Introdução
Para ganhar e fortalecer a confiança do consumidor, o sector pecuário passou por diversos desafios nos últimos 20 anos. Como a implementação da rastreabilidade e HACCP que permitiram garantir elevados padrões de segurança alimentar, bem como adoptar elevados padrões de bem-estar animal. Nos próximos anos, o sector enfrentará um novo desafio, que é o de garantir uma produção sustentável com um mínimo de impacto no meio ambiente.
A sustentabilidade consiste em satisfazer as necessidades actuais sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem as suas, mantendo sempre um equilíbrio entre o conceito de sustentabilidade ambiental, social e económica.
Na produção pecuária, os principais factores de sustentabilidade são: a pegada ambiental (onde está incluída a pegada de carbono), o bem-estar animal, o uso razoável de antibióticos (de modo a reduzir a sua resistência) e, finalmente, todos os aspectos relacionados com o pessoal e sociedade. Deve ser destacado que a maioria desses factores já estão a ser considerados nas empresas, hoje, mas é importante agrupá-los todos sob o guarda-chuva da sustentabilidade (Figura 1). Aqui vamos lidar com a pegada ambiental.
Embora possam existir diferentes opiniões e controvérsias sobre as mudanças climáticas e outros problemas do planeta, há bastante informação científica que destaca os desafios que o planeta enfrenta. O grupo do professor Rockstrom, da Universidade de Estocolmo, actualiza regularmente o estado de 9 desafios e observa que 4 destes já ultrapassaram os limites de segurança: mudanças climáticas, biodiversidade, uso da terra e fluxos de nitrogénio e fósforo (Figura 2). E estes 4 estão intimamente relacionados com a produção pecuária.
Pegada ambiental
A pegada ambiental é definida como a medida do impacto humano, de acções ou produtos, no meio ambiente. Tem em conta 16 parâmetros, dos quais se podem assinalar 6 que estão directamente relacionados com a produção pecuária: alterações climáticas, partículas em suspensão, acidificação dos solos e água terrestre, eutrofização terrestre por nitrogénio e fósforo, uso da terra e esgotamento de recursos hídricos. A pegada ambiental pesa os 16 parâmetros e fornece uma única informação para que possa ser reflectida no futuro num rótulo. Refira-se que a União Europeia (UE) iniciou uma consulta pública para legislar sobre rotulagem de sustentabilidade, onde a pegada ambiental é de primordial importância.
Em 2013, a UE iniciou um processo de unificação das metodologias a serem utilizadas para o cálculo da pegada ambiental com a publicação do PEFCR (Product Environmental Footprint Category Rules). Para o sector de rações compostas, a metodologia está disponível desde 2018 e dela tem participado uma ampla representação sectorial: associações, fabricantes de aditivos e fabricantes de rações. Da mesma forma, a UE publicou recentemente uma recomendação sobre como comunicar a pegada ambiental (UE, 2021).
No cálculo da pegada ambiental da produção suína, a fracção mais importante corresponde à alimentação. Na metodologia PEFCR, os 6 parâmetros da pegada ambiental, mencionados anteriormente, foram ponderados de maior a menor importância na seguinte ordem, de acordo com o mostrado na Tabela 1. Obviamente, os outros 16 parâmetros também influenciam, mas com foco nos 6 parâmetros indicados, tendo praticamente 2/3 do total.
Tabela 1. Peso das 6 categorias mais importantes sobre a pegada ambiental da ração (European Comission, 2018, adaptado por Coma et al, 2021).
Categoria do impacto | % do peso |
---|---|
Alteração climática | 34,8 |
Uso da terra | 11,0 |
Esgotamento de recursos hídricos | 11,0 |
Partículas em suspensão | 9,7 |
Acidificação do solo e da água terrestre | 9,0 |
Eutrofização terrestre por N e P | 7,1 |
Em relação aos gases de efeito estufa, 26% do total de gases de efeito estufa emitidos estão associados a alimentos e 14% estão associados à produção de alimentos de origem animal (Ritchie, H. 2019). De referir que a pegada de carbono dos alimentos para animais representa cerca de 62% da pegada de carbono associada à produção de um kg de carne de porco (Coma et al, 2021).