Variabilidade do tempo até à estabilidade
O tempo até haver estabilidade (ou TTS, nas suas siglas em inglês) é o tempo necessário para que um sítio 1 desmame leitões PCR negativos ao vírus do Síndroma Respiratório e Reprodutivo Suíno (PRRS) depois de um surto. O TTS é uma medida importante para quantificar a duração da eliminação do vírus, planificar a duração do encerramento da exploração e para avaliar as intervenções utilizadas na exploração de mães. Numa tentativa de standartizar os critérios de classificação e da estratégia para a análise da doença, Holtkamp et al. (2011) sugeriram que, para passar uma exploração para a categora de "positiva estável", era necessário obter quatro resultados de PCR negativos consecutivos em 30 leitões que estivessem prestes a serem desmamados, com 30 dias de diferença. É importante destacar que a estabilidade não significa negatividade. O conceito de estabilidade não descarta a possibilidade que o vírus ainda possa estar presente em níveis baixos na exploação, pese a ser indetectável utilizando a estratégia de análise sugerida em leitões em idade de desmame.
Que factores pode afectar o tempo até atingir a estabilidade?
Linhares et al. (2014) observaram que as explorações que levaram a cabo a inoculação de vírus vivos (IVV), durante um surto, para homogeneizar a exploração atingiram a estabilidade aproximadamente sete semanas antes que as que utilizaram vacina viva modificada. Além disso, as explorações que tinham tido um surto prévio de PRRS atingiram a estabilidade aproximadamente três semanas antes das que não tinham tido um historial de PRRS.
O vírus pode-se classificar usando três números que se definem pela posição onde três enzimas cortam o genoma do vírus PRRS. Esta nomenclatura é conhecida como padrão de fragmentos de restrição de comprimento polimórfico (RFLP). Depois de em 2014 ter aparecido o padrão RFPL 1-7-4 nos EUA, alguns relatórios anedóticos sugeriram um aumento do TTS nas explorações com surtos por 1-7-4. Recentemente, o nosso grupo observou que os surtos por 1-7-4 tinham um TTS mais longo que os surtos com outros padrões de RFLP (Sanhueza et al., 2018), o que está de acordo com uma observação prévia (Linhares et al., 2017). Em particular, os surtos de PRRS que ocorreram durante a Primavera/Verão tiveram um TTS significativamente mais longo que os surtos que se ocorreram no Outono/Inverno (figura 1).
Se bem que o TTS possa variar significativamente entre diversas empresas (Linhares et al., 2014), também pode variar entre as explorações de uma mesma empresa e os surtos na mesma exploração. Contudo, existe escassa informação sobre a magnitude e a importância relativa destas fontes de variação.
Os surtos na mesma exploração apresentam um tempo similar até à estabilidade?
Para responder a esta pergunta, trabalhámos com seis empresas situadas no Médio Oeste dos Estados Unidos. Estas empresas fazem amostragens similares para classificar a exploração como estável para o vírus PRRS, utilizando a terminologia de Holtkamp et al. (2011). Foram utilizados os surtos de PRRS declarados entre 2011 e 2017 para calcular o TTS. Para comparar o TTS dentro da mesma exploração, só se seleccionaram as explorações que tiveram, pelo menos, dois surtos de PRRS.
Em resumo, foram incluídas 53 explorações que declararam 133 surtos no estudo. A maioria das explorações (n = 35) declararam dois surtos. Onze explorações declararam três surtos, cinco explorações informaram da existência de quatro surtos e duas explorações tiveram cinco surtos. Na maioria dos casos, a intervenção utilizada para a exposição de toda a exploração depois dos surtos foi a IVV (110/117 surtos com informação sobre a intervenção). A média total de TTS foi de 43,9 semanas (última análise de PCR negativa).
A figura 2 mostra os TTS dos surtos de PRRS observados nas 53 explorações. A diferença média de TTS entre os surtos dentro da mesma exploração foi de 25,7 semanas com um intervalo de entre 0 e 160 semanas. Ainda que tenhamos tido em conta o efeito de vários factores que podem afectar o TTS (estação do ano, padrão de RFLP, ano do surto, historial prévio de PRRS e intervenção utilizada para homogeneizar a exploração), a maior parte da variação do TTS aconteceu entre surtos na mesma exploração. Por outras palavras, o TTS de dois determinados surtos na mesma exploração em diferentes momentos foi muito diferente (figura 2) e tal diferença pode-se atribuir a factores intrínsecos específicos da exploração. As diferenças de TTS entre empresas tiveram pouco impacto na variabilidade do TTS.
Que outros factores poderão explicar as diferenças do tempo até à estabilidade de dois ou mais surtos na mesma exploração?
Apesar de que as características virais (por exemplo, o padrão RFLP), a intervenção implementada após o surto, a estação do ano em que acontece o surto e a empresa podem ter influência no TTS, dois surtos de PRRS dentro da mesma exploração podem ter TTS muito diferentes. Portanto, a mesma exploração pode ter surtos com TTS curtos e longos, o que explica a frustração dos produtores e dos profissionais quando trabalham para conseguir a estabilidade. Estes resultados sugerem que é provável que outros factores, não avaliados, associados a cada surto individual (por exemplo, a gestão do surto, a temporada do surto, a experiência ou capacitação do encarregado da exploração/trabalhadores, as medidas de controlo implementadas e a biossegurança interna) tenham maior impacto no TTS e possam ainda ajudar a explicar a grande diferença do TTS entre dois surtos dentro da mesma exploração.