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Recomeçar...

Este mês Jordi Beascoechea comenta a influência dos mercados financeiros sobre o preço das matérias-primas.

Comecemos falando de cifras. Como não me canso de repetir, nunca tinha existido tanta quantidade de dinheiro a dar voltas pelo mundo e com tanta rapidez, com um único objectivo: a rentabilidade.


Actualmente estas são cifras aproximadas:


• 20 biliões de euros em fundos de investimento.
• 12 biliões de euros em fundos de pensões ou planos de reforma.
• 3 biliões em fundos soberanos.
• 3 biliões de euros, os hedge funds.


Além do mais, deve-se ter presente que os fundos especulativos, ao se moverem com posições apalancadas, opções, warrants e outras engenharias financeiras, calcula-se que apesar de representar “apenas” 3 biliões de euros, podem ter posições futuras no valor de 40/60 biliões de euros.


Toda este volume de dinheiro está a jogar constantemente ao “monopoly”: agora compro um edifício, agora vendo uma rua….mas o seu jogo é real, e afecta-nos a todos.


Investem em todos os sectores, desde dívida soberana a empresas, projectos a médio e longo prazo, mercados de matérias-primas,…


Até há relativamente pouco tempo todos estes fundos não tiveram realmente protagonismo, isto deve-se basicamente a 3 razões:


• A bonança económica, que tudo tapava, acabou-se.
• O negócio desde há uns anos tornou-se global e os avanços tecnológicos abriram as portas a novas maneiras de fazer negócios.
• A paulatina desregulação dos mercados financeiros nos Estados Unidos (desde a época dos 90 com Clinton e logo com Bush filho) e no mundo em geral.
E tudo isto vem a propósito do quê? Pois, de nada e de tudo, porque uma parte deste volume de dinheiro está a operar no mercado de matérias-primas (trigo, milho…), e em divisas (euros, dólares) e claro que afecta, e muito, o nosso mercado:
• Por um lado, as posições de futuros não se cobram a 100%, dependendo do produto só requer um investimento de 10 ou de 15%, o que permite especular com grandes quantidades de mercadoria fazendo um investimento relativamente pequeno, o que aumenta as possibilidades de conseguir a rentabilidade desejada.
• Até ao dia de hoje, a liquidez nos mercados de futuros é total, o que aumenta a sua atractividade e é um investimento refúgio.


Tudo isto quer dizer que os fundos têm influência no nosso mercado, sobretudo a curto e médio prazo. Por isso os fundamentais (produções, consumos...) são importantes a médioey longo prazo, e também a nivel de mercados mais locais, mas podem não justificar os movimentos de curto prazo (um ou dois meses).


E agora, antes que se termine o espaço, e ainda correndo o risco de me alongar mais do que o normal, queria fazer uma pequena menção sobre o dia-a-dia do mercado. Os consumos de trigo foram muito altos, como já tinha comentado, o que favoreceu que o preço tenha aumentado progressivamente. O milho, pelo contrário, como vinha de preços proibitivos, foi cedendo e pouco a pouco supõe-se que deva ceder um pouco mais.


O problema continua a ser o mesmo: a incerteza faz com que não se tomem posições, o que continua a provocar que as coberturas sejam de curto prazo.


Os portos no mar Negro continuam colapsados, devido à procura de carga de barcos, trigo que tem que estar no destino (Espanha por exemplo) antes de 30 de Setembro, se não quer ser penalizado com 30 €/ton.


Entendo que, para tomar posições de Outubro em diante, o prudente seria esperar, e ver como reage o mercado com a pressão dos cereais e o início da pressão do milho.
Estou convencido que o mercado num futuro não longiquo voltará a dar-nos oportunidades de compra.


Por outro lado, e falando de soja, uma vez mais vimos baixar o preço até aos 283-285€/ton para a soja 44%. Cada vez que o preço chegou a esses níveis ressaltou, como também aconteceu desta vez. Já sei que algum vez romperá estes níveis, mas enquanto não acontecer, cada vez que se aproxima a esses níveis eu aconselharia comprar e cobrir as necessidades de um mês pelo menos.


A colza e o girassol estão-se a mover em baixa, ante a chegada da colheita e a necessidade de colocar o sub-produto (que é a farinha, ainda que às vezes não o pareça). É um factor importante a ter em conta para não ter que depender tanto da soja. Por último está-se a falar de bases de Janeiro a Maio/2012 de farinha de soja, a -13 €/ton, esto demonstra a necessidade de vender que há por parte das fábricas extractoras, mas devemos ter presente que há muitos anos que não víamos preços tão baratos para estas posições.


Dentro de 3 ou 4 semanas analizaremos de novo e mais detidamente o mercado.

7 de septiembre de 2011

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