A ecografia tipo B é uma modalidade de diagnóstico amplamente utilizada na reprodução masculina, particularmente em humanos. Foi demonstrado que, para determinar as causas de problemas de sub-fertilidade e infertilidade e para diagnosticar doenças do tracto genital masculino, uma opção factível é visualizar os testículos, o epidídimo e as glândulas sexuais acessórias. Em medicina veterinária, a ultrasonografia tem sido utilizada em cavalos, toiros, cervos, bemcomo cães, mas também, ainda que com menos frequência, em varrascos, técnica que será descrita brevemente neste artigo.
A ecografia tipo B do tracto reprodutivo do varrasco tem que se realizar enquanto o varrasco se encontra levantado e, sendo possível, também imobilizado. Isto pode conseguir-se colocando o varrasco numa jaula ou realizar o scanner enquanto o varrasco monta o manequim durante a recolha de sémen. Outra forma para a imobilização é levantar o varrasco mediante o uso de rampas especialmente desenhadas para o efeito, mas isto pode ter a limitação de levar a uma ligeira deslocação anatómica do testículo e do epidídimo. Nalgunos casos também é possível scannear varrascos tranquilos após a recolha de sémen no parque de recolha ou enquanto estão nos seus parques.
Há muitos aparelhos de ultrasons que se podem utilizar para scannear o tracto reprodutivo do varrasco. Se bem que não seja essa a intenção - dar prioridade a modelos concretos neste documento -, os autores adquiriram experiência, com grande êxito nesta técnica de diagnóstico, utilizando dispositivos que têm alta resolução, incluindo o HONDA 1600, Fazone CB e Zonare Z-one.
O scanner das glândulas sexuais acessórias tem que se fazer transrectalmente usando uma sonda linear (Clark e Althouse, 2002; figura 1), enquanto que para o testículo, o epidídimo e o cordão espermático, um sector ou sonda (micro) convexa seja o tipo de dispositivo preferido (figuras 2A e B). Foram utilizadas frequências de 5,0 a 9,0 MHz, sendo as frequências mais baixas as mais apropriadas para os tecidos que requerem uma maior profundidade de penetração (ou seja, o testículo e o corpo do epidídimo) e as frequências maos altas para estruturas mais pequenas como a cabeça e a cauda do epidídimo). Portanto, dependerá do objectivo do exame saber que sonda e que frequência serão as óptimas.
Antes de scannear o testículo, epidídimo e cordão espermático, a superfície escrotal deve-se limpar e, se necessário, barbear.
Os testículos podem-se scannear longitudinalmente ou transversalmente (figura 2A e B). Para determinar a circunferência do testículo, devem-se usar imagens transversais. O tecido testicular são tem uma ecogenicidade média e apresenta uma ecotextura homogénea, com o rete testis hiperecogénico no centro do testículo (figura 3A e B).
O scanner do epidídimo tem que se fazer em várias posições dependendo da área de interesse. Para a cabeça trabalharemos ventralmente; para o corpo transversalmente no meio do eixe horizontal do testículo enquanto se sustém manualmente; para a cauda realiza-se o scanner dorsal enquanto se empurra manualmente o testículo e o epidídimo dorsalmente (figura 4, Kauffold et al., 2011).
Em geral, o tecido do epidídimo também é de ecotextura homogénea e regular, sendo mais fino na cabeça e no corpo e um pouco marmoreado na cauda (figura 5A-C). Contudo, a ecogenicidade, determinada pela "análise de escala de cinzentos", e dada como o valor cinzento médio, difere ligeiramente entre os três segmentos, juntamente com alterações nas imagens obtidas comparando antes e depois da recolha de sémen (Kauffold et al. 2011) do varrasco.
Clark e Althouse (2002) fizeram a melhor descrição das glândulas sexuais acessórias sãs (bulbouretral, próstata e glândula vesicular): "O par de glândulas bulbouretrais (...) são as glândulas ovais compridas com um aspecto ecogénico uniforme e com um grande espaço anecogénico no centro da glândula que se estende na maior parte do seu comprimento. (...) As paredes das glândulas vesiculares são finas e o parênquima tem múltiplas áreas pequenas e eco-translúcidas que parecem fundir-se e formar um canal central. A glândula prostática identifica-se como uma glândula do tamaño de uma noz com aspecto ecogénico uniforme". Como se demonstrou para o epidídimo, a arquitectura das três glândulas mudou depois da ejaculação em comparação com a pré-ejaculação na medida em que o "componente líquido" diminuiu e as glândulas aparecem com uma maior ecogenicidade.
Os estudos sobre o uso prático da ecografia na reprodução do varrascos são escassos. O diâmetro dos testículos tem-se determinado com a finalidade de o relacionar com o número total de espermatozóides produzidos, em média, no ejaculado (Clark et al., 2003) ou para avaliar o desenvolvimento puberal (Ford & Wise, 2010). Se bem que a correlação do diâmetro de ambos testiculos e o número total de espermatozóides foi pobre, pelo menos nos varrascos com mais de 8 meses; a determinação do tamanho testicular dos varrascos mais jovens, aproximadamente aos 4 meses, pareceu útil para a previsão do volume testicular e de produção de esperma quando o varrasco chegava à maturidade. Há um relatório recente sobre um varrasco Large White infértil com uma degeneração multiquística da glândula bulbouretral; na glândula afectada visualizaram-se quistos anecogénicos sólidos e bem definidos de diferentes tamanhos (figura 6, Grahofer et al., 2016).
Em resumo, a ecografia do tracto reprodutivo do varrasco é uma modalidade de diagnóstico viável que pode fornecer informação valiosa reslativamente à função e na saúde do tecido. Se bem que o seu uso prático seja actualmente limitado, o autor está firmemente convencido que o uso desta modalidade (além de outras como Doopler a cores [figura 7A e B]) venham a ter um maior uso entre os veterinários de suíno como uma ferramenta para prever o rendimento potencial dos ejaculados e para diagnosticar, de forma precisa, problemas de sub-fertilidade e infertilidade associada a tecidos doentes.
Agradecimentos
Os autores agradecem a Nadja Legler pela ajuda na criação das imagens usadas neste artigo.