Devido à crescente importância da biossegurança em todo o mundo, conseguimos avaliar os riscos potenciais de contaminação e disseminação de doenças de muitas explorações em diferentes países da Europa, Ásia e América.
A priori, a ideia que se pode ter é que as situações encontradas são muito diferentes e cada exploração é um cenário totalmente diferente do anterior. Porém, constantemente, são observados uma série de problemas de biossegurança que não compreendem o país, cultura, tipo ou tamanho da exploração.
Neste artigo, queremos apresentar os 4 erros mais frequentes (ilustrados com exemplos reais) que são encontrados em praticamente todas as explorações avaliadas. Surpreendentemente, todos eles são conceptuais, muito mais ligados à interpretação que se faz da biossegurança do que à falta de aplicação de medidas ou erros técnicos nas mesmas.
1. Duplo standart
É muito comum descobrir que as explorações têm um duplo padrão de biossegurança ligado à crença de que as suas medidas / instalações / maneio são melhores do que as demais. Ilustramos isso com um exemplo muito comum, os cais de carregamento.
Uma exploração de ciclo fechado envia parte dos porcos para o abate e o restante é engordado em engordas externas. A exploração possui dois cais de carga, um para o matadouro e outro para o transporte das referidas engordas.
O cais utilizado para saída para o matadouro tem excelente biossegurança, sendo o clássico dividido em 3 zonas distintas com portas automáticas, chuveiros para funcionários, etc.
Por outro lado, constacta-se que o cais de carga de engordas externas não possui medidas de biossegurança, é apenas uma plataforma de cimento no solo. Ao discutir essa diferença, o responsável de biossegurança argumenta que o segundo cais interage apenas com os camiões da sua empresa e podem confiar na sua limpeza.
Esta é a falha do duplo standart: é possível que sua empresa também cometa erros e é importante ter as mesmas medidas de prevenção que as empresas externas.
2. Excepções
As mais comuns são realizadas com os colaboradores especiais e os proprietários.
A grande maioria das explorações implementa chuveiros para funcionários na entrada, uso de roupa da exploração e proibição de entrada de veículos particulares. No entanto, descobrimos que em muitas ocasiões esses padrões não se aplicam a todos os funcionários da exploração. Mostramos um exemplo.
Uma exploração possui uniformes de cores diferentes para cada departamento: gestação azul, maternidade verde, engorda amarela, etc. Ao longo da auditoria, observa-se como cada grupo de trabalho está correctamente na sua zona seguindo o código de cores, no entanto, começa-se a ver pessoal vestido de cinza que se desloca para todas as áreas sem trocar de roupa: são os trabalhadores da manutenção. Da mesma forma, detecta-se que o responsável, vestido de preto, apresenta o mesmo padrão. (Imagem 2)
Este tipo de excepções são muito frequentes, realmente e problema de fundo é uma falha na interpretação da norma: a separação por cores deve estr ligada ao edifício, não ao tipo de trabalho realizado.
3. Normas confusas
O melhor plano de biossegurança não serve de nada se não for entendido pelos colaboradores.
Em muitos casos existem normas de biossegurança que não são fáceis de seguir por apresentarem muitas “sub-regras”, condições ou falta de clareza, obrigando o trabalhador a pensar muito cada vez que tem que segui-las, o que obviamente aumenta a probabilidade de cometer erros. Apresentamos um exemplo também relacionado aos códigos de cores.
Uma exploração está desenhada com corredores comuns que distribuem e ligam cada uma das áreas: gestação, maternidade, etc. A norma interna de biossegurança implica que os trabalhadores devem usar calçados para percorrer os corredores de distribuição e mudar na entrada de cada uma das zonas para evitar contaminação cruzada. A priori, é um protocolo adequado, porém, verificamos que não há como diferenciar o calçado dos corredores de distribuição dos específicos da área, pois são exactamente iguais (Figura 3). Isso obriga o trabalhador a tentar marcar os sapatos (marcas que são apagadas a cada poucos dias devido ao pedilúvio) ou a pensar conscientemente se trocou ou não os sapatos.
Algo tão simples como marcar um calçado existente com brincos coloridos para cada área resolveria o problema. (Imagem 4)
4. Protocolos escritos em cumprir
Quase todas as empresas de um determinado tamanho estão a começar a ter protocolos de biossegurança escritos, tanto externos como internos. No entanto, não é tão comum que esses protocolos sejam realmente aplicados na exploração da forma como estão descritos nos documentos. Os exemplos mais típicos são a mistura de materiais de diferentes zonas, processos de limpeza que não são seguidos ou o famoso Tudo-dentro Tudo-fora (TD-TF) que realmente não é seguido.
Todas as explorações respondem rapidamente "Sim" à pergunta do TD-TF, mas quando se avalia a situação real, descobre-se que muito poucos a executam correctamente. É o caso a seguir descrito: para verificar isso, foi implementado um protocolo de marcação de leitões com brincos de cores por semana de nascimento, o que ocasionou a mistura de animais em leitões com brincos de cores diferentes. (Figura 5)
Como se pode verificar no artigo, a maioria dos defeitos em biossegurança estão relacionados com a confusão no momento de desenhar ou aplicar os protocolos.
De acordo com a nossa experiência, a avaliação externa de peritos e de consultores dentro da empresa e da empresa aptos a auditar as normas é um ponto de partida essencial para o controlo da biossegurança. O objectivo final deve ser gerar uma equipa de trabalho fluida na qual as opiniões sejam comparadas, os objectivos sejam estabelecidos, etc. e como consequência, reduzir a probabilidade de cometer este tipo de falhas de biossegurança.