A saúde laboral e a promoção da segurança no trabalho frequentemente não estão incluídas nos sistemas de maneio de muitas explorações. Contudo, as doenças e lesões podem ter sérios problemas económicos, físicos e de saúde emocional e impedir tanto um sistema produtivo eficiente e agradável como afectar a vida familiar. Neste artigo, enumerarei vários tipos de problemas para a saúde e a segurança dos trabalhadores e discutirei brevemente como os prevenir. Mais adiante, noutro artigo, irei tratar com mais detalhe a prevenção de determinados problemas para a saúde e a segurança.
Gases e picadelas por agulha
Em artigos anteriores foram discutidos os perigos dos gases obtidos a partir da digestão anaeróbia do efluente e as picadelas por agulha.
Risco de doença respiratória
Os problemas respiratórios são, possivelmente, o mais importante risco para a saúde dos suinicultores. Eu próprio sofri destes problemas ao trabalhar como veterinário de suínos e é a razão pela qual alterei a minha vida profissional, passando de veterinário para professor que investiga, escreve e ensina sobre saúde laboral na produção suína.
O agente mais comum que provoca doença respiratéria é o pó que se encontra no interior dos pavilhões. Este pó contém muitas substâncias potencialmente perigosas, mas o perigo mais frequente são as endotoxinas, que são substâncias que se originam na parede celular de certas bactérias existentes no pó. A endotoxina é uma substância muito irritante e inflamatória. Pode-se haver uma exposição elevada quando se classificam e carregam porcos ou noutras circunstâncias que provoquem uma quantidade pouco habitual de pó. Os sintomas nos trabalhadores que tiveram uma exposição elevada a endotoxinas podem ser parecidos aos da gripe, 4 a 6 horas após o início da jornada laboral. Os sintomas mais específicos incluem dor de cabeça, tosse, dor e mau estar muscular, febre e simplemente sensação de doença e cansaço. A maioria das pessoas recuperam em 24-48 horas, mas podem ter uma recaída em exposições posteriores. Esta condição chama-se Sindroma Tóxico por Pó Orgânico (ODTS, nas suas siglas em inglês). Esta doença não parece ser problemática a longo prazo, mas faz adoecer os trabalhadores durante um par de dias.
A exposição durante longos períodos de tempo a concentrações habituais de pó (por exemplo, trabalhar 2 ou mais horas por dia todos os dias durante 6 anos aproximadamente) pode provocar bronquite (irritação das vias respiratórias que produz tosse crónica e expectoração espessa). De forma separada ouem simultâneo com a bronquite, pode-se apresentar um problema mais sério, a chamada asma não alérgica. Esta condição é provocada por uma inflamação que faz com que as vias respiratórias se estreitem, o que dificulta a respiração. Podem-se observar chaidos e aperto no peito. Estes sintomas não desaparecerão por si mesmos. A curto prazo os sintomas podem tratar-se com medicamentos, mas o que ajuda a prevenir e reduzir os sintomas é a protecção atraves da diminuição da quantidade de pó no ar e o uso de máscaras adequadas contra o pó.
Tenha em conta que a lavagem à pressão dentro de um pavilhão produz uma grande quantidade de pó no ar, expondo o pessoal (se não estiver protegido com uma máscara contra pó/vapores) a níveis muito elevados de endotoxinas.
Ruído
Os níveis de ruído nas unidades de produção, particularmente realizando determinadas tarefas nas áreas de gestação, maternidade ou baterias ou enquanto se recolhem amostras de sangue, podem ser muito altos. Já os medi e são suficientemente altos para causar perda de audição (nível de ruído superior aos 85dBA). A figura abaixo ilustra diferentes tarefas da produção suína e o nível de ruído real ou estimado Ao medir a audição a suinicultores e noutros produtores pecuários, observei que aproximadamente 33% tem perda de audição induzida pelo ruído. A audição é um sentido que não se recupera após se ter perdido. Contudo, é possível evitar mais perdas tomando medidas para reduzir o ruído e usando uma protecção auditiva nestas unidades tão ruidosas.
Medicamentos veterinários
Actualmente na produção suína utilizam-se muitos medicamentos. Na minha opinião, os mais perigosos são as prostaglandinas e a oxitocina. A exposição de uma mulher grávida a qualquer um destes produtos pode provocar um aborto. A minha recomendação é que as mulheres grávidas não devam manipular estes produtos. Para quê correr riscos?
É claro que os antibióticos se utilizam na produção suína. Na UE e nos EUA, o uso de antibióticos em níveis inferiores aos terapêuticos como promotores de crescimento é ilegal ou muito restringido pela normativa ou por acordos de fabrico. Contudo, este não é o caso noutros paises. Quanto aos possíveis riscos para a saúde dos trabalhadores, podem desenvolver alergias aos antibióticos, já que se misturam nos alimentoe ou na água, apresentando problemas respiratórios ou cutâneos. Alé disso, a administração prolongada de antibióticos num determinado ambiente pode gerar bactérias resistentes que produzem infecções difíceis de tratar nos trabalhadores, bem como nos porcos. Um exemplo recente é o Staphylococcus aureus resistente à meticilina. A nossa investigação demonstrou que uma elevada percentagem de porcos e de trabalhadores das suiniculturas têm este organismo, que pode conduzir a infecções resistentes.
Psicossocial
A saúde mental é um tema importante em torno da produção agrícola na maioria dos países e, sem dúvida, na produção suína. A razão principal é o stress devido a resultados económicos incertos. A produção de produtos agrícolas básicos sobrevive num mercado global competitivo e difícil, que mantém os preços da carne de porco relativamente baixos, em comparação com os crescentes custos de produção.
O stress também se pode somar a surtos de doenças, avarias nas instalações e nos equipamentos, desastres naturais (ventos fortes, incêndios, etc.) e problemas laborais. Os problemas familiares e da sociedade podem aumentar a carga de stress. A longo prazo o stress pode levar à depressão que, se não for tratada, pode conduzir a um maneio deficiente da exploração, a problemas familiares e incluivamente ao suicídio. O reconhecimento e gestão do stress é essencial para prevenir um problema pior, que é a depressão. Um estudo recente do nosso grupo demonstrou que os suinicultores têm um muito maior risco de suicídio do que a restante população em geral. (Ver o gráfico que compara os suicídios dos agricultores com a população em geral).
Infecções
As pessoas e os porcos podem partilhar vários agentes infecciosos. A gripe, o Streptococcus aureus resistente à meticilina (anteriormente mencionado), o Streptococcus suis e a leptospirose são apenas algumas destas infecções.
Prevenção
Todos os riscos mencionados anteriormente podem-se prevenir ou, pelo menos, são susceptíveis de serem reduzidos. No próximo artigo, irei abordar as ferramentas práticas e comuns de gestão de riscos para suinicultores e os seus empregados.
Mais informação
Os seguintes artigos podem dar mais informação sobre os temas anteriores:
- Em geral, o livro: Agricultural Medicine: Rural Occupational Health, Safety and Prevention, Kelley Donham and Anders Thelin, 2016, Wiley and Sons.
- Riscos respiratórios em suinicultores:
- Perda de audição induzida pelo ruído:
- Saúde mental em produtores pecuários:
- Onwuamze, OE, Paradiso, S, Peek-Asa, Donham, K, Rautiainen, RH. Modifiable risk factors for depressed mood among farmers. Onwuamze et. al. Am J Clin Psychiatry, 25(2): 83-90, 2013.
- Trends and Characteristics of Occupational Suicide and Homicide in Farmers and Agricultural Workers, 1992 – 2010. J. Rural Health (2017) doi:1111/jrh.12245