19 de Setembro de 2014
Tal como referi no final do meu último comentário, infelizmente as previsões vieram-se a confirmar e os porcos desceram com significado na primeira quinzena de Setembro.
Com efeito, as cotações apresentaram uma descida de 0,0555€/kg carcaça havendo grande número de porcos Nacionais adiados pelo matadouros já que as vendas se reduziram e, a somar a esta redução de consumo, houve abundantes ofertas, aos matadouros portugueses, de porcos oriundos de Espanha para abate no nosso País.
Cá está no seu completo esplendor a Lei da Oferta e da Procura, aumenta a oferta de porcos o preço baixa, reduz-se a procura de carne e porcos, baixa o preço.
A oferta de porcos aumenta porque apesar do verão não ter sido demasiado quente, por isso não houve grandes reduções no crescimento dos porcos, em Setembro, com a descida das temperaturas, os animais repõem mais peso e mais depressa o que implica um aumento da oferta já que os porcos tem que ser abatidos quando atingem o peso ideal. Soma-se uma outra razão para o aumento da oferta de porcos: a descida das cotações faz com que os produtores aumentem a pressão da venda dos seus animais para que estes não fiquem nas explorações de uma semana para a outra a consumir ração (mais custos) e a serem vendidos por preço mais baixo na semana seguinte (menos receita).
No que se refere à carne, as próximas semanas não deverão trazer grandes alterações ao mercado nacional, já que os consumidores tradicionalmente consomem bastante menos carne de porco em Setembro sendo um factor importante nesta redução do consumo o menor poder de compra das famílias já que os recursos financeiros foram consumidos nas férias de verão e na aquisição dos livros e materiais escolares que fazem “evaporar” boa parte do rendimento disponível.
Todos os anos assim é. Em Setembro há mais porcos para abate, mais carne para ser vendida e menos consumo
Nos mercados da U.E. também se verificaram descidas com significado nas cotações dos porcos principalmente devido às dificuldades no escoamento de carne para Países Terceiros.
Em Espanha verificou-se uma descida de 0,042€/kg PV (cerca de 0,056€/kg carcaça). O mesmo que em Portugal, portanto (ou vice-versa). A cotação de Lérida era 1,358€/kg PV na semana de 12 de Setembro (cerca de 1,811€/kg carcaça).
Os pesos têm subido com algum significado (cerca de 1,2kg por porco na primeira quinzena de Setembro) e a somar a este facto houve um dia a menos de abate na Catalunha (abate cerca de 50% dos porcos espanhóis) o que implicará mais peso nos porcos para abate. Veremos quanto aumenta.
Adicionalmente, os espanhóis, que concorrem com os alemães, franceses, dinamarqueses e holandeses nos mercados da U.E. e de Países Terceiros, tinham uma grande diferença na cotação dos seus porcos em relação a estes mercados e tiveram que fazer correcções fortes para “alinhar” os seus preços com os daqueles países para que a sua carne seja competitiva.
Mesmo com a descida, a cotação espanhola continuou cerca de 0,08€/kg PV mais alta que a alemã e cerca de 0,10€/kg PV que a francesa, dinamarquesa e holandesa.
Este diferencial com o preço alemão (que dá cerca de 0,20€/kg carcaça) está a levar os industriais espanhóis a abastecerem-se de peças no mercado alemão em vez de as irem comprar nos matadouros espanhóis e este é outro ponto negativo para o mercado do porco da Península Ibérica.
Estas descidas espanholas afectam fortemente as cotações dos porcos no mercado português.
O embargo russo continua a ter os seus efeitos no mercado Europeu do porco e Bruxelas, ao contrário do que fez com outros produtos agroalimentares, ainda não tomou medidas de apoio ao mercado dos suínos justificando a sua atitude pelo facto de que os preços dos poorcos não desceram muito após o embargo russo e que o custo das matérias-primas se reduziu o que implica custos de produção bastante mais baixos e por isso os suinicultores não necessitam de apoios visto não estarem a perder dinheiro.
Não vi Bruxelas ter uma atitude distinta, de apoio, para com os produtores de suínos Europeus quando as matérias-primas estavam bastante caras e as cotações dos porcos estavam baixas.
Quanto ao mercado alemão, que também se debate com os problemas do embargo russo, apresentou uma descida de 0,03€/kg carcaça (tendo mesmo subido 0,02€kg carcaça na primeira semana do mês). Neste momento a cotação alemã é de 1,60€/kg carcaça. Neste país os pesos também têm subido e há alguma dificuldade em escoar carne pelo que os preços desta têm descido implicando uma pressão, por parte dos matadouros, para que as cotações dos porcos desçam.
Segundo dados da alemã AMI (Organização de Produtores da Alemanha), as exportações deste país, no 1º Semestre deste ano, aumentaram 1% para o mercado interno da U.E. mas reduziram-se 16% para mercados Países Terceiros (desceram 91% para a Rússia).
A cotação da Holanda baixou 0,03€/kg esta quinzena (1,57€/kg carcaça) e as da Bélgica mantiveram-se (1,16€/kg PV).
A Dinamarca também manteve a sua cotação esta quinzena (1,42€/kg carcaça), cotação que já se tinha mantido durante todo o mês de Agosto. Apesar das dificuldades que os dinamarqueses têm em escoar a sua carne de porco, principalmente para Países Terceiros que são os seus mercados de eleição, as cotações não têm sofrido qualquer redução.
A França desceu 0,049€/kg carcaça nesta quinzena (1,355€/kg de preço base). Estas descidas são consequência da dificuldade no escoamento de carne para Países Terceiros, já que as vendas para outros destinos não compensam as quantidades que eram enviadas para a Rússia, sendo que a mesma fica no mercado interno da U.E. afectando o preço da carne e, por conseguinte, o preço dos porcos.
Um dado a ter em conta e cuja fonte é o MPB francês é que as cotações na semana 37/2014 são inferiores 12-15% que na mesma semana do ano passado. Significativo!
Caminhamos em direcção ao fim de Setembro e não se vislumbram possibilidades de alteração no mercado do porco. A tendência é das cotações continuarem a descer em Portugal e no resto da Europa e as descidas esperadas são significativas.
Adicionalmente, há uma perspectiva de aumento no número de animais para abate para os próximos meses (talvez a partir de finais do ano) na U.E. já que foi reposto parte do efectivo reprodutor que se reduziu para adaptar as explorações às normas de bem-estar animal e esse mesmo efectivo está a produzir mais e melhor. Se não se encontrarem soluções para colocar mais carne de porco fora do mercado interno da U.E. este factor poderá implicar mais descidas nas cotações nos próximos meses.