Trata-se de uma exploração de ciclo fechado com 500 porcas situada numa zona de alta densidade suína no oeste de França.
A exploração utiliza a auto-substituição com a compra de avós e fornece primíparas a outra exploração.
Após a compra, em 2008-2009, a exploração foi despovoada e repovoada. Os primeiros partos ocorreram em Agosto de 2009.
O maneio realiza-se em 5 bandas cada 4 semanas com desmame aos 21 dias. As doses de sémen utilizadas são compradas, bem como a alimentação, que também se adquire no exterior.
Estatuto sanitário e programa vacinal
Patógeno |
Estatuto
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Vacinação
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PRRS |
Negativo
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Não
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Mycoplasma |
Negativo
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Não
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Actinobacillus pleuropneumoniae |
Negativo
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Não
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PCV2 |
Sem sinais clínicos
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Sim (1)
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Parvovirus |
Sem sinais clínicos
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Sim (2)
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Colibacilo (K88 / K99) / Clostridium |
Presença de diarreias
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Sim (3)
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Rinite atrófica |
Sem sinais clínicos
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Não
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(1) 2 injecções em intervalos de 1 mês à chegada das primíparas e rappel 1 mês antes do parto (2) primíparas: 2 injecções com intervalo de 3 semanas (5 e 2 semanas antes da inseminação artificial) (3) primíparas: 2 injecções com intervalo de 3 semanas (6 e 3 semanas antes do parto) |
Aparecimento do Caso
O suinicultor entra em contacto com o veterinário após observar problemas de:
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Análise dos resultados técnicos
14/09/09
N° banda |
Semana de parto
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Fertilidade eco %
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Índice de partos
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NT
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NV
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NM
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Mumificados
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Desmamados
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% perdas/NV
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Qualidade dos leitões
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B1 |
32
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92,5
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88
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14,8
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13,62
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0,46
|
0,28
|
11,73
|
13,9
|
Bem
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B2 |
36
|
96
|
93
|
14,3
|
13,32
|
0,65
|
0,33
|
11,44
|
14,1
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Diarreia
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B3 |
40
|
92
|
90
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-
|
-
|
-
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-
|
-
|
-
|
-
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Fertilidade após o parto
N° banda |
Semana de parto
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% de entradas em cio
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% de retornos/ IA
|
% vazias eco/IA
|
% Fertilidade eco
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B1 |
35
|
84%
|
1,20%
|
6,00%
|
93%
|
B2 |
39
|
82,60%
|
-
|
-
|
-
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Pode observar-se que apesar dos problemas de diarreias na maternidade, o número de leitões desmamados é correcto na banda 2. De todas formas, é de notar que a qualidade dos leitões é mediana, vários leitões débeis com diarreia foram desmamados.
O problema principal está relacionado com umas entradas em cio muito delicadas. 15 porcas em 93 não entraram em cio na banda 1. Menos de 85% das porcas entraram em cio após o desmame. De todas formas, devemos comentar que uma vez realizada a IA, a fertilidade parece boa (93%).
Visita à Exploração
Maternidade
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Cobrição/Gestação | |
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Conclusões da Visita e Medidas a Tomar
Consumo das porcas na maternidade | |
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Prevenção das diarreias | |
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Balanço das análises realizados
Medidas de espessura de gordura dorsal
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A banda 3 de primíparas é muito heterogénea em relação à condição corporal. Unicamente um terço das porcas é que se encontra dentro do intervalo "objectivo" ([17 ; 19]) enquanto que outro terço apresenta um estado corporal insuficiente, se bem que apresentem um bom estado visual, o que indica que o grupo é muito musculoso.
Mais de um terço das porcas apresenta uma condição corporal muito importante (20 mm de espessura de gordura dorsal) com várias primíparas com um EGD que pode atingir os 27 mm. Uma porca demasiado gorda à entrada na maternidade é uma porca de risco. Além do risco de parto difícil, uma porca gorda tem tendência para um menor consumo durante a lactação, coisa que favorece uma perda importante de estado corporal durante este período. Esta perda de estado corporal é acompanhada muito frequentemente pelo aparecimento de chagas nas espáduas.
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No desmame observa-se como menos de 50% das porcas se situam dentro do intervalo "objectivo" [12 ; 16 ]. Há numerosas porcas muito magras (um terço das porcas tem menos de 12 mm de espessura de gordura no momento do desmame) e algumas estão demasiado magras (menos de 9 mm de EGD).
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Observa-se que várias porcas perderam mais de 5 mm de gordura na maternidade. Normalmente não deveria perder-se mais de 5 mm na maternidade com o objectivo de não penalizar o rendimento reprodutivo seguinte.
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A perda de estado corporal na maternidade determina-se em 5,1 mm de gordura em 21 dias. Este nível de perda seria tão importante com um desmame aos 28 dia. A perda de gordura máxima tolerada na maternidade deveria ser de 4 mm.
Conclusão e Necrópsias
Observa-se que o nível de perda das "porcas magras" e em "Bom estado" encontram-se dentro dos valores limite, se bem que sejam aceitáveis. O principal problema situa-se nas porcas gordas à entrada na maternidade. A perda de estado é 75% mais elevado nas porcas gordas que nas outras, coisa que mostra que quanto mais gorda é uma porca na maternidade, maior é a probabilidade que perca muita gordura durante a lactação.
A população de risco neste caso é, pois, o grupo de porcas demasiado gordas.
Necropsia
As necropsias foram realizadas em 2 leitões de 5 dias de vida.
Bacteriologia: | |
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Histologia: | |
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À luz destes resultados, torna-se difícil concluír que haja uma origem patológica bem definido.
Hipóteses e Plano de Trabalho
Enfrentamo-nos principalmente com 3 problemas:
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Plano de alimentação das primíparas | |
O primeiro objectivo é ter primíparas que tenham apetite e que consumam o alimento desde o parto. Deveria ser controlado o estado das primíparas gestantes nas próximas bandas que entrem num primeiro momento (4 e 5). O plano de alimentação das primíparas na quarentena e gestação era provavelmente demasiado elevado (2,7 kg / porca / dia). Este plano de alimentação conduziu ao desenvolvimento muscular e à deposição de gordura excessiva. Logo, chegamos ao parto com porcas com um elevado potencial (mais de 14 leitões nascidos totais) com uma capacidade leiteira real (as porcas desmamam 11,5 leitões apesar dos problemas de diarreia), mas têm um apetite muito limitado. O plano alimentar reduziu-se para 2,5 kg/dia com um ligeiro aumento durante as três semanas anteriores ao parto (2,8 kg). |
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Plano de alimentação das primíparas e entradas em cio | |
Os problemas de repetições têm provavelmente 2 origens relacionadas: um estado corporal demasiado débil no momento do desmame (as porcas com menos de 12 mm de EGD) e uma perda de estado muito importante durante a lactação (porcas que estão para ser desmamadas e no momento do desmame mas que perderam demasiadas reservas durante a lactação devido a um baixo consumo durante o parto). Torna-se necessário, pois, repensar a alimentação das primíparas. Tendo em conta o baixo consumo de ração na maternidade, a primeira lactação deve controlar-se de forma individual mediante um complemento alimentar para diminuir a perda de estado ao desmame. Depois do qual a curva de alimentação das porcas na segunda gestação deve ser corrigida para encontrar um estado de engorda normal. |
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Realizam-se modulações sobre esta curva:
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O objectivo desta curva é restablecer rapidamente o estado corporal das porcas após o desmame. Uma vez alcançado o estado óptimo, o estado mantém-se estável e estabelece-se um aumento da ração das porcas durante as três semanas antes do parto.
O nível foi diminuído para 2,3 kg para poder limitar os riscos de encontrar animais demasiado gordos no momento do parto. Isto deverá permitir aumentar de forma importante o nível de racionamento das porcas durante as três últimas semanas (de 3 a 3,5 kg/d) e assim melhorar no consumo das porcas na maternidade.
Gestão das diarreias
A etiologia das diarreias não parece bem definida. A histologia parece orientar o diagnóstico para uma origem viral. Não estamos frente a um agente patogénico clássico de diarreia neonatal (Escherichia coli, Clostridium perfringens…).
Dentro daquilo que é um repovoamento, a contaminação das primíparas foi débil antes do parto, o nível imunitário das primíparas é heterogénio. O primeiro trabalho a realizar é favorecer ao máximo a imunização das primíparas.
Além de gerir, caso a caso, a diarreia com antibióticos, estabeleceu-se a contaminação das primíparas gestantes com:
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Resultados Obtidos
O consumo das primíparas na maternidade melhorou na banda 5. Os problemas de diarreia nos leitões também melhoraram mas ainda são importantes.
As entradas em cio nesta banda também melhoraram (98%). Devemos referir que se realizou um tratamento à base de um análogo da GnRH, este tratamento parece melhorar a entrada em cio das primíparas da exploração.
Banda 1: entrada na maternidade
Estado da banda à entrada na maternidade
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À entrada na maternidade percebe-se que a tendência no estado das primíparas inverteu-se claramente. Encontramos uma banda de primíparas magras. As primíparas perderam muita condição corporal desde a primeira lactação e não recuperaram suficientemente durante o mês seguinte à inseminação.
As medidas correctoras do estado das porcas não se puderam iniciar totalmente e de forma rápida na banda 1, isso explica provavelmente o estado corporal nesta banda.
Comportamento da banda 1 na maternidade
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O consumo das porcas foi correcto. As porcas saem magras no momento do desmame (mais de 40% das porcas apresentam um estado de gordura insuficiente). Contudo, a perda de estado de gordura limita-se a esta banda (menos de 10% das porcas perderam mais de 5 mm de EGD contra os 40% da banda 3).
Isto demonstra de forma particular a importância de ter um estado corporal suficiente mas não muito elevado à entrada na maternidade.
Maneio das diarreias
O maneio das diarreias continua a ser um problema. A banda 1 não teve problemas de diarreias nas primíparas, é pois provável que a contaminação desta banda tenha sido limitada. A avaliação do comportamento dos leitões na banda 2 dará maior informação.
Entrada das porcas em cio
As entradas em cio na banda 1 (porcas de terceiro parto) foram boas. Só duas das porcas desmamadas não entraram em cio na 5ª feira seguinte ao desmame. Nesta banda, as porcas não receberam análogo da GnRH nem gonadotropina (salvo algumas porcas muito magras que receberam análogo da GnRH).
Isto mostra a importância do maneio do estado das porcas gestantes na maternidade na melhoria dos resultados reprodutivos.
Conclusão Final
Encontramo-nos ante um caso de repovoamento de uma exploração que não funcionava de forma ideal. Rapidamente apareceram problemas de diarreias e de entradas em cio.
O estado das primíparas era um problema. Encontramo-nos frente a um efectivo de primíparas heterogénio, com numerosos animais demasiado gordos e musculosos. As consequências fizeram-se notar no consumo das porcas na maternidade e em consequência sobre a lactação, na perda de condição corporal na maternidade assim como na qualidade do aparecimento do cio.
O segundo problema é inerente a todo o repovoamento, o microbismo da exploração não é estável. Apesar de um protocolo de vacinação correcto contra as diarreias neonatais, estas apareceram rapidamente. As perdas nas porcas são aceitáveis se bem que a qualidade dos leitões ao destete se tenha deteriorado. Além disso, os problemas de diarreias levaram a um debilitamento dos leitões e em consequência a uma pior estimulação da lactação da porca. Estes problemas uniram-se aos problemas de condição corporal das porcas.
Numa situação de repovoamento de uma exploração, é difícil estabilizar de forma rápida o microbismo. Torna-se necessário, pois, controlar tanto como seja possível todos os outros parâmetros: crescimento das primíparas, estado do efectivo reprodutor, protocolo de vacinação...
Comentários
Encontramo-nos ante um caso de repovoamento de uma exploração que não funcionou de forma ideal. Rapidamente apareceram problemas de diarreias e de entradas em cio. O caso aparece numa exploração de ciclo fechado com 500 mães situada numa zona de alta densidade suína no oeste de França. A exploração utiliza a auto-substituição com a compra de avós e vende primíparas a outra exploração.
No contexto desta exploração, torna-se interessante questionarmo-nos sobre a importância do microbismo e o interesse pela medição da espessura de gordura dorsal.
O repovoamento
No caso do repovoamento de uma exploração, o importante é restabelecer, o quanto antes, o microbismo da mesma.
O repovoamento realizou-se com fêmeas saneadas. É pouco provável, pois, que os problemas reprodutivos e de diarreia estejam relacionados com um agente patogénico específico, além do mais, nenhum sinal clínico preciso permite realizar um diagnóstico claro.
Encontramo-nos frente a uma situação instável:
Primíparas demasiado gordas à entrada na maternidade: | |
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Ausência de contaminação das primíparas: | |
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Problemas de entradas em cio devidos a: | |
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As medidas a tomar têm, pois, dois objectivos principais:
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Avaliação do estado das porcas: interesse pela medida da espessura de gordura dorsal
Medir a espessura de gordura dorsal permite avaliar o estado corporal das porcas. Frquentemente é difícil determinar quais são as normas a respeitar já que existe uma variabilidade natural entre as porcas. Contudo, fixar as normas é necessário para poder estabelecer objectivos claros focados para alcançar o estado ideal das porcas.
O aspecto mais importante das medidas de EGD não é o valor em si mesmo mas sim a evolução do estado em diferentes momentos. É importante que as medidas de EGD se realizem sempre pela mesma pessoa e com o mesmo aparelho para poder assim minimizar os factores de variação.
Os momentos estratégicos para medir a EGD são:
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Estas medidas devem permitir avaliar a perda de estado das porcas na lactação e a recuperação do estado após a inseminação artificial.
As normas de espessura de gordura são difíceis de definir para uma exploração. Em todo caso, devem ter-se em conta vários factores:
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Fixarem-se normas pode permitir facilitar o maneio da exploração ajustando melhor o agrupamento das porcas, em particular após o desmame (fase importante no maneio das porcas em grupo).