação dos porcos serão os consumidores. Numa economia pobre como a portuguesa, em que o salário médio estará abaixo dos 1000€/mês, os consumidores terão menos poder de aquisitivo para comprar carne cara, seja ele de porco, de aves ou de qualquer outra espécie e, ao travarem a compra de carne a partir de um determinado patamar de preço, estão a limitar a subida da cotação dos porcos. Veremos até onde o consumidor português consegue ir.

Entretanto, os pesos dos porcos em toda a Europa continuam a descer, mas por exemplo em Espanha, estão cerca de 1kg mais pesados do que há 1 ano. Apesar de a oferta de porcos ser inferior, com a subida das cotações os produtores e as empresas integradoras retêm alguns porcos para beneficiar de melhor preço de venda na semana seguinte.

No que diz respeito à evolução das cotações europeias do porco, houve subidas generalizadas em todos os mercados. Houve países que subiram o máximo que as suas Bolsas permitem (Espanha e França permitem um máximo de subida semanal – e de descida – de 0,06€ e foi isso que aconteceu. A Alemanha subiu 0,25€/kg carcaça numa só semana. As subidas são vertiginosas, os Países Baixos e a Bélgica foram atrás, como é costume.

Em Espanha a cotação subiu 0,12€/kg PV (+0,16€/kg carcaça) passando a cotação para 1,292€/kg PV (1,723€/kg carcaça). Os pesos desceram cerca de 350g nesta quinzena.

Na Alemanha a cotação subiu 0,43€/kg carcaça esta quinzena fixando-se 1,75€/kg. Os matadouros, que inicialmente não aceitaram uma subida de 5 cêntimos, acabaram por aceitar uma subida de 0,55€/kg nas 4 semanas seguintes. Cada vez se abatem menos porcos semanalmente na Alemanha. Há 3 anos abatiam-se cerca de 1 milhão de porco semanalmente. Hoje em dia abatem-se cerca de 775 mil. Os pesos mantiveram-se nos 97,2kg carcaça.

Nos Países Baixos a cotação subiu 0,28€/kg carcaça para 1,60€/kg carcaça. É difícil encontrar explicação para esta subida das cotações tendo em consideração os preços dos porcos muito baixos dos últimos meses, o excesso de carne no mercado, a carne que teve que ser congelada e a impossibilidade de fazer subir o preço da carne. De um momento para o outro, tudo mudou e passou, em poucas semanas, a haver falta de porcos e falta de carne. Seguramente que irá entrar no mercado a carne que está congelada, mas não será suficiente para travar a subida dos porcos, para já.

Na Bélgica a cotação também subiu 0,38€/kg PV passando a cotação para 1,25€/kg PV.

Na Dinamarca teve a mais curta subida de cotação de todos os países europeus, tendo apenas subido 0,08€/kg carcaça para os 1,17€/kg carcaça. A Dinamarca não tem o mercado tão desequilibrado como tem a Alemanha e por isso não consegue ter subidas tão fortes. Por outro lado, e segundo os dinamarqueses, ainda há muita carne no mercado e isso obvia a que o preço dos porcos possa subir mais, pois é impossível fazer repercutir no preço da carne subidas tão significativas.

Em França a cotação subiu 0,129€/kg carcaça para 1,415€/kg carcaça. Os pesos desceram 200g para os 96,2kg. O peso é cerca de 200g mais baixo que na mesma semana do ano passado. A subida da cotação francesa está a ir por arrasto da cotação alemã.

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