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Caso clínico: Síndrome gripal devido a H1N2 com complicações bacterianas

Ante um caso de patologia respiratória crónica nas baterias não se deve esquecer o virus da gripe, sobretudo as novas estirpes como a H1N2.

4 Julho 2005
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Descrição da Exploração




Trata-se de uma exploração francesa de ciclo fechado com 800 porcas situado numa zona com elevada densidade suína. A exploração divide-se em dois sítios:

Sítio A: agrupa lactação e engorda, trata-se de uma construção velha onde as zonas para mães e porcos de engorda se encontram misturadas.

Sítio B: pós-desmame isolado a 200 m, trata-se de um sítio novo com vestiário, com separação de zonas limpa e suja, e pessoal específico. Formado por 9 salas de 380 lugares.



A exploração mudou o sistema de reposição, passando para autoreposição a partir de um núcleo de "avós". As avós primíparas pariram há aproximadamente dois meses e meio.

Estatuto sanitário da exploração

  • Aujeszky: Exploração indemne.
  • PRRS: Exploração positiva sem episódios clínicos em porcas mas com circulação viral. Programa de vacinação iniciado há 1 ano:
    • Vacina inactivada para as porcas e primovacinação das primíparas com 2 injecções e doses de rappel em cada ciclo aos 70 dias de gestação
    • Vacina viva para os leitões aos 35 dias de vida.
  • PMWS: Se bem que durante o ano 2002 se tenham dado casos de PMWS, durante 2003 a situação manteve-se sob controle.
  • Micoplasma : A exploração é positiva com presença de lesões no matadouro. Desde há 2 anos o programa vacinal consiste numa vacina com monodose aos 63 dias de vida (vacinação tardia para diminuir os casos de tosse no final da engorda).
  • Actinobacillus pleuropneumoniae : Exploração positiva para App B1 S9 com baixa mortalidade na engorda mas elevado nível de pleurites (12%). O programa actual de profilaxia consta de uma vacinação dos reprodutores.


Aparecimento do caso



O produtor decide consultar o veterinário após detectar os seguintes problemas nas baterias:

  • Elevado índice de mortalidade em várias bandas (10%).
  • Casos de morte súbita e de debilidade mais ou menos acentuados.
  • Tosse e arquejo (dispnea).
  • Valores baixos de GMD (400g/d).


Visita à exploração

Baterias

Sala 1: leitões desmamados desde há 2 dias (idade do desmame 4 semanas), comportamento normal com alguns casos de artrite (3 casos).

Sala 2: leitões desmamados desde há 9 dias, comportamento normal, alimento de primeira idade suplementado com 120 ppm de colistina.

Sala 3: leitões desmamados desde há 16 dias, transição alimentar primeira-segunda idade (branca), 3 leitões mortos.

Sala 4: leitões desmamados desde há 23 dias, alimento de segunda idade, sala com 4 parques com machos e fêmeas F1. Nos 4 parques apresentaram-se vários casos de dificuldades respiratórias, com um aspecto anémico, e vários casos de necrose das orelhas. No total, 5 leitões mortos.

Sala 5: leitões desmamados desde há 30 dias, alimento de segunda idade, presença de moscas na sala e em cada parque presença de 1 ou 2 leitões com respiração acelerada e um aspecto pálido. Observa-se tosse seca. Mortalidade de 5 leitões na semana anterior (morte súbita) e 7 leitões isolados no final do corredor numa enfermaria (leitões magros com dificuldades respiratórias) que recebem um tratamento injectável com amoxicilina durante 3 dias enquanto que o resto dos animais da sala reciberam amoxicilina oral à razão de 10 mg/kg durante 5 dias. Nenhum caso de mortalidade após finalizar o tratamento.

Sala 6: leitões desmamados desde há 37 dias, alimento de segunda idade, presença de muitas moscas apesar da utilização de um insecticida nas fossas, índice de mortalidade e morbilidade leves (7 mortes no dia da visita). Sem presença de tosse e comportamento aparentemente normal.

Sala 5
Sala 7

Sala 7: leitões desmamados desde há 44 dias, alimento de segunda idade, tosse e dificuldades respiratórias em vários leitões. Mortalidade elevada (20 leitões: 7 mortes súbitas, 13 leitões mortos ou eutanasiados após terem emagrecido e com dificuldades respiratórias). Vários parques com presença de necrose nas orelhas.

Sala 8: leitões desmamados desde há 51 dias, alimento de segunda idade, tosse leve e algumas dificuldades respiratórias visíveis. Mortalidade sobretudo nos parques com primíparas e machos F1 (20 mortos em 120). Em cada parque observam-se de 2 a 5 leitões mais pequenos e atrasados.

Sala 9: leitões desmamados desde há 58 dias, alimento de segunda idade, leitões que se passaram para a engorda no dia seguinte, lote com poucos problemas salvo alguns casos de morte súbita 1 mâs após o desmame.

Durante a visita anotaram-se os valores programados da ventilação e aquecimento:

Dias
Aquecimento
(ºC)
Ventilação
(ºC)
Ventilação mínima
(%)
Ventilação máxima (%)
Banda
(ºC)
D 1
30
30
10
100
6

D 2

29,5
30
10
100
6
D 4
27
28
15
100
6
D 21
26
27
20
100
6
D 42
25
26
40
100
6
D 53
25
26
40
100
6

O ambiente encontra-se carregado e sujo.

Visita à unidade de nascimento-engorda

A nível da sala de partos não se observam problemas salvo presença de diarreias neonatais nas ninhadas das "avós" primíparas que não foram alojadas em contacto directo com as demais multíparas da exploração.

O plano vacinal é o seguinte:

Primíparas
D 0 PRRS inactivado
D 7 Aujeszky+ Gripe
Micoplasma
D 14 Actinobacillus pleuropneumoniae + Rinite
D 21 Mal rubro + Parvovirose
D 28 PRRS inactivado
D 35 Aujeszky+ Gripe
D 42 Actinobacillus pleuropneumoniae
D 49
Rinite
Mal rubro + Parvovirose
Gestação
MB - 4sem Aujeszky +Gripe
MB - 3sem Actinobacillus pleuropneumoniae
Rinite
Todos os
animais
Dose de rappel 3 em 3 meses Mal rubro + Parvovirose
PRRS inactivado

Ao nível da engorda, o período de adaptação para a alimentação em sopa é muito difícil e varia muito de um lote para o outro. Em alguns lotes observam-se porcos com problemas de crescimento com ou sem tosse ou dificuldades respiratórias.

Realizou-se uma necropsia in situ de um porco de 2 meses de vida eleito entre os da sala 5 (magro e com dificuldades respiratórias) e na cavidade torácica observaram-se as seguintes lesões:

  • Congestão generalizada e pneumonia afectando de forma parcial todos os lóbulos (pontuação 10/28)
  • Ligeiro edema interlobular
  • Pleurite sobretudo nos lóbulos diafragmáticos
  • Pericardite leve com aderência do pericárdio

Decidiu-se enviar para o laboratário amostras de um porco que morreu de forma súbita algumas horas mais tarde. Isolou-se Streptococcus suis 2 a partir do líquido céfalo-raquidiano. O antibiograma foi o seguinte:

Sensível

Genta. Epectino Amoxi Ceftiofur Tia Marbofl Enrofl Linco Florf TMP-Sulfa
Resistente Tilo Spira Tilmic Flum Doxi Oxitetra




Hipóteses e Medidas tomadas



Hipóteses

Após a visita realizaram-se as seguintes hipóteses:

1. Problemas ambientais devidos à pouca ventilação o que levou a uma irritação do aparelho respiratório e às mordeduras de orelhas por falta de conforto.

2. Reactivação de um gérmen respiratório patógeno presente na exploração como Actinobacillus pleuropneumoniae (pleurite) ou Haemophilus parasuis (pericardite) relacionado com a sensibilidade imunitária da população constituída pelos F1 (fêmeas e machos) procedentes das avós primíparas.

3. Casos de meningite que aparecem ao fim de um mês do desmame quiçá relacionado com um problema de ventilação.


Conselhos e medidas tomadas

  • Tratamento geral pós-desmame com amoxicilina (15 mg/kg PV) durante 5 dias (a análise confirma a hipótese de meningite por Streptococcus suis tipo 2 nas mortes súbitas).
  • Instauração de um suplemento preventivo com 400 ppm de amoxicilina e 120 ppm de colistina na alimentação de primeira idade.
  • Modificação da ventilação e do aquecimento:
Dias
Aquecimento
(ºC)
Ventilação
(ºC)
Ventilação mínima
(%)
Ventilação máxima (%)
Banda
(ºC)
D 1
28,5
28
10
100
6

D 5

28,5
28
10
100
6
D 10
28
27,5
10
100
6
D 42
24
23,5
20
100
6
D 53
24
22,5
25
100
6
  • Sala de partos: contaminação das primíparas avós mediante contacto com as porcas de refugo e com fezes de porcas na maternidade para prevenir as diarreias neonatais.

Contudo, apesar das medidas tomadas, 8 dias mais tarde o produtor voltou a telefonar ao veterinário já que os problemas não se solucionaram e a situação respiratória piorou.


2ª visita à exploração



Pós-desmame


  • Clínica idêntica à observada durante a visita anterior ainda que com uma maior proporção de leitões com dificuldades respiratórias

  • Presença de hipertermia por acima dos 41°C.

  • Ao observar o comportamento dos leitões constata-se que após a agitação fruto da entrada do veterinário na sala, um número de animais com aparência normal caíem e apresentam ritmo respiratório acelerado.



Pavilhão de engorda

Pelo que se refere mais concretamente ao último lote entrado procedente da sala pós-desmame N° 9, lote que durante o desmame não tinha apresentado problemas particulares após a entrada na engorda observou-se o aparecimento de tosse, porcos abatidos e com problemas de crescimento e realizou-se a necropsia de 3 porcos:

Porco 1 com problemas de crescimento desde há vários dias: pneumonia importante com focos hemorrágicos e alguns abcessos pequenos sobre os lóbulos diafragmáticos (pontuação 15/28). Pleurite fibrinosa

Porco 2 "pálido" mas ainda não magro: com edema interlobular e zonas de hepatização encarnada sobre os lóbulos apicais (pontuação 10/28). A análise histológica resultou em "pneumonia bronco-interesticial” que sugere um ataque viral associado.

Porco 3 com hipertermia: edema interlobular com zonas de hepatização encarnadas mais importantes sobre os lóbulos apicais.

Análise complementar de laboratório

1. Bacteriologia

Pulmão 1: isolamento de Actinobacillus pleuropeumoniae B1S9,
Pulmão 2: isolamento de Pasteurella multocida
Pulmão 3: isolamento de Pasteurella multocida

Pulmão 1
Pulmão 2
Pulmão 3
Actinobacillus pleuropeumoniae B1S9 Pasteurella multocida Pasteurella multocida
Amoxicilina
S S S
Ampicilina S
Amoxi + Ác. Clavulánico S
Ceftiofur S S S
Cefquinona S
Doxiciclina S S S
Gentamicina S S
Enrofloxacina S S S
Florfenicol S S S
Flumequina S S S
Lincomicina R R
Marbofloxacina S S S
Oxitetraciclina S S
Penicilina G I
Espectinomicina S S
Epiramicina R R R
Tetraciclina S
Tiamutina S S S
Tilmicosina S S
TMP-Sulfa S S S
Tilosina I R R
S: susceptível, I: intermédio, R: resistente.

2.Serologia

Realizaram-se análises para a presença de:

A: Anticorpos dos vírus da gripe (H1N1, H3N2 y H1N2) em 5 amostras de soro procedentes de porcos 5 semanas depois do episódio clínico nas baterias.

B: Anticorpos gripe e PRRS (animais vacinados com vacina viva aos 35 dias de vida) em 5 amostras que foram procedentes de porcos do final da engorda.

PORCOS
H1N1 (IHA)
H3N2 (IHA)
H1N2 (IHA)
PRRS (Elisa Idexx)
A
Negativo
Negativo
160
20
Negativo
1280
40
Negativo
40
80
Negativo
320
80
Negativo
160
B
160
Negativo
160
0,88
80
Negativo
320
2,89
80
Negativo
80
1,54
80
Negativo
640
2,44
40
Negativo
80
2,88



Conclusões



Trata-se de um caso clínico de Sindroma Gripal e Respiratório Suíno com uma infecção gripal crónica e reincidente banda por banda devido a H1N2 complicada por Actinobacillus pleuropneumoniae B1S9 y Pasteurella multocida.

Apesar da vacinação, deve ter-se em conta a possível implicação de Mycoplasma hyopneumoniae e do vírus da PRRS. Também deveria considerar-se a relação com Streptococcus suis.

Medidas suplementarese evolução do caso

Medidas tomadas

Pós-Desmame: tratamento sequêncial de 3 dias por semana com aspirina na água de bebida como complemento da suplementação da ração de primeira idade. A data de vacinação contra micoplasma foi adiantada para o momento do desmame e a de PRRS foi atrasada para 15 dias mais tarde.

Entrada na engorda: aspirina e doxiciclina (10mg/kg) durante 5 dias.

Evolução do caso

A utilização de aspirina diminui os sinais clínicos e a mortalidade, ainda que a circulação viral entre bandas continuou junto com episódios de complicações bacterianas.

Determinou-se realizar um ensaio vacinal utilizando uma vacina comercial contra a gripe apesar da ausência teórica de protecção cruzada.


Comentários



Ante um caso de patologia respiratória crónica nas baterias não se deve esquecer o virus da gripe, sobretudo as novas estirpes como a H1N2.

O diagnóstico clínico não é sempre fácil já que nas baterias a perda do apetite não é fácil de ver e é necessário observar bem o comportamento dos leitões e não duvidar em tomar a temperatura.

A realização da necropsia dos animais quando aparecem os problemas permite pôr em relevo a pneumonia com edema interlobular bastante característica enquanto que as necropsias realizadas sobre animais já doentes há várias semanas apresentam frequentemente lesões devidas às infecções secundárias.

Este tipo de patologia está a aumentar e a profilaxia é difícil na ausência de vacinas contra a gripe "actualizadas".

Finalmente em casos onde todos os agentes patogénicos se encontram presentes, ¿sobre qual se deve actuar de forma prioritária? ¿Vacinação precoce contra Micoplasma? ¿Vacinação precoce contra o PRRSV? Diminuição dos portadores de Actinobacillus: ¿Utilização sistemática de antibióticos?, ¿Vacinas?, ¿Relação com Streptococcus suis?

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