X
XLinkedinWhatsAppTelegramTelegram
1
Leia este artigo em:

Principais coinfecções no aparelho respiratório do porco

1 comentários

M. hyopneumoniae participa na maioria das co-infecções do complexo respiratório suíno. Como funciona e que efeitos tem?

Em condições de campo, os problemas respiratórios em porcos raramente são causados ​​por um único agente patogénico, o comum é que vários agentes patogénicos actuem ao mesmo tempo, que somados ao maneio e condições ambientais inadequadas, dão origem ao processo conhecido como Complexo Respiratório Suíno (CRP).

Na maioria dos casos, estão envolvidos os principais agentes primários que afectam o sistema respiratório: Vírus da Síndrome Reprodutiva e Respiratória Suína (PRRSV), Circovírus Porcino tipo 2 (PCV2) Circovírus Porcino tipo 2), Vírus da Gripe Suína (SIV) e Mycoplasma hyopneumoniae (figura 1), que serão acompanhados por bactérias oportunistas que aproveitam a infecção primária para desenvolver sua acção patogénica, como Pasteurella multocida, Bordetella bronchiseptica ou Glaesserella parasuis, entre outros.

Figura 1: Combinações de agentes patogénicos encontradas em casos de campo de CRP diagnosticados nos últimos 4 anos no Serviço de Anatomia Patológica da Faculdade de Veterinária da Universidade de Múrcia.
Figura 1: Combinações de agentes patogénicos encontradas em casos de campo de CRP diagnosticados nos últimos 4 anos no Serviço de Anatomia Patológica da Faculdade de Veterinária da Universidade de Múrcia.

Na figura 1, podemos apreciar como M. hyopneumoniae é o agente que participa na maioria das co-infecções encontradas no pulmão de animais diagnosticados em casos de CRP. Este agente patogénico, que ataca os cilios das células do epitélio de brônquios e bronquiolos, alterando o aparelho mucociliar, também provoca uma hiperplasia do tecido linfóide associado à mucosa respiratória. Ambas as acções favorecem a colonização, proliferação e mecanismos patogénicos de outros agentes, tanto primários como secundários, que afectam o aparelho respiratório do porco. Em diferentes estudos experimentais foi possível verificar que, além de favorecer a acção de outros agentes patogénicos, tende a potenciá-la, de modo que as combinações em que M. hyopneumoniae aparece tendem a ser aquelas que têm as piores consequências para os animais afectados e, portanto, para a rentabilidade da exploração.

Uma das co-infecções mais frequentes em explorações de porcos nos casos de PCR é causada por M. hyopneumoniae e PRRSV (figura 2). Nos casos em que essa co-infecção foi diagnosticada, observou-se correlação positiva entre os animais seropositivos para cada um dos dois agentes, ou seja, a maioria dos animais positivos para PRRSV também são positivos para M. hyopneumoniae. Além disso, foi possível comprovar que M. hyopneumoniae prolonga e incrementa a pneumonia produzida pelo PRRSV, o que pode ser devido a que, nos animais co-infectados com ambos os agentes patogénicos, produz-se um aumento de citoquinas pró-inflamatórias, como IL1-β, IL-8 e TNF-α, que incrementam a reacção inflamatória a nível pulmonar, mas também um aumento na síntese da IL-10, que é uma citoquina anti-inflamatória que inibe e modula a produção de outras citoquinas e que poderia permitir perpetuar o dano a nível pulmonar ao impedir que se desencadeasse uma reacção inflamatória descontrolada. A IL-10 por sua vez também é capaz de modular a resposta imunitária do animal, o que junto com a activação de outros mecanismos, altera a resposta imunitária adaptativa, favorecendo que o agente patogénico possa continuar a exercer a sua acção no pulmão durante mais tempo.

Figura 2. Pulmão de um porco co-infectado com M. hyopneumoniae e PRRSV. Pulmão não colapsado com áreas de lesão de cor castanho-avermelhado distribuídas por todo o parênquima, lesões típicas de PRRS, que apresenta ao mesmo tempo, nas zonas craneoventrais, áreas de consolidação de cor avermelhada, produzidas pela infecção de M. hyopneumoniae.
Figura 2. Pulmão de um porco co-infectado com M. hyopneumoniae e PRRSV. Pulmão não colapsado com áreas de lesão de cor castanho-avermelhado distribuídas por todo o parênquima, lesões típicas de PRRS, que apresenta ao mesmo tempo, nas zonas craneoventrais, áreas de consolidação de cor avermelhada, produzidas pela infecção de M. hyopneumoniae.

No caso da co-infecção M. hyopneumoniae e PCV2, constactou-se que M. hyopneumoniae aumenta a gravidade das lesões produzidas pelo PCV2 no pulmão e órgãos linfóides, favorecendo uma maior replicação do vírus, bem como a persistência do mesmo nos tecidos (figura 3), aumentando assim a incidência de casos de circovirose sistémica (nome que recebe actualmente o processo denominado PMWS, da sigla inglesa Postweaning Multisystemic Wasting Syndrome).

Figura 3. Pulmão de um porco co-infectado por M. hyopneumoniae e PCV2. A: Área de hiperplasia linfóide peribronquiolar causada por M. hyopneumoniae. B: Grande quantidade de antigénio de PCV2 nessa mesma área de hiperplasia linfóide.
Figura 3. Pulmão de um porco co-infectado por M. hyopneumoniae e PCV2. A: Área de hiperplasia linfóide peribronquiolar causada por M. hyopneumoniae. B: Grande quantidade de antigénio de PCV2 nessa mesma área de hiperplasia linfóide.

Em animais co-infectados com M. hyopneumoniae e SIV (Figura 4), foi observado que quando os porcos são infectados com uma estirpe pouco virulenta do vírus de gripe suína após a infecção com M. hyopneumoniae, há um aumento significativo dos sintomas e lesões pulmonares, deduzindo que o micoplasma é capaz de aumentar a virulência dessas estirpes de SIV.

Figura 4. Pulmão de um porco co-infectado com M. hyopneumoniae e SIV. Áreas de consolidação de cor vermmelha nas porções craneoventrais do pulmão e algumas outras de menor extensão nos lóbulos diafragmáticos. Nestas lesões craneoventrais co-existem as  lesões de M. hyopneumoniae e SIV, sendo impossível distingui-las macroscopicamente.
Figura 4. Pulmão de um porco co-infectado com M. hyopneumoniae e SIV. Áreas de consolidação de cor vermmelha nas porções craneoventrais do pulmão e algumas outras de menor extensão nos lóbulos diafragmáticos. Nestas lesões craneoventrais co-existem as lesões de M. hyopneumoniae e SIV, sendo impossível distingui-las macroscopicamente.

M. hyopneumoniae também aparece frequentemente associada a outras bactérias, sejam agentes primários, como Actinobacillus pleuropneumoniae (figura 5), ​​ou agentes oportunistas, como Pasteurella multocida (figura 6), aumentando a acção destes no pulmão.

Figura 5: Pulmão de um porco co-infectado com M. hyopneumoniae y A. pleuropneumoniae. áreas de consolidação craneo-ventrais de cor castanho-avermelhadas, provocada pela infecção por M. hyopneumoniae e uma lesão ovalada com fibrose pleural e zonas hemorrágicas no lóbulo diafragmático, que corresponde 
à cronicidade de um foco de necrose produzido por A. pleuropneumoniae.
Figura 5: Pulmão de um porco co-infectado com M. hyopneumoniae y A. pleuropneumoniae. áreas de consolidação craneo-ventrais de cor castanho-avermelhadas, provocada pela infecção por M. hyopneumoniae e uma lesão ovalada com fibrose pleural e zonas hemorrágicas no lóbulo diafragmático, que corresponde à cronicidade de um foco de necrose produzido por A. pleuropneumoniae.
Figura 6. Pulmão de um porco co-infectado com M. hyopneumoniae e P. multocida. Áreas de consolidação craneoventrais de cor castanho-avermelhado sobre elevadas relativamente ao resto do parênquima pulmonar que correspondem a uma lesão por P. multocida. No lóbulo craneal e bordo craneoventral do lóbulo caudal observam-se áreas avermelhadas de consolidação e de aspecto deprimido, que correspondem a lesões M. hyopneumoniae.
Figura 6. Pulmão de um porco co-infectado com M. hyopneumoniae e P. multocida. Áreas de consolidação craneoventrais de cor castanho-avermelhado sobre elevadas relativamente ao resto do parênquima pulmonar que correspondem a uma lesão por P. multocida. No lóbulo craneal e bordo craneoventral do lóbulo caudal observam-se áreas avermelhadas de consolidação e de aspecto deprimido, que correspondem a lesões M. hyopneumoniae.

Como vimos, quando M. hyopneumoniae aparece em co-infecções ao mesmo tempo que os outros agentes primários da PCR, actua potencializando e prolongando as lesões causadas por estes agentes patogénicos, portanto o seu controlo é essencial para minimizar os efeitos da PCR e reduzir as perdas económicas associadas à doença.

Comentários ao artigo

Este espaço não é uma zona de consultas aos autores dos artigos mas sim um local de discussão aberto a todos os utilizadores de 3tres3
27-Nov-2023 milene-india👏🏼👏🏼
Insere um novo comentário

Para fazeres comentários tens que ser utilizador registado da 3tres3 e fazer login

Não estás inscrito na lista A web em 3 minutos

Um resumo semanal das novidades da 3tres3.com.pt

faz login e inscreve-te na lista

Artigos relacionados

Produtos relacionados na Loja Agro-Pecuária

A loja especializada em suíno
Acoselhamento e serviço técnico
Mais de 120 marcas e fabricantes
Não estás inscrito na lista A web em 3 minutos

Um resumo semanal das novidades da 3tres3.com.pt

faz login e inscreve-te na lista