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Caso clínico: Rinite crónica por Bordetella

Se bem que a rinite atrófica devida a Pasteurella multocida seja a principal forma de rinite atrófica, não é a única, tal como nos ilustra este caso

4 Junho 2007
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Descrição da Exploração



O caso deste mês aparece numa exploração de multiplicação com 400 porcas que tem um bom estatuto sanitário. O maneio realiza-se em 21 bandas com desmame aos 28 dias. Os pavilhões das maternidades encontram-se separados 500 m dos de transição e engorda.

São respeitadas as medidas de biosegurança:

- Não existem exploração suínas a uma distância menor que 500 m.

- Realiza-se um controle restritivo das entradas (duche, roupa e calçado específicos).

- A exploração encontra-se completamente vedada.

- Aplicam-se sistemas de luta contra roedores e insectos.

- Existe uma separação completa do pessoal dos dois sítios.

- Quarentena exterior no sistema tudo dentro/tudo fora.

Estatuto sanitário

O nível sanitário é elevado. A exploração encontra-se indemne a:

- Doença de Aujeszky

- PRRS

- Pasteurella multocida toxigénica

- Actinobacillus pleuropneumoniae 1-9-11 e 2

Programa de profilaxia

Primíparas na quarentena : vacinação contra rinite, parvovirose, mal rubro e micoplasma.

Primíparas na gestação: vacinação anti-colibacilar e dose de rappel contra a rinite.

Porcas na maternidade: dose de rappel para parvovirose e mal rubro.

Porcas na gestação: dose de rappel anti-colibacilar e para rinite.


Aparecimento do Caso



Após obter maus resultados nos exames no matadouro dos cornetos nasais (5,9/20 em 15 dos focinhos cortados) tal e como se observa nas seguintes imagens:

1 2 e 3
4 e 5 6 e 7
8 e 9 10 e 11
12 e 13 14 e 15


Nariz CDI CDD CVI CVD Tabique Pontuação sobre 20
1 0 0 2 3 0 5
2 2 1 3 3 0 9
3 2 2 3 3 0 10
4 0 0 2 3 0 5
5 0 0 3 3 2 8
6 0 0 0 2 0 2
7 0 0 3 2 2 7
8 1 2 0 0 0 3
9 0 0 2 3 0 5
10 0 0 3 3 2 8
11 1 1 0 0 0 2
12 0 0 1 2 0 3
13 2 0 1 0 0 3
14 3 2 3 3 2 13
15 0 0 2 3 0 5
Total
88
Média
5,9
CDI: corneto dorsal esquerdo; CDD: corneto dorsal direito; CVI: corneto ventral esquerdo; CVD: corneto ventral direito.


Visita à Maternidade



Resultados técnicos

- 25 desmamados por porca presente e ano.

- 11,4 desmamados por porca e por ninhada.

- 13,8% de perdas sobre os nascidos totais.

- 9,6% de perdas sobre os nascidos vivos.

- 5,9 dias de intervalo desmame-cobrição fértil.

- 233 dias de idade à primeira cobrição.

Quarentena

- As primíparas apresentam um bom aspecto geral. Observam-se alguns casos episódicos de coxeiras que se tratam com macrólidos.

- Não se observam problemas nem digestivos nem respiratórios durante esta fase.

Gestantes confirmadas

- Não se observam sintomas particulares.

Maternidade

- Porcas: a lactação desenrola-se com normalidade e não se observam sintomas.

- Leitões: no momento do nascimento dá-se de forma sistemática preventiva uma injecção com penicilina para prevenir o aparecimento de artrites. Registam-se, apenas, 3 espirros na ninhada de uma primípara.

Durante a visita o suinicultor informa o veterinário da presença de tosse repetitiva nas porcas cada vez que se introduzem primíparas (cada 6 semanas).


Visita à Transição e à Engorda



Contagem de tosse e espirros

Idade
33
54
75
82
103
131
152
159
180
% de espirros / 3 min
1
2
2,5
3
8
10,5
4,7
4,1
1
% de tosse / 3 min
0
0
0,6
0,7
1,4
0
3,4
4,1
4,5


Durante a visita observam-se vários casos de porcos com atrasos de crescimento no final da transição e início da engorda parecidos aos sintomas de PMWS.

- Presença de conjuntivites importantes nos porcos que se encontram no final da engorda.

- Não se observam focinhos desviados.

- No final da engorda detecta-se um nível de ventilação insuficiente.

Decide-se realizar exames complementares e após a visita realiza-se um check up sanitário respiratório.


Resultados Laboratoriais



Serologias

- Elisa para Actinobacillus pleuropneumoniae 1-9-11 e 2 : 30 negativos/30 soros obtidos no final da engorda

- Elisa anticorpos antitoxina de Pasteurella multocida (DAKO) : 20 negativos/ 20 soros obtidos no final da engorda

- Seroneutralização dos anticorpos antitoxina de Pasteurella multocida no colostro de 13 porcas de diferente número de parto:

Títulos = > 12
Títulos = 9
9 porcas/13
4 porcas/13
Conclusão: boa resposta vacinal

Bacteriologia das zaragatoas nasais

Idade
67 d
82 d
96 d
131 d
144 d
Isolamento de Bordetella bronchiseptica
0/5
0/5
0/5
3/5
3/5
Isolamento de Pasteurella multocida
0/5
2/5
0/5
1/5
0/5
PCR toxina dermonecrótica
negativo
negativo

Necropsias e bacteriologia das lesões

Realizou-se a necropsia em 2 porcos de 131 dias de vida observando-se:

- Lesões nos cornetos nasais: pontuação de 4/20 e 3/20 com ausência de lesiones pulmonares.

- Isolamento de Bordetella bronchiseptica: 2/2.

- Isolamento de Pasteurella multocida: 1/2.

Resultados do antibiograma:

Bordetella bronchiseptica
Pasteurella multocida
Aminósidos Gentamicina
Sensível
Intermédia
Espectinomicina
Resistente
Resistente
Betalactaminas
Amoxicilina
Intermédia
Sensível
Cefalosporina Ceftiofur
Resistente
Sensível
Vários Tiamulina
Resistente
Quinolonas Marbofloxacina
Sensível
Sensível
Enrofloxacina
Sensível
Sensível
Flumequina
Resistente
Sensível
Macrólidos Tilosina
Resistente
Sensível
Epiramicina
Resistente
Resistente
Tilmicosina
Resistente
Intermédia
Lincosamidas Lincomicina
Resistente
Resistente
Fenicoles Florfenicol
Sensível
Sensível
Associação de sulfamidas Trimetroprim sulfa T
Resistente
Sensível
Tetraciclinas Doxiciclina
Sensível
Sensível
Tetraciclina
Sensível
Sensível



Medidas, Diagnóstico e Evolução



Após os resultados da visita decidem-se implementar os seguintes pontos:

· Reajuste dos niveis de ventilação para melhorar a renovação de ar e evitar uma ventilação abaixo do nível necessário.

· Plano antibiótico de prevenção:

- Leitões lactantes: Injecção de oxitetraciclina de larga acção aos 3 e 21 dias de vida.

- Leitões desmamados: Tratamento com oxitetraciclina à razão de 50 mg/kg de PV durante 10 dias iniciando-se no final da transição.

- Porcos de engorda: Tratamento com oxitetraciclina à razão de 50 mg/kg de PV durante 7 dias iniciando-se às 18 semanas de vida aproximadamente.

- Porcas: Tratamento sequencial das porcas com oxitetraciclina durante 5 dias a cada entrada de primíparas (cada 6 semanas) durante um período de 4 meses.

Resultados dos controles realizados em pulmões e focinhos depois do inicio das medidas anteriores

Pontuação pulmonar
Pontuação de rinite
Março 2004
0,40
7,50
Maio 2004
0,75
3,50
Outubro 2004
0,11
4,56
Dezembro 2004
0,53
4,50
Março 2005
0,52
3,86
Agosto 2005
0,42
3,50

Se bem que as pontuações obtidas para os pulmões sejam boas, em relação às lesões nos focinhos, estas permanecem praticamente iguais, ainda que sejam um pouco mais aceitáveis.

Realiza-se um novo controle mediante a recolha e análise de amostras de zaragatoas nasais, obtendo-se os seguintes resultados:

Idade 158 d
Isolamento Bordetella bronchiseptica 4/5
Isolamento Pasteurella multocida 3/5
PCR toxina dermonecrótica negativo

Ante a persistência das lesões e da presença de Bordetella bronchiseptica e Pasteurella multocida não toxigénica decide-se pôr em marcha um ensaio de autovacinação em leitões de entre 8 e 11 semanas de vida (0,4 ml/injecção) via intradérmica para minimizar as reacções vacinales ao nível do pescoço. Esta medida mostra-se realmente eficaz sobre as lesões em 2006 tal e como mostra a seguinte tabela:

Pontuação pulmonar
Pontuação de rinite
Março 2006
0,55
1,50
Maio 2006
0,25
0,60
Outubro 2006
0,30
1,10




A eficácia desta medida demonstra a existência de uma circulação horizontal de Bordetella bronchiseptica como origem dos casos de rinite.

A diminuição das lesões é acompanhada de um desaparecimento das conjuntivites no final da fase de engorda.

Finalmente, o aparecimento esporádico de casos de porcos atrasados (6% de mortalidade entre desmame e final da engorda) junto com a confirmação de PMWS leva a reflectir sobre o eventual papel do circovirus tipo 2 (PCV2) no desequilibrio imunitário ao inicio da engorda, desequilibrio que poderia explicar o desenvolvimento desta rinite crónica devida a Bordetella.


Comentários



Se bem que a rinite atrófica devida a Pasteurella multocida seja, seguramente, a principal forma de rinite atrófica, não é a única, tal e como nos ilustra este caso aparecido numa exploração de multiplicação com 400 porcas e um bom estatuto sanitário.

Neste caso concreto, os problemas de ventilação insuficiente crónica junto com uma infecção viral desestabilizante do sistema imunitário (PCV2) fizeram com que animais simplesmente portadores de Bordetella bronchiseptica acabassem por desenvolver uma verdadeira rinite.

A utilização dos perfis bacteriológicos, a partir das zaragatoas nasais, em combinação com os resultados da pontuação sobre os espirros, permitiu determinar os períodos de circulação da Bordetella bronchiseptica.

Estes casos "resistentes" a uma profilaxia clássica baseada na vacinação contra a rinite das reprodutoras são raros mas interessantes.

A utilização de uma autovacina isolada de Bordetella permitiu verificar esta circulação horizontal na engorda.

Resumindo, a aproximação clínica ante um problema de rinite atrófica numa exploração onde se vacina as reprodutoras pode ser a seguinte:

1. Verificar a qualidade da vacinação das reprodutoras (colostro).

2. Verificar o papel da Pasteurella dermonecrótica mediante serologias em animais que se encontram a finais da engorda.

3. Verificar os factores que favorecem esta problemática como a ventilação na maternidade (leitões), baterias e engorda.

4. Isolar os gérmenes dos animais portadores quando se observam espirros mediante um perfil bacteriológico a partir de zaragatoas nasais.

5. Iniciar um plano combinando a utilização de antibióticos nas fases de multiplicação do patógeno e uma imunização activa dos leitões.

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