1 de Outubro de 2021
O mês de Setembro continua pesado no mercado nacional, quer a nível de colocação de porcos nos matadouros quer a nível da colocação de carne visto que estes últimos têm alguma dificuldade em escoar produto, seja para o mercado nacional seja para a exportação para Países Terceiros. O atraso na saída de porcos da exploração, aliado a uma boa climatologia faz com que o peso de abate vá subindo o que, evidentemente, leva a que se tenha que colocar mais carne no mercado por cada porco que é abatido.
Com este cenário no mercado do porco, que é idêntico ao cenário do mercado espanhol, a Bolsa do Porco deu indicação de descida de 0,05€/kg carcaça na segunda quinzena de Setembro.
O mercado do porco está como uma “pescadinha de rabo na boca”. O preço baixa e os produtores “empurram” porcos para serem abatidos, ou seja, a oferta para abate aumenta, mas esta pressão da oferta implica uma maior pressão de descida para a cotação. Além do mais, os produtores precisam que os porcos saiam das explorações, não só porque os vendem mais baratos na semana seguinte, mas também porque ao preço a que estão as rações, mais uma semana com os porcos a comer custa muito dinheiro ao produtor e, por outro lado, é necessário espaço para colocar leitões que estão nas baterias.
Este é um cenário completamente distinto do existente no início do ano em que os leitões eram procurados e valorizados (chegaram-se a vender leitões acima de 90€/cabeça) e que não havia dificuldades em abater porcos a bom preço. Neste momento o preço dos leitões para engorda está muito baixo e há muita dificuldade em os vender. Em poucos meses tudo mudou e o mercado está numa espiral negativa e sem perspectivas de alteração, pelo menos para já.
No mercado europeu também há dificuldade em escoar carne e em matar porcos. Em Espanha porque há menos vendas para a China, na Alemanha porque não vendem carne para Países Terceiros e porque há menos gente a trabalhar nos matadouros e nas salas de desmancha devido a confinamentos pela Covid-19.
O país vizinho continua com vários matadouros sem autorização de exportação para a China (os chineses retiraram autorizações de exportação a uma série de matadouros, tal e como referi a semana passada) e isso implica que o excesso de carne espanhola tenha que entrar no mercado da U.E. com a consequente e inevitável descida dos preços que terão que competir com os preços baixos da carne alemã.
Ora, esta descida paulatina e sistemática da cotação dos porcos em Espanha leva, por arrasto a cotação em Portugal e em França tal como a anterior descida abrupta da cotação dos porcos na Alemanha arrastou as cotações belga, holandesa e dinamarquesa. A Europa do porco como um todo, para o bem e para o mal.
Por detrás de deste problema (ou de parte dele) está a China. Os chineses compram pouca carne na Europa e querem fazê-lo a preço baixo, até porque têm a sua carne e preços baixos e o consumo interno bastante fraco devido a confinamentos pela variante Delta da Covid-19. Mesmo com as miudezas tem havido descida de preço, também por influência chinesa. Por outro lado, há que ter em consideração que há bastante carne congelada na China e que o preço dos porcos desceu bastantes desde o início do ano, havendo mesmo cotações mais baixas do que as actuais no mercado de futuros de Dalian até ao verão de 2022. Portanto, indicação de preços baixos naquele país durante alguns meses mais.
Mas será mesmo assim? Não nos poderemos esquecer que a China continua com casos (e bastantes) de PSA que implicam redução de efectivo por abates sanitários da totalidade dos animais existentes das explorações afectadas. A juntar a isto, o aumento do custo de produção leva a que haja explorações que encerrem por não conseguirem suportar os custos de produção (pela Europa também é provável que se venha a passar o mesmo, se bem que o efectivo nalguns países já esteja a descer, mas por problemas de pressão ambiental e não tanto por aumento do custo de produção) e ambos os factores irão implicar uma maior dependência chinesa das compras de carne de porco fora do seu território.
O que não sabemos é se tudo isto se vai conjugar a favor do mercado do porco europeu. Teremos que esperar para ver.
No que diz respeito às cotações por países, em Espanha a cotação desceu 0,05€/kg PV (-0,067/kg carcaça) para 1,147€/kg PV (1,529€/kg carcaça). Os pesos continuam a subir e os porcos estão mais pesados 2,3kg PV do que o ano passada na mesma altura.
Na Alemanha a cotação manteve-se em 1,25€/kg carcaça. A venda de porcos continua difícil na Alemanha. Os pesos de carcaça subiram 300g para 97,2kg.
Na Holanda a cotação também se manteve, neste caso em 1,36€/kg carcaça. As vendas para a China são más e a preços muitos baixos. Há falta de pessoal nas unidades de abate e nas salas de desmancha, tal como acontece com a Alemanha e isso atrasa o abate dos porcos nos Países Baixos.
Na Bélgica a cotação manteve-se nos 0,80€/kg PV.
Na Dinamarca a cotação manteve-se em 1,17€/kg carcaça. Apesar do mercado dinamarquês continuar pesado para venda de carne de porco, há alguma melhoria nas condições de mercado, o que alivia todos os agentes da fileira. Continuam as vendas fracas para a China e a estabilidade de venda para o Japão.
Em França a cotação desceu 0,079€/kg carcaça fixando-se em 1,256€/kg carcaça. O peso manteve-se nos 94,8kg e está igual ao peso do ano passado na mesma semana. O mercado francês está com algum excesso de oferta e isso reflecte-se na descida da cotação. Não se prevê alterações nestas condições de mercado nas próximas semanas.