Este caso desenrola-se numa empresa integradora, com sistemas de produção em 2 sítios (sítio 1: porcas + leitões até aos 18 kg PV, sítio 2: engordas) e sistemas de produção em 3 sítios (sítio 1: porcas + leitões até aos 6 kg PV; sítio 2: baterias e sítio 3: engordas).
Este caso apresenta a vacinação dos porcos dos sítios 3 multiorigem contra a gripe, numa zona do Centro-Leste de Espanha com elevada concentração de engordas, as razões que nos levaram à implementação deste protocolo vacinal e os resultados obtidos.
A vacinação contra a gripe de todas as engordas da zona de estudo é decidida após um historial recorrente de quadros respiratórios, principalmente concentrados no último terço da fase de engorda.
As origens dos porcos destas engordas e o estatuto sanitário das explorações de origem eram variáveis.
Os quadros respiratórios do final da engorda não eram associados a algumas origens em concretos, mas mais a uma zona e época concretas; contrariamente ao que se poderia pensar, tínhamos mais casos e com mais virulência em épocas estivais.
Quadro clínico e evolução
O quadro que se observava era o aparecimento, na última fase da engorda, de um quadro agudo e febril com dispneias e tosses generalizadas. À primeira vista, a clínica coincidía com uma problemática gripal aguda com elevada morbilidade e baixa mortalidade. Geralmente era tratada com antipiréticos e, se havia complicações bacterianas, com antibioterapia.
A sintomatologia reduzia-se com o passar dos dias após o tratamento mas, contrariamente ao esperado numa dinâmica gripal aguda, aos 15-20 dias voltava-se a complicar o quadro, ainda que de uma forma menos generalizada.
Voltavem as dispneias, tosses, febre moderada, perda de condição corporal e aparecimento, pouco a pouco, de mortes devido a complicações secundárias.
Voltava-se a tratar e, na maioria dos casos, o problema tornava-se crónico e durava até ao final da criação, com o consequente prejuízo nos dados globais da engorda, bem como o "desgaste" por parte do suinicultor e serviço técnico da exploração.
Nas necrópsias, segundo a duração do quadro, viam-se lesões compatíveis com gripe, Mycoplasma, PRRS ou uma mistura das três. Nalguns casos também se observavam lesões compatíveis com Pasteurella e outras complicações bacterianas (fotos 1 e 2).
Fotos 1 e 2: Lesões de necropsia, compatíveis com pneumonia enzoótica, gripe, PRRS e outras complicações bacterianas.
As análises serológicas, com ELISA, mostravam titulações elevadas para Mhyo, gripe e PRRS. Os títulos eram variáveis, segundo a dinâmica e duração do problema.
Durante o processo, foram enviadas várias amostras de pulmões para diferentes laboratórios para diagnóstico, bem como também alguns indivíduos adultos para a Faculdade de Veterinária de Saragoça.
Dependendo da cronicidade do processo, no laboratório foram isolados tanto vírus gripe como vírus PRRS.
Porque se escolheu a vacinação contra a gripe?
Com todos estes resultados, sabendo que intervinham na grande maioria dos casos Mhyo, vírus gripe e vírus PRRS e vendo a repetitibilidade desta problemática numa zona em concreto, optou-se por actuar sobre um dos três agentes que intervinham sempre no processo.
A vacina contra a Mhyo foi descartada porque as engordas da zona problemática nem sempre se enchiam com as mesmas origens e, ao trabalhar com um elevado número de explorações de reprodutoras na empresa, tinha-se implementado a vacinação de todos os leitões, critério que não entrava nos nossos planos.
Quanto aos outros dois agentes, PRRS e Gripe, decidiu-se agir contra o segundo por 2 motivos: um menor custo, e a conveniência de se poder combinar a sua aplicação juntamente com a vacina de Aujeszky, facilitando muito o maneio.
Escolheu-se uma vacina que fosse compatível com a de Aujeszky e que tivesse as estirpes de gripe que se tinham isolado nas amostras enviadas para o laboratório (H1N1 e H3N2).
Resultados da vacinação contra a gripe
Após a vacinação, em 2014, começou-se a observar que a prevalência dos casos diminuía numa elevada percentagem relativamente aos anos anteriores à vacinação: em 2014 reduziu-se o aparecimento de casos de problemática respiratória no final da engorda em 79,5% e em 2015 em 66% (figura 1).
Figura 1. Evolução do número de casos de problemas respiratórios no final da engorda antes e depois da vacinação contra o vírus da gripe.
A seguir apresenta-se um exemplo da repercussão dos quadros respiratórios nos resultados produtivos e económicos.
A tabela 1 mostra que pioraram os três parâmetros produtivos em duas explorações com problemas respiratórios, junto com a sua avaliação económica, relativamente à média das engordas localizadas noutras zonas com as mesmas origens e no mesmo período de tempo.
Tabela 1. Diferencial dos resultados produtivos e económicos de duas explorações problemáticas relativamente à média de outras engordas com as mesmas origens noutras zonas. Dados para porcos entre 18 e 100 kg.
↑ ração consumida | ↑ baixas | ↑ custo medicamentos |
↑ Custo porco engordado |
|||
g / kg PV | €/porco | % | €/porco | € /porco | € / porco | |
Exploração 1 (dados de 2012) |
113 | 2,88 | 2,05 | 1,64 | 0,57 € | 5,09 |
Exploração 2 (dados de 2013) |
62 | 1,73 | 3,50 | 3,33 | 0,79 € | 5,85 |
A repercussão económica de terem piorado os parâmetros produtivos, em consequência dos problemas respiratórios, no custo final do porco engordado é da ordem dos 5-6 € a mais por porco engordado.
Conclusões
A conclusão a que chegamos é que o Mycoplasma hyopneumoniae actuava como porta de entrada dos outros dois agentes que intervinham, complicando e tornando crónico o quadro respiratório; tentando controlar a gripe através da vacinação, conseguiram-se reduzir os quadros respiratórios e, sobretudo, deixaram de ter tendência a serem crónicos, reduzindo-se os gastos em antipiréticos e antibióticos. Os resultados produtivos voltaram aos valores médios de outras engordas com as mesmas origens e, por conseguinte, melhorou-se a rentabilidade das engordas dessa zona.