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A fibra na dieta é importante para o rendimento do parto e da produção de colostro

A fibra da dieta melhora a produção de colostro das porcas e reduz a duração do parto. Mas ... quantos gramas de fibra se recomendam durante a última semana antes do parto?

Nos últimos 5 anos fizeram-se avanços substanciais para entender como devemos alimentar as porcas no periparto de maneira mais adequada e a fibra na dieta parece ser benéfica para a produtividade das porcas por muitas razões. Actualmente recomenda-se fornecer entre 500 e 600 gramas de fibra às porcas diariamente durante a última semana antes do parto.

A ingesta de colostro pelos leitões é crucial para garantir a sua sobrevivência e, alimentar a porca para permitir uma elevada produção de colostro, é uma forma de melhorar a sobrevivência neonatal e reduzir, simultaneamente, o trabalho a fazer. Até agora, a crença geral era que o colostro se produzia, e estava disponível para ser consumido, assim que nascia o primeiro leitão. Em contraste com esta ideia, um estudo recente realizado na Universidade de Aarhus, Dinamarca, revelou que a lactose e a gordura presentes no colostro se produzem, de facto, durante a amamentação da mesma maneira que se produz o leite após iniciar a lactação (Feyera et al., 2019). Ainda que a demanda de energia seja menor que para a produção de leite, o nosso estudo revelou que são necessários pelo menos 1,5 kg de ração para esse processo, para além dos 2 kg necessários para a manutenção. A fibra da dieta, geralmente, reduz a concentração energética do alimento, mas pode melhorar a ingestão de colostro nos leitões e na produção de colostro das porcas quando é fornecida às porcas gestantes (Theil et al., 2014) tal e como se mostra na figura 1. O modo de acção da fibra parece estar relacionado com uma maior acumulação de gordura na almofada de gordura da glândula mamária, o que é um requisito prévio para o crescimento do tecido parenquimatoso mamário (o epitélio que produz o leite). Foram observados efeitos benéficos quando se incluiu na dieta, fibra de polpa de beterraba ou resíduos de pectina ainda que, por razões desconhecidas, a fibra da polpa de batata não estimulou a produção de colostro, apesar de que a sua solubilidade seja tão alta como a da polpa de beterraba.

Figura 1: A ingesta suficiente de colostro é crucial para que os leitões recém-nascidos se mantenham vivos e algumas fontes de fibra (por exemplo, polpa de beterraba e pectina) podem estimular a produção de colostro da porca. Neste estudo a ingesta de colostro mediu-se através de isótopos.
Figura 1: A ingesta suficiente de colostro é crucial para que os leitões recém-nascidos se mantenham vivos e algumas fontes de fibra (por exemplo, polpa de beterraba e pectina) podem estimular a produção de colostro da porca. Neste estudo a ingesta de colostro mediu-se através de isótopos.

O processo do parto é importante para a sobrevivência dos leitões e um fornecimento adequado de energia às porcas é crucial para reduzir a duração do parto e da taxa de leitões nascidos mortos (Feyera et al., 2018), que se apresenta na figura 2. Recomendam-se três refeições diárias para assegurar que as porcas não se esgotam durante o processo do parto, mas agregar fibra à dieta nas últimas duas semanas antes do parto pode reduzir a frequência de leitões nascidos mortos (Feyera et al., 2017) nas explorações onde não é possível alimentar mais que duas vezes. A razão é que a fibra fermenta no intestino posterior e isto garante uma captação de energia mais constante pelo tracto gastrointestinal e contribui para um nível mais estável de glucose no sangue, ainda que as porcas não possam comer enquanto estão a parir.

Figura 2: A duração do parto prolonga-se muito se a energia das porcas se esgotar. Normalmente, a glucose plasmática mantém-se constante em 4,5 (intervalo de 4 a 5) mmol/L, mas pouco depois da alimentação supera este nível e várias horas após a alimentação, a glucose plasmática pode ver-se comprometida se se esgota o depósito de glucogénio no fígado.
Figura 2: A duração do parto prolonga-se muito se a energia das porcas se esgotar. Normalmente, a glucose plasmática mantém-se constante em 4,5 (intervalo de 4 a 5) mmol/L, mas pouco depois da alimentação supera este nível e várias horas após a alimentação, a glucose plasmática pode ver-se comprometida se se esgota o depósito de glucogénio no fígado.

A prisão de ventre das porcas é problemático, porque as fezes no cólon podem bloquear fisicamente o canal do parto e evitar que os leitões nasçam o suficientemente rápido como para se manterem com vida. Curiosamente, a fibra também é benéfica para este facto já que promove a motilidade intestinal e previne a prisão de ventre. Esta última deve-se à capacidade de retenção de água por parte da fibra (Zhou et al., 2018a), o que torna mais macias as fezes e minimiza o risco de haver prisão de ventre.

A saúde das porcas perto do parto também parece ser melhor para as porcas que recebem fibra, ainda que isto se baseie mais em comentários de suinicultores que em evidências científicas. A menor necessidade de assistência ao parto quando lhes damos fibra pode ajudar a explicar como se pode melhorar a saúde da porca, porque a assistência ao parto é sempre associada a um maior risco de infecção. As características da fibra diferem segundo os ingredientes dos alimentos de onde são provenientes. Uma fonte de fibra utilizada comummente nos suínos é a polpa de baterraba, que é altamente fermentável nas porcas. A fermentabilidade é uma característica importante das fontes de fibra, especialmente para reduzir a duração do parto e os leitões nascidos mortos. Juntar enzimas que sejam capazes de degradar os polissacáridos não amiláceos pode ser uma forma de melhorar a digestibilidade da energia da dieta (Zhou et al., 2018b) e permitir, por conseguinte, uma dieta com partículas mais grossas, que é fundamental para evitar as úlceras estomacais.

Alimentar as porcas de forma óptima próximo ao parto consiste em entender as necessidades energéticas das porcas e fornecer quantidade suficiente de energia para permitir a produção de colostro e um parto rápido. Contudo, a alimentação ad libitum das porcas não parece ser a solução, já que isto pode aumentar o conteúdo intestinal no intestino grosso e obstaculizar fisicamente que os leitões nasçam. Actualmente, recomendamos fornecer entre 500 e 600 gramas de fibra na dieta das porcas todos os dias durante a última semana antes do parto.Isto pode-se fazer alimentando as porcas com 3,2 kg de uma dieta standard para porcas com quantidades iguais de cevada e trigo e juntando 2% de polpa de baterraba desde que as porcas entram na maternidade até ao parto. A fibra, por exemplo polpa de beterraba, pode-se fornecer como um suplemento, porque não é necessário fornecer fibra mais de uma vez por dia. Actualmente estamos a realizar um ensaio de dose-resposta para compreender melhor o nível óptimo de fibra que se deve fornecer às porcas na dieta antes do parto.

Actualmente desconhece-se a quantidade de energia que as porcas gastam na construcção do ninho imediatamente antes do parto, mas é claro que compreender as necessidades energéticas das porcas no parto é muito importante para evitar a mortalidade excessiva dos leitões. Os nossos estudos revelaram que as porcas podem esgotar a sua energia durante o parto e as curvas de alimentação recomendadas antigamente (restrição completa ou severa da alimentação) não parecem ser adequadas, já que podem comprometer a duração do parto, a taxa de nascidos mortos e a produção de colostro.

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