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Sobem as cotações dos porcos e da carne, mas os prejuízos mantêm-se

Na segunda quinzena de Março, a cotação dos porcos voltou a subir com grande significado na Bolsa do Porco, sendo que o total da subida foi de 0,247€/kg carcaça.

31 de Março de 2022

Na segunda quinzena de Março, a cotação dos porcos voltou a subir com grande significado na Bolsa do Porco, sendo que o total da subida foi de 0,247€/kg carcaça. Desde que começou a subida das cotações, em meados de Janeiro, já levamos 11 semanas consecutivas de subida que perfazem um total de 0,767€/kg carcaça. Notável, sem dúvida!

Mas a pergunta que fica no ar é: será que mesmo com este valor de subida, os produtores deixaram os prejuízos? E será que a indústria da carne também consegue valorizar a carne na mesma proporção que os porcos se valorizaram?

A resposta para ambas as perguntas é “não”.

No caso dos suinicultores, a forte subida do custo das matérias-primas para a alimentação animal, aliada ao brutal aumento dos custos de energia (energia eléctrica, gás e combustíveis), fez disparar o custo de produção para valores muito próximos dos 2,00€/kg de carcaça (no país vizinho, a Mercolérida refere que o custo de produção é de 1,55€/kg PV) e o preço de venda está em redor de 1,80-1,85€/kg carcaça. Portanto, continuam os prejuízos.

No caso dos industriais, se por um lado também têm fortes subida da sua matéria-prima (os porcos) e da energia, bem como o aumento dos custos de distribuição por outro lado não têm conseguido transferir, na totalidade, o aumento destes custos para a carne pelo que também se encontram numa situação de redução de margens, podendo haver mesmo vendas abaixo do custo de produção.

E forma de ultrapassar esta situação? No caso dos porcos, as cotações irão continuar a subir, mesmo que as subidas sejam inferiores às subidas das semanas passadas. Continua a haver falta de porcos e a tendência é para que as cotações continuem a subir. Até onde? Ninguém sabe.

No caso da carne, a distribuição vai ter que aceitar subidas de preço e transferi-las para o consumidor. Tal como referi no meu anterior comentário, o consumidor irá definir qual o tecto máximo a que a cotação dos porcos e da carne irá chegar.

Além disso, e agora que o mercado se encontra desanuviado, é que a Comissão europeia aprovou uma ajuda à stockagem privada de carne de porco. Ora, se há falta de carne no mercado e os preços estão a subir, porquê agora a ajuda?

No meu entendimento, esta ajuda servirá para aqueles industriais que já teriam que congelar peças/cortes que têm pouca saída neste momento e que poderão recorrer a esta ajuda como forma de mitigar os custos energéticos de armazenamento. Em todo o caso, teremos que esperar para ver que quantidades de carne (carcaças, peças e miudezas) poderão ser armazenadas neste período de ajuda que vai de 2 a 6 meses de duração.

De resto, todos os países Europeus voltaram a ter subidas significativas nas cotações dos porcos, mesmo aqueles que na anterior quinzena ficaram muito aquém no aumento das cotações. Este é um sinal, mais que evidente, que há muito menos oferta do que procura de porcos, para além das descidas dos pesos. Contudo, a redução dos pesos até poderia ser mais acentuada, não fosse o caso de os produtores fazerem alguma retenção de porcos, pois sabem que na semana seguinte eles valem mais dinheiro, podendo assim, amortecer prejuízos.

Outro dado interessante do mercado é o aumento significativo da cotação dos leitões para engorda. Nas últimas 10 semanas, em Espanha, os leitões passaram dos 21,00€ para os 53,00€, mas a grande dúvida dos compradores (até porque continua a haver muitos lugares de engorda vazios em Espanha) é se valerá a pena comprar leitões a este preço para engordar pois os riscos são grandes. Desde logo porque o custo alimentar é elevado, depois porque nunca se sabe quando poderá haver paragens dos camionistas como a que já ocorre há 15 dias no país vizinho e que limita muito o abastecimento de matérias-primas ás fábricas de ração, de ração às explorações e de porcos para o matadouro. São demasiados riscos que se correm e há produtores que não estão dispostos a corrê-los.

Passou o primeiro mês de guerra na Ucrânia e o conflito continua sem fim à vista. Esta situação irá manter altas as cotações das matérias-primas para a alimentação animal e os demais custos energéticos. Portanto, iremos continuar a ter um custo de produção elevado. Veremos se o mercado irá permitir que os preços de venda continuem altos para poder cobrir os custos de produção.

No que diz respeito à evolução das cotações europeias do porco, houve subidas generalizadas em todos os mercados. Houve países que subiram o máximo que as suas Bolsas permitem (Espanha permite um máximo de subida semanal – e de descida – de 0,06€ e foi isso que aconteceu) e a França alterou o Regulamento e permitiu subidas de 0,10€/kg carcaça à 5ª feira, quando a subida máxima permitida era de 0,05€/kg. Houve outros que voltaram a subir com muito significado (Alemanha, Países Baixos e Bélgica) e, finalmente, a Dinamarca também subiu com mais significado a sua cotação.

Em Espanha a cotação voltou a subiu 0,12€/kg PV (+0,16€/kg carcaça) passando a cotação para 1,412€/kg PV (1,883€/kg carcaça). Os pesos desceram cerca de 450g nesta quinzena. OS matadouros não têm os porcos que querem e os que lhes chegam para abate são mais leves, o que traz menor rentabilidade ao matadouro. Em todo o caso, são as grandes integradoras que estão a abastecer o mercado com porcos, pois os produtores mais pequenos estão a fazer retenção para tentar conseguir melhor preço e mais peso nos seus porcos.

Na Alemanha a cotação subiu 0,17€/kg carcaça esta quinzena fixando-se 1,92€/kg. O total da subida na Alemanha, nas últimas 6 semanas foi de 0,72€/kg carcaça. Os pesos subiram 300g para os 97,5kg carcaça. Começa a haver resistências, por parte do grande retalho, em aceitar mais subidas dos preços da carne. Alguns compradores pedem menores quantidades e outros procuram alternativas mais baratas, mas mesmo assim, toda a carne encontra colocação com rapidez. Mesmo cara, a carne de porco continua muito mais barata que a carne de vaca e isso é um factor positivo para estimular o seu consumo.

Nos Países Baixos a cotação subiu 0,28€/kg carcaça para 1,88€/kg carcaça. As subidas da Alemanha não são seguidas pelos matadouros neerlandeses, o que deixa um diferencial de preço entre os produtores de ambos os países, com prejuízo para os dos Países Baixos (tal e qual o que ocorre entre Portugal e Espanha, com a agravante de Portugal ser deficitário e os Países Baixos não). Continua a haver margem para que os porcos subam nas próximas semanas.

Na Bélgica a cotação também subiu 0,10€/kg PV passando a cotação para 1,35€/kg PV.

Na Dinamarca, finalmente, teve uma subida significativa da cotação nesta quinzena, sendo o total de 0,17€/kg carcaça para os 1,34€/kg carcaça. Mesmo assim, a Dinamarca tem a cotação mais baixa de entre todos os países Europeus. A tendência do mercado europeu da carne é altista e todos os agentes de mercado já têm esta alteração como uma alteração estrutural e não meramente conjuntural. Agora os agentes de mercado terão que ver como melhor se adaptam a esta nova realidade. A procura de carne continua forte e os movimentos do mercado das últimas semanas dão indicação de que a cotação do porco poderá ir aumentando até ao Verão.

Em França a cotação subiu 0,22€/kg carcaça para 1,635€/kg carcaça. Os pesos desceram 550g para os 95,65kg. O peso é cerca de 200g mais baixo que na mesma semana do ano passado. Como referi acima, o MPB alterou o regulamento da Bolsa para poder haver subidas superiores a 0,06€/semana pois a tendência é de haver uma clara redução da oferta que tem estimulado o aumento das cotações, apesar de haver uma maior lentidão do mercado da carne em se ajustar a estes aumentos.

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