X
XLinkedinWhatsAppTelegramTelegram
0
Leia este artigo em:

Caso clínico: PSA numa exploração chinesa

Este caso clínico descreve como, depois de encontrar um grande número de porcos mortos e moribundos nos parques ao longo de um período de 4 dias, uma equipa de peritos veterinários diagnosticou Peste Suína Africana.

Descrição da exploração

A exploração deste caso clínico é de reprodução-multiplicação situada na região de Dongbei, no Noreste da China, que tem uma elevada densidade suína e que está situada próximo de Shenyang, na Província de Liaoning. A exploração arrancou há 3 anos, com pavilhões construídos de novos em sítio único e está delimitada por uma vedaçã em todo o seu perímetro.

Os leitões são desmamados, tanto das multípara como das primíparas, aos 21 dias e são criados em pavilhões adjacentes de transição. Cerca das 10 semanas de vida, os animais são transferidos para pavilhões separados para engorde/acabamento. A exploração tem um elevado número de trabalhadores. Também há uma pequena equipa de peritos técnicos e veterinários, com alguns consultores externos. A exploração compra a ração numa grande fábrica. Os porcos de abate são vendidos localmente em mercados de gado, a comerciantes e aos matadouros. Os cadáveres são recolhidos por camiões para serem destruídos por empresas locais.

As porcas e as primíparas recebem vacinas comerciais contra E. coli, parvovirus, mal rubro e leptospirose. Os leitões são vacinados em diversos momentos entre as 2 e as 8 semanas de vida contra a Doença de Aujesky, Mycoplasma e Febre Aftosa com vacinas comerciais.

Tal como muitas explorações na China, a taxa de mortalidade nas baterias é, geralmente, de 8-15%, principalmente devido ao PRRS e a infecções secundárias. Tanto nos parques de engorda como nos de reprodução, a mortalidade era, em geral, muito inferior (0-3%).

Fotografia 1. Exploração afectada na Província de Liaoning
Fotografia 1. Exploração afectada na Província de Liaoning
Fotografia 2. Típicos alojamentos para porcos reprodutores e de engorda/acabamento na exploração afectada
Fotografia 2. Típicos alojamentos para porcos reprodutores e de engorda/acabamento na exploração afectada

Apresentação do caso

Desde Maio e até Junho de 2018, a zona das reprodutoras tinha sido reabastecida com diversos lotes de nulíparas (até um total de 4500 porcas em idade adulta, a partir de uma idade igual ou superior aos 3 meses). Estes lotes de porcas tinha chegado com vários envios em camião, provenientes de empresas locais de reprodutoras do Noreste da China.

Desde Maio até 14 de Agosto de 2018, 18 dos 4500 animais tinham sido abatidos ou tinham morrido devido a diversos problemas endémicos (menos de 1 por semana).

A 15 de Agosto, verificou-se que vários porcos de um dos pavilhões estavam apáticos, tinham muita febre e apresentavam secreções sanguinolentas, havendo 3 animais mortos.

A 16 de Agosto, detectaram-se 10 porcos doentes e 8 mortos.

A 17 de Agosto, viram-se 150 porcos doentes e 23 mortos.

A 18 de Agosto detectaram-se 300 porcos doentes e 26 mortos.

Chegados a 19 de Agosto, contaram-se um total de 615 porcos doentes e 88 mortos.

A partir daqui, o caso clínico progrediu rapidamente, com grandes números de porcos mortos e moribundos descobertos pelos trabalhadores ao longo de um período de 4 dias.

Fotografia 3. Inúmeros porcos mortos e moribundos na exploração afectada.
Fotografia 3. Inúmeros porcos mortos e moribundos na exploração afectada.

Uma equipa de peritos veterinários dirigiu-se aos parques afectados onde estavam alojados os porcos mortos e doentes. A equipa confirmou, clinicamente, que os restantes porcos estavam, em geral, apáticos, abatidos e amontoados entre si. Estes porcos tinham febre alta (41-42ºC). As unhas tinham um aspecto normal. Muitos animais apresentavam uma secreção espumosa no focinho que, em muitos casos, continha material sanguinolento. Alguns porcos apresentavam um fluxo sanguinolento proveniente do ânus. Muitos animais apresentavam dificuldades para respirar e costumavam estar deitados lateralmente, numa tentativa de melhorar a sua respiração. A pele e a mucosa dos porcos tinha um aspecto ictérico/amarelado. Muitos porcos tinha hemorragias irregulares (petéquias) na pele do tórax e do abdómen.

Fotografia 4. Espuma sanguinolenta na secreção nasal de um porco afectado.
Fotografia 4. Espuma sanguinolenta na secreção nasal de um porco afectado.

A equipa levou a cabo necrópsias completas em vários porcos afectados, elegendo casos agudos recentes. Havia numerosas hemorragias evidentes presentes na maioria dos gânglios linfáticos. O gânglios linfáticos mesentéricos, por exemplo, tinham aspecto de um cacho de uvas grandes de cor púrpura.

A traqueia e os brônquios tinham grandes quantidades de líquido edematoso espumoso com algum sangue,confirmando-se assim a fonte da secreção nasal. Os pulmões tinham alguma congestão difusa e edema mas, de resto,estavam normais.

O fígado e o baço apresentavam um tamanho notoriamente aumentado. A vesícula biliar tinha hemorragias escuras e bastante notórias. O aumento de tamanho do baço era generalizado, com uma consistência firme e dura e com um tamanho 4 a 6 vezes o seu tamanho normal.

Havia algum líquido ascítico presente no abdómen. As lesões cutâneas (petéquias e icterícia) também se detectaram na necrópsia.

Fotografia 5. Descobertas nas necrópsias em porcos afectados. Note-se o fígado e o baço muito aumentados de tamanho.
Fotografia 5. Descobertas nas necrópsias em porcos afectados. Note-se o fígado e o baço muito aumentados de tamanho.
Fotografia 6. Descobertas nas necrópsia em porcos afectados. Notam-se as hemorragias nos gânglios linfáticos mesentéricos
Fotografia 6. Descobertas nas necrópsia em porcos afectados. Notam-se as hemorragias nos gânglios linfáticos mesentéricos

Os trabalhadores da exploração deram antibióticos na água e na ração, sem se conseguirem atingir efeitos claros.

Diagnóstico diferencial de surtos de mortalidade elevada em porcos adultos

Este caso clínico não pareceu ser congruente com um problema tóxico ou físico, como por exemplo uma electrocussão. Os surtos de mortalidade elevada em porcos adultos podem ser provocados por diversos agentes infecciosos importantes. As descobertas nos pulmões não confirmavam um diagnóstico de APP devida a Actinobacillus pleuropneumoniae. Outras possíveis causas de mortalidade elevada poderiam incluir um PRRS muito patogénico e circovirus, com infecções secundárias, ou outros agentes, como a Peste Suína Clássica devida a pestivirus. Contudo, a detecção de uma febre hemorrágica grave juntamente com uma grande esplenomegália eram muito orientativos para Peste Suína Africana (PSA).

O historial clínico e os sintomas e as descobertas nas necrópsias sugeren que uma estirpe patogénica de Peste Suína Africana (PSA) tinha colonizado a exploração nas semanas anteriores ao surto com uma elevada mortalidade.

Investigações posteriores e medidas adoptadas

A região de Dongbei, na China, tem ligações fronteiriças terrestres directas com a Rússia, que teve numerosos focos de PSA provocada pela estirpe Geórgia. Os focos russos tiveram origem em explorações próximas aos portos do Mar Negro nas que se tinham dado restos de comida dos barcos aos porcos. As análises levadas a cabo para saber qual a estirpe chinesa da PSA mostraram que é idêntica à estirpe Geórgia. Portanto, é provável que a infecção nesta exploração de Dongbei fosse proveniente das rotas comerciais e de camiões, tendo atingido explorações vizinhas e a exploração que é objecto deste estudo.

O vírus da PSA é um vírus ADN complexo e de grande tamanho, com múltiplas camadas externas e numerosos mecanismos destinados a evitar uma reacção imunológica no porco hospedeiro.

Portanto, é de esperar que o desenvolvimento de uma vacina morta ou de sub-unidades tenha pouco valor para o controlo da PSA. Ainda não teve êxito o desenvolvimento de uma vacina viva atenuada adequada para esta doença.

A chave para o controlo da PSA reside, actualmente, no despovoamento das explorações afectadas e na prevenção de novos casos através de rígidas medidas de biossegurança. O vírus da PSA transmite-se, principalmente, através do contacto com porcos infectados (incluindo os javalis) ou com materiais de suínos, como a carne de porco ou as suas vísceras. Há poucos javalis na região de Dongbei, ainda que sejam mais comuns nas regiões do Sul da China, bom como nas Províncias montanhosas.

Comentários ao artigo

Este espaço não é uma zona de consultas aos autores dos artigos mas sim um local de discussão aberto a todos os utilizadores de 3tres3
Insere um novo comentário

Para fazeres comentários tens que ser utilizador registado da 3tres3 e fazer login

Não estás inscrito na lista Última hora

Um boletim periódico de notícias sobre o mundo suinícola

faz login e inscreve-te na lista

Artigos relacionados

Produtos relacionados na Loja Agro-Pecuária

A loja especializada em suíno
Acoselhamento e serviço técnico
Mais de 120 marcas e fabricantes
Não estás inscrito na lista A web em 3 minutos

Um resumo semanal das novidades da 3tres3.com.pt

faz login e inscreve-te na lista