Descrição da Exploração
A exploração encontra-se situada numa zona de baixa densidade suína na zona oeste de França. Trata-se de uma exploração de 190 porcas que vende os leitões após o desmame, aos 28 dias de vida.
As fêmeas de reposição, tal como as doses de sémen procedem de fontes externas.
Estatuto sanitário:
O estatuto sanitário da exploração em geral é bom.
PRRS |
negativo
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Actinobacillus pleuropneumoniae |
negativo
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Doença de Aujeszky |
negativo
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Mycoplasma hyopneumoniae |
positivo
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Profilaxias realizadas:
Prevenção
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Porcas
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Primíparas
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Escherichia coli K88, K99 |
+
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+
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Clostridium perfringens tipo C |
+
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+
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Parvovirose |
+
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+
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Mal rubro (Erysipelothrix rhusiopathiae) |
+
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+
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Em 2002 os resultados técnicos da exploração foram muito bons:
- Índice de partos > 90%
- Desmamados por ninhada >11,3
Contudo, desconhecem-se os resultados obtidos nas explorações de transição e engorda.
Aparecimento do caso
O produtor decide pôr-se em contacto com o veterinário após uma pioria importante dos resultados da exploração
- Diminuição da fertilidade das primíparas (71 % nas 40 últimas primíparas adquiridas, aproximadamente 7 bandas).
- Diminuição da viabilidade dos leitões.
- Problemas na lactação das porcas (agalaxia).
- Nas últimas 4 bandas o número de leitões desmamados não passou dos 10 animais, com um peso médio ao desmame abaixo dos 7 kg.
- Morte de 3 porcas devido à presença de úlceras à entrada na maternidade e partos com um atraso de 8 dias em relação ao dia previsto em 4 porcas apesar de se aplicarem prostaglandinas no dia anterior à data prevista de parto.
- Na maternidade, o produtor reforçou que os problemas observados se acentuavam nas primíparas.
O veterinário programa uma visita à exploração uma semana depois da informação.
Visita à Exploração
Durante a visita o veterinário examina as diferentes unidades:
Quarentena
Desde há várias semanas, e sem realizar nenhuma consulta prévia com o veterinário, o produtor tinha decidido mudar de fornecedor de primíparas (mudança de esquema e de multiplicador).
As primíparas procedem da mesma região que a exploração e têm um elevado estatuto sanitário: indemnes a App (Actinobacillus pleuropneumoniae), Mycoplasma hyopneumoniae, Pasteurella multocida dermonecrótica, Doença de Aujeszky, PRRS e PMWS (circovirus).
Após esta mudança na origem das primíparas o produtor não modificou o protocolo de introdução que se baseia em:
- Vacinação para parvovirose e mal rubro 2 vezes num intervalo de 3 semanas.
- Exposição uma ou duas vezes antes da entrada no ciclo reprodutivo a despojos frescos e dejectos de porcas após o parto.
Durante a quarentena o comportamento das primíparas é bom e não se observa nenhuma sintomatologia particular.
Cobrição
As primíparas entram na sala de cobrição entre 4 e 5 dias antes da data prevista para realizar a I.A.
Após a mudança de genética, durante os 15 dias seguintes à mudança de local, todas as primíparas apresentam tosse, anorexia e ligeira hipertermia.
O estado de carnes é correcto e a pele das porcas apresenta um bom aspecto.
O último controle rotineiro de urina é bom: menos de 10 % das urinas com aparência turva e/ou nitritos + sobre 50 amostras colhidas durante o último terço de gestação.
Não se observam descargas vulvares durante a IA.
Gestação
À primeira vista parece que o maneio e situação da unidade são óptimos.
Não se observam anormalidades nos animais.
Os bebedouros e dosificadores, em princípio, estão limpos.
Pelo contrário, a pedido do veterinário desmontam-se alguns dos sem-fins de distribuição de ração, que são galvanizados, e observa-se uma importante presença de sujidade no interior. Alguns quase bloqueados pela presença de alimento com bolor.
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Dosificadores na unidade de gestantes
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Dosificadores nas cobrição
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Maternidade
Durante a visita à unidade de maternidade o veterinário não faz mais do que constatar os problemas que tinham alertado o produtor:
- Numerosas agalaxias quase sistemáticas nas primíparas.
- Porcas com pouco apetite.
- Ninhadas heterogéneas.
Pelo contrário, não se observaram diarreias. As salas de maternidade mantêm-se em bom estado.
Os sem-fins de distribuição de alimento, de PVC, são limpos entre lotes.
Conclusões da visita e exames complementares
Após a visita há dois elementos que chamam a atenção do veterinário e que podem explicar alguns dos problemas observados:
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Aumento muito importante do microbismo na zona próxima à sala em que se alojam as primíparas à entrada em cobrição.
Decide-se colher amostras de sangue dos animais entrados na cobrição desde há 6 semanas:
PositivosNegativosPRRS 0
10Mycoplasma hyopneumoniae 82 -
Contaminação por micotoxinas nos sem-fins de distribuição do alimento nas salas de gestação.
Por segurança, o alimento analisa-se no momento da sua entrega mas o resultado mostrou uma ausência das principais micotoxinas (aflatoxinas, zearalenona, T1 e T2). Os bolores depositados nas descidas dos sem-fins não foram examinados e a contaminação estabeleceu-se claramente de forma visual..
TRICOTECENO BTRICOTECENO AZEARALENONADeoxinivalenolNivalenolFusarenona XDiacetoxiscirpenolT2 ToxinaZearalenona< 200 ppb< 200 ppb< 200 ppb< 200 ppb< 200 ppb< 10 ppb
Diagnóstico e medidas tomadas
Diagnóstico
Tendo em conta os sintomas e lesões observados, os resultados das análises, das observações realizadas e da epidemiologia, o diagnóstico foi o seguinte: problemas reprodutivos devidos a um aumento do microbismo e à presença de micotoxinas.
Medidas tomadas
Entrada de primíparas- Início de uma vacinação contra micoplasma monodose no dia de entrada das primíparas.
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Começo de uma contaminação progressiva mediante:
- Exposição a despojos frescos em troços duas vezes por semana desde o oitavo dia após a chegada, realizando-o 2 vezes com um intervalo de 3 semanas.
- Exposição a dejectos procedentes de porcas após parto (metodologia de exposição igual à utilizada para os despojos).
- Contacto directo com porcas (1 por cada 5 primíparas). - Administração de oligoelementos e vitaminas durante os 8 primeiros dias após a entrada e novamente ao fim de um mês.
- Profilaxia à base de tilosina (400 ppm) e oxitetraciclina (1000 ppm) durante os 8 dias após a entrada em cobrição.
- Limpeza completa e imediata dos descidas galvanizados das salas de gestação. Se existe a possibilidade, mudá-los por outros de PVC. Adoptar um ritmo de limpeza semestral e elevar as descidas dos sem-fins (actualmente a parte mais baixa encontra-se a 10-15 cm do nível da água o que favorece um aumento da humidade).
- Enquanto não se realize esta limpeza, tentar que sejam as primíparas e porcas com menos peso as que utilizem as descidas menos sujas.
- Durante as três últimas semanas de gestação e a primeira após o parto distribuir de forma manual e diariamente um produto para inactivar micotoxinas.
Evolução do caso
Os problemas observados na maternidade cessaram após o parto das porcas que tinham recebido quelante de micotoxinas.
Após a limpeza das descidas dos sem-fins na nave de gestantes, a distribuição do quelante de micotoxinas foi suprimida sem que tenham reaparecido os problemas.
No que diz respeito à fertilidade e adaptação das primíparas, nas duas últimas bandas alcançou-se um índice de fertilidade de 90 % (95% nas primíparas). Além disso, não se observaram tosses nas primíparas à entrada na cobrição.
A exploração recuperou a estabilidade e espera-se que de forma rápida se alcancem novamente os rendimentos anteriores.
Comentários
Trata-se de uma exploração de 190 porcas que vende os leitões após o desmame onde aparecem problemas reprodutivos.
Este caso apresenta como relevantes vários pontos interessantes para discutir:
1- Ainda que se manifestem problemas reprodutivos, aparecem dois etiologias que não têm nada que ver uma com a outra.
As análises de laboratório não permitem realizar um diagnóstico sem uma visita a fundo à exploração. Neste caso, só o facto de desmontar as descidas dos sem-fins permitiu por em evidência a contaminação potencial da ração das porcas gestantes. As análises da ração no momento de entrada não demostraram nada.
As análises do laboratório e as visitas à exploração são dois complementos indispensáveis.
2- A introdução e adaptação dos animais de substituição não são nunca uma coisa fácil. Inclusive, para uma exploração como esta onde à priori o nível sanitário é bom, a entrada de primíparas com um elevado estatuto sanitário não está livre de riscos. De forma que, para uma patologia (micoplasmose respiratória) que dentro deste contexto poderia parecer um problema menor, as consequências foram bastante graves devido a uma profilaxia vacinal mal adaptada, um programa de adaptação insuficiente e um contacto com os reprodutores demasiado próximo ao momento da entrada em reprodução.
3- Os problemas observados durante o período próximo ao parto e relacionados com uma intoxicação por micotoxinas dá lugar a diferentes perguntas:
a. Porque foram as primíparas as primeiras a serem afectadas quando à priori estavam submetidas à mesma pressão tóxica que as demais porcas?
b. Porque não se observaram sintomas reprodutivos até à maternidade?
c. Como explicar o aparecimento de ninhadas heterogéneas e de atrasos no parto?
A primeira pergunta referente à sensibilidade das primíparas é fácil de responder. Tendo em conta que nos encontramos ante um caso de toxicidade, não se deve esquecer que a toxicidade de um produto depende da dose ingerida pelo sujeito e do seu peso vivo. De forma que temos primíparas com um menor peso e submetidas a uma mesma pressão tóxica, de forma que a quantidade de tóxico ingerido por unidade de peso vivo é pois mais elevada nestas.
Em segundo lugar, e tendo em conta que a exposição a micotoxinas só teve lugar nas naves de gestação, a estadia de 4 semanas na maternidade permitiu aos animais desintoxicarem-se e as consequências sobre o ciclo reprodutivo seguinte foram mínimas.
Finalmente, a contaminação por algumas micotoxinas pode induzir modificações circulatórias além de perturbar as relações porca-feto. Por isso, as trocas nutritivas e hormonais podem ser afectadas provocando, como neste caso, ninhadas heterogéneas e atrasos no parto respectivamente.