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Caso clínico: Vacinação PCV2

Como devemos fazer a vacinação contra o PCV2 e em que casos o devemos fazer

6 Setembro 2010
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Descrição da Exploração




Trata-se de uma exploração integrada, produtora de leitões de 10 semanas de vida, com cerca de 1300 porcas produtivas.

A exploração é positiva a PRRS, pneumonia enzoótica e sarna.

Historicamente na engorda têm aparecido problemas associados a Circovirose Suína, que se corrigiram de forma eficaz vacinando os leitões ao desmame.

A reposição faz-se com marrãs de 6 meses de idade desde uma exploração multiplicadora externa própria do integrador.

A fase final do processo de erradicação da Doença de Aujeszky provocou que no ano 2008 se tivessem abatido muitas reprodutoras, sendo necessário forçar a entrada de primíparas.

No ano 2009 muda-se de integrador. O mais significativo da mudança é que se muda a origem da reposição e deixa-se de vacinar as reprodutoras contra a PRRS.

A exploração é visitada pela primeira vez em Dezembro de 2009. O motivo da visita são graves problemas ao nível reprodutivo (abortos, repetições) e ao desmame, com muitos leitões com fraco crescimento e um elevado índice de mortalidade.

O que mais surpreende é ver todos os leitões no dia seguinte ao desmame amontoados, apesar de que a temperatura ambiente seja a adequada para animais recém-desmamados.


Primeiras Observações




Os animais amontoavam-se porque tinham muita febre. O que faz com que não estejam confortáveis apesar de que a temperatura ambiente seja a recomendada em condições normais.

Sendo que a exploração é PRRS positiva recolhem-se amostras de animais em diferentes fases de produção para avaliar qual é a situação da exploração contra esta doença.

Os resultados são os seguintes:

Transição, serologia contra a PRRS


Engorda, serologia contra a PRRS


Reprodutoras, serologia contra a PRRS



Diagnóstico




Considerando os resultados das análises pode-se confirmar que o PRRS recircula em todas as áreas de produção: reprodutoras, transição e engorda.

Pode-se comprovar que a adaptação das primíparas não é correcta. Há muitas que uma vez cobertas ainda não tiveram contacto com o vírus. A introdução de animais negativos ao ciclo produtivo provoca uma grave recirculação de PRRS. Este facto evidencia-se de forma clara nos resultados das analises das porcas primíparas e multíparas.

A alteração na origem das primíparas foi a chave no aparecimento do problema. Em princípio as marrãs com as que se fazia e reposição na exploração eram PRRS positivas, enquanto que o novo integrador faz a sua reposição de uma fonte negativa de PRRS.

O surto agudo nas reprodutoras faz com que ao nascerem muitos leitões já sejam virémicos. No momento do desmame, ao vacinar leitões virémicos contra o PCV2, amplifica-se a recirculação do vírus, muitos contagiam-se de forma mecânica ao ser utilizada a mesma agulha.

Ao stress próprio do desmame junta-se o da vacinação, o que desencadeia o problema grave observado nos leitões.

Medidas Aplicadas




Uma vez diagnosticado o problema as medidas aplicadas vão em duas direcções.

1.- Por um lado tentar estabilizar a exploração frente ao PRRS.

Para isso:

- Altera-se o protocolo de adaptação de primíparas, entrando animais mais jovens com a finalidade de tentar assegurar que antes de serem cobertas passaram pelo menos 3 meses desde que se infectaram com o vírus de campo existente na exploração.

- Vacinam-se todas as porcas reprodutoras ao mesmo tempo e cada 6 meses com uma vacina inactivada contra o PRRS. Esta medida pode resultar algo polémica, mas está demonstrado que quando há recirculação de vírus a vacina inactivada é muito efectiva.

- Extremam-se as medidas de maneio para respeitar o "tudo dentro-tudo fora", e os vazios sanitários entre diferentes lotes de animais.

2.- Dados os bons resultados obtidos com a vacina de PCV2 não se pensa em abandonar a sua aplicação.

O que está claro é que não se pode continuar a aplicar no momento do desmame. Estudam-se as possíveis opções alternativas.

- A opção ideal seria vacinar as porcas, para evitar ter que vacinar os leitões. O problema é que ficariam vários lotes de leitões sem protecção até que chegassem ao desmamr os leitões filhos de porcas vacinadas e nem o proprietário nem o integrador estão dispostos a que isto ocorra.

- Adiantá-la não serviria de nada já que os leitões já são virémicos na maternidade pelo que o problema seria o mesmo.

- Atrasá-la é a opção que fica. A duvida é quanto tempo.

Decide-se fazer um seroperfil contra o PRRS e o PCV2 para ver qual é a situação perante cada uma das duas doenças e deste modo poder escolher o momento óptimo de vacinação.

Os resultados estão representados no gráfico seguinte:

Seroperfil PCV2 e PRRS



Evolução do Caso




Perante os resultados das análises pode-se constatar que:

Nas primeiras semanas depois do desmame o PRRS recircula de uma forma intensa. Às 6 semanas de vida praticamente todos os animais são positivos.

A recirculação de PCV2 é a partir das 9 semanas de vida. Os níveis de IgM (primeira resposta após a infecção) começam a aumentar neste momento e às 12 semanas já há mais de 70% de animais positivos valorando IgG (resposta consolidada contra a infecção).

Tendo em conta que a vacina necessita pelo menos de 15 dias para poder actuar, o momento óptimo de vacinação contra a PCV2 é entre as 6 e as 7 semanas de vida.

Aplicando as medidas descritas para estabilizar o PRRS, e atrasando a vacinação contra o PCV2 até às 6 semanas de vida consegue-se que paulatinamente a exploração retorne ao seu ritmo de produção habitual.



Comentários


A vacina de PCV2 não soluciona tudo

A chegada ao mercado das vacinas contra o PCV2 e os seus bons resultados fizeram com que a sua aplicação se generalize.

A vacina de PCV2 não soluciona tudo, não se deve esquecer os velhos inimigos.

O seu uso generalizado fez com que em determinadas ocasiões, como no caso descrito, a vacinação possa chegar a ocasionar problemas.

Quando surgem problemas associados à vacinação contra o PCV2 há que ter em conta que não é a vacina a que falha, o que falha é o momento de aplicação.

É muito importante assegurar que não se vacinam animais doentes, particularmente se a causa de que estão doentes é o vírus PRRS

Se se tem em conta a opinião dos laboratórios fabricantes que recomendam como momento óptimo para vacinas as três semanas de vida dos leitões há que considerar que:

- Se o PRRS recircula antes do desmame, a recomendação é atrasar o momento da vacinação.

- Se O PRRS recircula na fase de transição, a recomendação é adiantar o momento da vacinação.

Não há que esquecer que para controlar a doença através da vacina há outras opções:

- Vacinar porcas. Assim evita-se ter que vacinar leitões em momentos comprometidos.

- Vacinar porcas e leitões. Desta forma atrasa-se a recirculação de PCV2 nos leitões para a fase do final da engorda, pelo que é mais fácil encontrar um momento adequado para vacinar.

No caso de vacinar leitões filhos de porcas vacinadas deve fazer-se a partir das 4 semanas de vida para evitar interferências entre a vacina e os anticorpos calostrais gerados pela porca.

Os melhores resultados com as vacinas de PCV2 são conseguidos quando se faz um seroperfil que permita decidir o momento óptimo de aplicação.

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