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Susceptibilidade a Mycoplasma hyorhinis em função da idade

Enric Marco comenta um estudo que conclui que quanto mais tarde aparece a infecção por M hyorhinis, menos grave é. Esta informação pode ser muito útil para definir novas estratégias de controlo na era da redução dos antibióticos.

Poliserositis observada en enfermedad sistémica por M. hyorhinis

Poliserositis observada en enfermedad sistémica por M. hyorhinis

13 Dezembro 2017
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Artígo

Martinson B, Minion FC, Krollb J, Hermann J. Age susceptibility of caesarian derived colostrum deprived pigs to Mycoplasma hyorhinis challenge. 2017. Veterinary Microbiology. Vol 210, 147-152.

O que se estuda?

O Mycoplasma hyorhinis (Mhr) costuma causar poliserosites e poliartrites em leitões de 3-10 semanas de vida. A literatura sugere um límite de idade para a susceptibilidade a Mhr mas até há pouco tempo era um dado difícil de analisar devido à incapacidade para reproduzir a doença de modo experimental.

Como se estuda?

Neste estudo, os autores avaliaram um modelo de infecção com Mhr utilizando material infectante associado a células nas mesmas ninhadas aos sete, dez, treze e dezasseis semanas de idade. O protocolo experimental de infecção com Mhr utiliza leitões obtidos por cesariana e privados de colostro, obtendo pericardite e coxeiras severas. Os leitões de cada grupo de idade foram inoculados com Mhr em 3 dias consecutivos: uma injecção intraperitoneal de 20 ml no dia 0, uma injecção intravenosa de 10 ml no dia 1 e uma aplicação intranasal de 10 ml (5 ml/fossa nasal) no dia 2. Também havia animais-controlo de cada grupo de idade. Os porcos foram observados diariamente desde o primeiro dia e até aos 21 dias pós-inoculação por ver se apresentavam coxeiras. Pesaram-se antes da primeira inoculação e no dia 21, justamente antes da eutanásia. Após a eutanásia, realizou-se um exame patológico macroscópico no sentido de se encontrarem evidências de poliserosite. Recolheram-se 2 zaragatoas em cada porco; uma pericárdica e uma das superfícies articulares dos dois cotovêlos e dos dois joelhos. Nos animais com pleurite ou peritonite evidentes também se recolheram zaragatoas da pleura e da serosa.

Quais são os resultados?

  • A incidência de coxeiras foi similar às sete, dez e treze semanas de vida (> 60 %) com menos animais afectados (33 %) entre os de dezasseis semanas.
  • O número de animais com artrites baixou de 100 %, às sete semanas, para 25 %, às dezasseis.
  • A pericardite reduziu-se drasticamente de 87%, às sete semanas, para 4 %, às dezasseis.
  • O GMD foi, no mínimo, de 270 g/dia (0,6 lbs/dia) menos que os porcos do grupo controlo da mesma idade.
  • A maior diferença de GMD aconteceu às treze semanas de vida (545 g/dia, 1,2 lbs/dia).

Que conclusões se retiram deste trabalho?

Os resultados deste estudo mostram que os leitões foram susceptíveis a coxeiras associadas a Mhr pelo menos até às dezasseis semanas de vida, enquanto que as poliserosites associadas a Mhr tiveram um pico às sete semanas de vida. As perdas económicas provocadas pelo Mhr podem-se atribuir a uma redução do rendimento (GMD e índice de conversão)ey a que alguns animais tivessem que ser sacrificados.

A determinação da idade com maior susceptibilidade a M hyorhinis pode definir a duração da imunidade requerida para qualquer vacina potencial e servir de guia para a optimização dos tratamientos antibióticos e optimizar o seu uso.

Enric MarcoA visão a patir do campo por Enric Marco

Durante a fase de pós-desmame, a poliserosite é, possivelmente, um dos quadros clínicos mais frequentes. Evidentemente que a frequência e a gravidade da poliserosite é maior quando os animais têm que enfrentar ao mesmo tempo uma doença vírica como é o PRRS ou a Gripe Suína. Com efeito, foi com a chegada do PRRS que começámos a ver quadros graves de poliserosite. Sempre a tínhamos relacionado com infecções por H. parasuis ou S. suis e não foi assim há tanto tempo como isso que também se considera o M. hyorhinis como outro dos possíveis causadores. A presença de mais de um agente patogénico implicado no quadro clínico é normal e as estratégias terapêuticas devem ser complexas pois devem procurar o controlo dos diferentes agentes implicados.

Os resultados do trabalho são interessantes já que nos indicam que, dependendo do momento em que apareça a infecção, a gravidade da mesma é distinta e, concretamente, quanto mais tarde menos grave. Com a redução progressiva do uso de antibióticos que estamos a fazer, os problemas na fase de pós-desmame vão ser mais difíceis de controlar, dado que o uso de várias moléculas numa mesma medicação vai ser uma situação excepcional. Neste sentido, há que começar a pensar em novas estratégias de controlo. No caso da infecção por M. hyorhinis, tal como sucede com os outros mycoplasmas, os leitões infectam-se a partir das porcas e, muito possivelmente, a precocidade da infecção seja função do grau de colonização que tenham os leitões. Se isto fosse assim, uma medicação realizada às porcas no pré-parto poderia reduzir a colonização dos leitões como sucede com o M. hyopneumoniae? E se se reduzisse esta colonização, atrasar-se-ia o aparecimento da doença? E ao se atrasar, reduzir-se-ia a sua gravidade como mostra o artigo? Um controlo precoce do M. hyorhinis permitiria centrar os esforços no combate aos outros gérmens que se encontram envolvidos na poliserosite, ou quiçá, sendo optimistas e imaginando que fosse um gérmen primário no processo, tão só com o seu controlo seria suficiente para retornar à normalidade.

Penso que ainda não estamos capacitados para contestar às perguntas que formulo mas o mero facto de que um artigo as provoque é bastante estimulante. Quanto mais connhecermos a epidemiologia do M.hyorhinis mais possibilidades teremos de encontrar novas estratégias para o seu controlo.

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