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Caso clínico: Surto de influenza numa exploração estável de PRRS e Mhyo

Em Julho de 2010 aconteceu um surto respiratório severo na exploração: tosse na reposição, tosse e depressão na engorda, junto com um aumento da percentagem de nascidos mortos e mumificados num lote de porcas.

Descrição da exploração

O caso clínico ocorreu numa exploração de 320 porcas de ciclo fechado na Bretanha francesa. A exploração era positiva a PRRSV, Mycoplasma hyopneumoniae e negativa a Actinobacillus pleuropneumoniae e a rinite atrófica.

O suinicultor produz a sua própria reposição (LW x LD) e compra o sémen (Pietrain).

As porcas e a reposição vacinam-se contra a PRRS (vacina viva modificada), parvovirus, erisipelas e influenza suína (vacina bivalente). Os leitões vacinam-se com uma vacina monodose contra o micoplasma ao desmame.

A idade ao desmame era de 28 dias e havia desmames de 3 em 3 semanas (maneio em 7 bandas).

O rendimento da maternidade e da engorda foi excelente até meados de 2010 (tabelas 1 e 2).

Tablea 1: Resultados técnicos da maternidade em comparação com resultados de referência da Bretanha, antes do surto.

Exploração em 2009 10 % melhores da Bretanha em 2009
Desmamados/porca/ano 30,4 31,3
Nascidos totais 14,31 14,7
Desmamados/ninhada 12,31 12,3
Perdas na lactação 9,2 % 10,6 %
Nascidos mortos 5,3 % 6 %
Fertilidade 89,5 % 93,2 %

Tabela 2: Resultados técnicos da engorda em comparação com resultados de referência da Bretanha, antes do surto.

Exploração em 2009 10 % melhores da Bretanha em 2009
Porcos produzidos/porca 24,8 24,5
Conversão global 2,75 2,8
Perdas desmame-matadouro 5,9 % 4,6 %
GMD 30-115 kg 785 g 794 g

Segundo os sinais clínicos e os perfis serológicos (todos os porcos deram negativos a uma serologia realizada no final da engorda), tanto a circulação de PRRSv como de Mycoplasma hyopneumoniae estavam estabilizados na explotação.

Surto clínico

Em Julho de 2010 aconteceu um surto respiratório severo na exploração: tosse na reposição, tosse e depressão na engorda, junto com um aumento da percentagem de nascidos mortos e mumificados num lote de porcas.

Realizaram-se as seguintes análises laboratoriais:

  • Serologias ELISA IDEXX para PRRSv em 15 leitões de 10 semanas, 5 porcos de 160 dias e 5 de 180 dias = todas resultaram negativas.
  • Serologias ELISA IDEXX para Mhyo em 5 porcos de 160 dias e 5 porcos de 180 dias = todas resultaram negativas.
  • Serologias ELISA para influenza em 15 leitões de 10 semanas, 4 leitões de 160 dias e 5 porcos de 180 dias = 3/15 foram positivas a 10 semanas, 1/4 aos 160 dias e 2/5 aos 180 dias.
  • Abate e necropsia de um porco de 10 semanas para histopatologia, que detectou lesões típicas de influenza (marcada pneumonia intersticial, bronquiolite e infecções bacterianas secundárias).

Pulmones del lechón de 10 semanas necropsiado.
Pulmões do leitão de 10 semanas necropsiado.

Em resposta ao surto de gripe, decidiu-se vacinar todas as porcas duas vezes com 3 semanas de intervalo com uma nova vacina trivalente (H1N1, H1N2, H3N2) e tratar os porcos afectados com ácido acetilsalicílico ou paracetamol.

Evolução do caso

A vacinação massiva contra influenza levou-se a cabo em Agosto de 2010. As análises serológicas levadas a cabo em leitões demostraram uma boa transferência passiva de anticorpos maternais contra o virus da gripe por parte das porcas vacinadas.

Sem embargo, em Novembro apareceu um severo síndrome com vários sinais clínicos: já não havia tosse nas porcas, mas sim uma diarreia neonatal, streptococcose, colibacillose e tosse na engorda de animais nascidos de fêmeas não vacinadas.

Intestino delgado de un lechón con colibacillosis Pericarditis relacionada con infección estreptocócica.
Intestino delgado de um leitão com colibacillose

Pericardite relacionada com infecção estreptocócica.

Em Novembro de 2010, fizeram-se análises laboratoriais adicionais que evidenciaram uma co-circulação de PRRSV (Figura 1) e Mycoplasma hyopneumoniae (Figura 2) na engorda.

Figura 1: Resultados de serologias Idexx para PRRS de Novembro de 2010.

Resultados de serologias Idexx para PRRS de Novembro de 2010

Figura 2: Resultados de serologias Idexx para Mhyo de Novembro de 2010.

Resultados de serologias Idexx para Mhyo de Novembro de 2010

Era evidente uma forte desestabilização da exploração contra a PRRS e o Mhyo.

Junto com o suinicultor decidiu-se:

  • Revacinar duas vezes com vacina viva modificada de PRRSv todas as porcas e nulíparas (intervalo de 3 semanas entre as 2 injecções).
  • Tratamento das nulíparas com macrólidos (contra a infecção por micoplasma) antes de entrar à cobrição para evitar a recirculação de Mhyo entre as porcas (neste momento as porcas não apresentavam sinais clínicos).
  • Melhoria da biossegurança interna.
  • Acompanhamento serológico dos leitões de porcas vacinadas contra influenza e PRRS.

Na figura 3 mostra-se a evolução dos títulos serológicos em leitões (medidos com ELISA para influenza) nascidos do primeiro lote de fêmeas vacinadas com a vacina trivalente de influenza. Não se detectou mais circulação de influenza nestes leitões.

Evolução dos títulos ELISA (Influenza Abs) de dez leitões nascidos de porcas vacinadas

Figura 3: Evolução dos títulos de ELISA (Influenza Abs) em 10 leitões nascidos de porcas vacinadas.

Nesta figura deve-se destacar que 5 leitões (901 a 905) nasceramn de primíparas e os outros 5 de porcas mais velhas: os títulos são bastante mais baixos nuns que nos outros. Sem embargo, não houve recirculação de influenza em toda a engorda dos referidos animais.

O impacto económico do primeiro surto de gripe e da circulação concomitante posterior de PRRSv e Mhyo foi notável, como pode ver-se nas tabelas 3 e 4 (podem comparar-se com as tabelas 1 e 2 de antes do surto).

Tabela 3: Resultados técnicos da maternidade em comparação com resultados de referência da Bretanha, depois do surto.

Exploração en 2011 10 % melhores da Bretanha em 2011
Desmamados/porca/ano 27,2 31,6
Nascidos totais 14,2 14,7
Desmamados/ninhada 11,05 12,3
Perdas na lactação 14,8 % 10,6 %
Nascidos mortos 6 % 6,1 %
Fertilidade 89,1 % 93,2 %

Tabela 4: Resultados técnicos da engorda em comparação com resultados de referância da Bretanha, antes do surto.

Exploração em 2011 10 % melhores da Bretanha em 2011
Porcos produzidos/porca 23 24,7
Conversão global 2,74 2,8
Perdas desmame-matadouro 6,9 % 5 %
GMD 30-115 kg 755 g 796 g

Comentários

Este caso clínico ilustra as consequências de um surto de gripe numa exploração de ciclo fechado: desestabiliza-se o estado sanitário e favorece-se a circulação concomitante de PRRSV e Mycoplasma hyopneumoniae o que induz uma severa descida dos parâmetros técnicos e económicos durante todo um ano.

Em Julho de 2011, realizaram-se serologias contra a PRRSv e Mycoplasma hyopneumoniae e todas as amostras foram negativas, como antes do surto.

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