Uso de dietas especiais em pré e pós-parto

Quando nos questionamos sobre como alimentar uma porca na maternidade, há várias perguntas que nos habituamos a fazer:

1. Devemos utilizar a ração de gestação antes do parto?
2. Devemos racionar antes e depois do parto?
3. Devemos dar algum suplemento de fibra durante o parto?
4. Devemos dar rações diferentes antes, durante e depois do parto?
5. Como alimentar bem uma porca para conseguir o máximo potencial dela? Devemos aumentar a ração de forma rápida?

Vamos tentar dar alguns conselhos práticos sobre como alimentar uma porca especialmente durante o periparto.

É cada vez mais comum o uso de uma ração especial de pré-parto ou de "transição" entre a ração de gestação e de lactação. É fornecida desde a entrada da porca na maternidade até 2-3 dias pós-parto, e muitas vezes são caracterizadas por:

• Ter um balanço electrolítico que baixa o pH urinário, reduzindo o risco de infecções urogenitais e promovendo a absorção intestinal do cálcio e a sua mobilização óssea. Por conter elevados níveis de fibra dietética que reduzem o risco de obstipação.
• Também costumam incorporar ácidos gordos omega 3, altos níveis de vit E e ácidos gordos de cadeia média, que melhoram a vitalidade dos leitões.

Em geral, a partir de uma perspectiva prática, podemos dizer que a utilização das rações pré-parto levam a uma melhoria do estado de saúde da porca, reduzindo o risco de infeções urinárias e favorecendo partos mais rápidos, com menor número de leitões nascidos mortos, consequentemente com um aumento do número de leitões nascidos vivos, maior vitalidade dos mesmos (menor mortalidade em lactação) e maior número de leitões desmamados por parto.

Em diferentes seguimentos no campo, durante mais de um ano, vimos algumas melhorias que são cerca de 0,25 leitões desmamados por ninhada. Na tabela pode ver um teste numa exploração comercial. Apesar das porcas que consumiram ração pré-parto terem tido mais leitões (+0,22), desmamaram mais 0,5 leitões por ninhada devido à maior sobrevivência (+3,32%).

O uso de rações de pré-parto na prática

O uso de duas rações diferentes para as porcas na maternidade nem sempre é uma abordagem simples, pois normalmente obriga a dar ração de forma manual e a dispor de dois silos ou usar sacos.

As explorações em que implementamos este sistema, em geral são de tamanho grande ou muito grande e com uma organização muito boa do trabalho e do pessoal. Nas explorações médias ou pequenas que querem usar este sistema, recomendamos muitas vezes o sistema de trabalho em bandas de 3 ou 4 semanas para juntar um número significativo de partos por banda e assim facilitar o maneio.

Maneio da alimentação em pré e pós-parto

Há muita controvérsia sobre se se deve ou não racionar. A recomendação de racionar é devido à convicção de que ao não fazê-lo se pode provocar edema do úbere, redução da produção de leite, diarreias nos leitões ou queda do consumo na 1ª ou 2ª semana de lactação.

Deve-se racionar no pré-parto?

Deve-se ter em conta que as duas últimas semanas de gestação são as de maiores necessidades para o crescimento fetal (duplica o seu peso), o que implica umas necessidades extra de 0,7 a 1 kg de ração/dia. A experiência de campo indica que um consumo excessivamente baixo antes do parto limita a capacidade do suinicultor em aumentar o consumo no ínicio da lactação. Assim, as porcas à entrada para a maternidade devem manter o mesmo nível de consumo que tinham na gestação, normalmente de 3 a 3,5 kg. No dia do parto fornecer pelo menos 1,5 kg.

Figura 1. Evolução do peso dos leitões, fluídos de placentas e úbere durante a gestação.

Deve-se racionar no pós-parto?

As porcas em lactação têm necessidades nutricionais muito altas e em geral são incapazes de comer o que necessitam. O défice nutricional é mais ou menos compensado pela mobilização de reservas.

Uma percentagem das porcas sofre uma queda de consumo independentemente de haver ou não um racionamento anterior, no entanto, as porcas racionadas têm um menor consumo global na lactação, maior perda de condição corporal da porca, menor peso da ninhada ao desmame e desempenho reprodutivo subsequente. Portanto, o objetivo no pós-parto é conseguir o máximo consumo de nutrientes o mais rapidamente possível. Para o conseguir podemos seguir as recomendações da tabela seguinte:

Embora possam parecer níveis muito altos, as porcas alimentadas ad libitum consomem voluntariamente estas quantidades de ração sem problema, como podemos ver nos gráficos abaixo para uma experiência do INRA, em que se usaram dietas de gestação com (1) ou sem (0) ervilhas, colza e polpa de beterraba até ao 3º dia pós-parto, quando se começam a dar as dietas de lactação com (1) ou sem (0) esses ingredientes. (Quiniou, 2006).

Figura 2. Evolução do consumo médio diário das porcas segundo a alimentação no momento da transição alimentar (dia 3).

Neste trabalho, Quiniou conclui ainda que a continuidade do perfil das matérias primas entre a gestação e a lactação facilita o consumo voluntário da porca depois do parto.

Conclusões

Durante o périparto, podem utilizar-se rações específicas que demonstraram os seus benefícios tanto para facilitar o parto como na sobrevivência dos leitões. No entanto, temos que avaliar se esta prática é viável em todas as explorações. Por outro lado, e independentemente do tipo de dieta utilizada, há que ter em conta que racionar a ração antes e depois do parto não é uma práctica recomendada.