A transmissão aerógena de agentes infecciosos continua a ser um dos problemas mais importantes do sector suinícola. Como exemplo de agentes patogénicos transmissíveis por via aerea poderiamos destacar a gripe suína, o Mycoplasma hyopneumoniae, o vírus do PRRS, o vírus de Aujeszky, os vírus responsáveis palas doenças vesiculares e inclusivamente agentes patogénicos como a Salmonella e o vírus da Diarreia Epidémica Suína. Infelizmente, as opções que existem para evitar a disseminação aerógena destes agentes infecciosos são limitadas.
Os vírus e as bactérias, após serem expulsos por um animal infectado, viajam pelo ar aderidos a partículas de matérias de diferentes composições e formas. O pó, especialmente o procedente de instalações agrícolas onde residem os animais, é composto de partículas contaminantes (orgânicas ou inorgânicas) que, após serem inaladas, produzem um efeito adverso no rendimento dos animais e na saúde, tanto de animais como de pessoas, já que são irritantes do tracto respiratório, aumentam a susceptibilidade às doenças respiratórias e servem como veículo de entrada de bactérias e vírus.
A maneira mais directa de diminuir a concentração de agentes infecciosos no ar é diminuir a concentração de pó. Podem-se utilizar várias estrategias para diminuir o pó em instalações com animais. Entre elas destacamos, por exemplo, o uso de diferentes técnicas de alimentação (alimentação líquida, ração granulada, uso de aditivos alimenticios, etc...), a pulverização de instalações/superfícies com água ou óleos, o tipo de ventilação dos pavilhões e a distribuição do ar e os precipitadores electrostáticos e ionizantes.
O uso de iões ou de tecnologia ionizante para eliminar partículas no ar não é um conceito novo na agricultura. O efeito desta tecnologia já foi demostrado em projectos de investigação tanto em avicultura como em produção suína e considera-se uma das tecnologias higienizantes do ar mais eficientes relativamente a outras técnicas convencionais como a pulverização de óleos sobre superfícies ou as alterações na ventilação e distribuição do ar. Actualmente existe no mercado um sistema de ionização de partículas denominado EPI nas suas siglas em inglâs (Electrostatic Particle Ionization Technology). Consiste numa barra metálica com electrodos ligados a uma fonte de alta voltagem (-30 KV) os quais emitem uma elevada quantidade de iões para o ar. Estes iões darão uma carga negativa (ionizarão) as partículas suspensas no ar ao colidir com elas e estas partículas, uma vez carregadas, são atraídas para as superficies próximas (paredes, tectos, etc.) sendo assim eliminadas do ar (foto 1). Estudos experimentais em diferentes explorações comerciais analisaram as vantagens económicas do sistema e demonstraram que a implementação desta tecnologia ionizante favoreceu, em média, 12,2% o ganho médio diário (GMD) e reduziu a mortalidade em 1,2% em leitões das baterias de um grande sistema de produção durante um período de 12 meses.
Foto 1. Representação da instalação do sistema EPI em exploração. Fonte: www.epiair.com
Posteriormente, na Universidade do Minnesota, Montserrat Torremorell e Carmen Alonso, levaram a cabo um conjunto de estudos com os que analisaram a eficácia do sistema frente a partículas aerosolizadas e especificamente contra os vírus do PRRS, gripe e DES presentes em aerosóis gerados por animais infectados. Simularam-se diferentes condições de exploração para estudar a capacidade do sistema EPI para diminuir a quantidade de microorganismos presentes no ar e a sua viabilidade una vez expostos aos iões. Para isso empregaram-se diferentes métodos de amostragem do ar e técnicas moleculares como as PCR quantitativas e métodos de isolamento para demonstrar a presença de vírus vivo. Os resultados das amostras de ar recolhidas durante o estudo demonstraram que o sistema EPI foi eficiente para diminuir a quantidade de partículas do ar mas a referida eficiência variou segundo o tamanho de partícula, sendo de entre 76% em partículas de 0,5-1 micras e 80% em partículas de 1 a 3 micras. Os resultados referentes à presença de vírus demonstraram que a eficiência do sistema é diferente entre agentes patogénicos, sendo o PRRS o agente patogénico que mais pôde ser eliminado do ar, seguido pelo vírus da gripe e depois o vírus da DES (foto 2). Os isolamentos de vírus das amostras de ar demonstraram a presença de vírus vivo depois do aerosol ter sido tratado com os iões.
Gráfico 1. Percentagem de vírus eliminados do ar após tratar o aerosol gerado por animais
durante um surto agudo dos virus de gripe (IAV), PRRS e DES (PEDV).
Entender o potencial deste tipo de tecnologias higienizantes do ar é mais um passo para ajudar a mitigar a propagação de agentes patogénicos no ar e com isso favorecer a saúde dos animais na exploração e das pessoas que nela trabalham.
Foto 2. Sistema EPI instalado numa suinicultura e colector ciclónico
(apartado de recolha de amostras de ar em meio líquido). Foto cortesia de Dr. Gil Patterson