O que é que se passou este mês? Podia ser resumido numa só frase: aparentemente nada, tudo continua igual.
Cereais
Comecemos pela nova campanha. O milho começou a ser cotado à volta dos 200 €/ton para a posição Novembro 2013 / Janeiro 2014. Depois cedeu até 195 €/ton e actualmente está cotado a 198 €/ton. Definitivamente, sem alterações pela frente. O que se pode dizer é que a maioria dos compradores já tomaram as suas posições para estes meses, de modo que olham para a "não evolução" dos preços sentados.
Vejamos agora o trigo. Começou por ser cotado a 225 €/ton para colheita nova (posições Agosto 2013/ Setembro 2013 e Agosto 2013 / Dezembro 2013). Cedeu um pouco e actualmente está cotado a 220 €/ton. Finalmente, o preço continua também mais ou menos igual, a diferença relativamente ao milho é que as coberturas de trigo para a nova colheita foram anedóticas, já que comparativamente é mais interessante o preço do milho que o preço do trigo.
Falemos agora da cevada. Começaram por ser faladas cotações entre 210-215 €/ton, segundo o destino para posições de Julho a Dezembro 2013. Foram realizadas algumas operações mas de maneira pontual, definitivamente pouco.
Quanto à colheita velha, continua a mesma cantilena. Opera-se para o disponível a preços “especiais” (abaixo dos preços oficiais) e quanto maiores são os prazos de entrega menos vontade de fazer "saldos". Poderíamos defini-lo com a frase “perder por perder estamos sempre a tempo” já que os preços que estão a ser operados nos portos estão bastante abaixo dos preços de reposição. Porém, para a velha colheita as espadas estão ao alto. Ainda que devo sublinhar que historicamente, ou pelo menos nos últimos anos, a habitual descida de preços dos meses de Inverno (basicamente Fevereiro / Março) terminava para aí no dia de São José*, momento em que os preços tendiam aumentar pelo menos até Maio. A partir de Maio, dependendo se falta ou sobra algum quilo para a ligação com a nova colheita, os preços reagem subindo ou descendo. O fim da descida é consequência directa da necessidade dos compradores de cobrir posições de Abril em diante numa percentagem bastante considerável. Isto obriga-os a tomar decisões, pelo geralmente a meio de Março. A situação este ano tem um aspecto um pouco diferente favorável ao comprador: os portos em geral estão cheios e continua a haver previsões de chegada de barcos (sobretudo de milho) e a aparição de ofertas do mercado francês muito competitivas, tanto de milho como de trigo. As dúvidas desfazem-se nas próximas semanas.
Proteína
Falemos agora da proteína. Toda a gente está à espera da chegada da nova colheita para poder beneficiar de melhores preços, no entanto a realidade continua empenhada em contrariar o pensamento colectivo, aguentando os preços em alta.
Vários factores constituem o suporte para que o mercado não comece a descer: a falta de grão, poucas ofertas de bagaço, a colza a preços pouco competitivos, as longas filas de barcos nos portos brasileiros para carregar colheita nova,...
Este ano lembra-me um pouco o ano de 2004, ano que, tal como este, estava garantida uma excelente colheita, esperava-se uma descida significativa de preços a partir de Maio e portanto não foi comprada soja. O resultado foi que os fundos, ou os fundamentais, ou ambos, aguentaram o mercado até finais de Agosto e o mesmo converteu-se numa via sacra colectiva para todos os compradores até que se deu uma correcção espectacular do mercado de Chicago. Espero que não se repita a história, porque as subidas e descidas tão pronunciadas e rápidas não são boas para ninguém.
*N.T. Dia de São José - 19 de Março
7 de Março de 2013