Os grãos de destilaria são um co-produto do processo de destilação dos cereais, através do qual se converte o amido em etanol e dióxido de carbono. O resto dos nutrientes (proteínas, lípidos, fibra, minerais e vitaminas) permanecem relativamente inalterados, embora concentrados (tabela 1). Estes nutrientes acabam num co-produto, que se conhece geralmente por grãos secos de destilaria com solúveis (DDGS; Liu, 2011).
Tabela 1. Composição nutricional do milho, do trigo e dos seus grãos secos de destilaria com solúveis (DDGS; NRC, 2012).
Composição, % | Milho | DDGS de milho | Trigo | DDGS de trigo |
Proteína bruta | 8,24 | 28,89 | 14,46 | 36,61 |
Fibra bruta | 1,98 | 9,48 | 2,57 | 6,75 |
Extracto etéreo | 3,48 | 8,69 | 1,82 | 5,34 |
Amido | 62,55 | 3,83 | 59,50 | 1,78 |
FND | 9,11 | 41,86 | 10,60 | 34,70 |
FAD | 2,88 | 15,55 | 3,55 | 13,81 |
Cálcio | 0,02 | 0,08 | 0,06 | 0,16 |
Fósforo | 0,26 | 0,56 | 0,39 | 0,92 |
O milho é o principal ingrediente utilizado para a produção de etanol nos EUA enquanto na Europa e no Canadá as fábricas de etanol utilizam frequentemente trigo ou uma combinação de milho e trigo. Os DDGS do trigo costumam conter mais PB, mas menos extrato etéreo que os do milho (tabela 1). A digestibilidade dos aminoácidos (AA) nos DDGS de trigo é variável, especialmente para a lisina (Lys) (Cozannet et al., 2010). O motivo desta variabilidade na digestibilidade da lisina é que algumas fontes de DDGS sofrem danos causados pelo calor durante o processo de secagem (Stein et al, 2006). Como consequência, a qualidade nutricional dos DDGS é afetada pelo cereal utilizado e pelas condições durante o processamento.
Digestibilidade de AA nos DDGS de milho e trigo
Utilizou-se uma fonte europeia de DDGS de trigo e de milho para avaliar a digestibilidade ideal estandardizada (SID) da proteína bruta (PB) e aminoácidos (AA). As dietas continham 50% de DDGS como única fonte de proteínas. A dieta com DDGS de milho teve menos PB mas mais Lys em comparação com a que continha DDGS de trigo. No entanto, a SID da PB e de todos os aminoácidos essenciais foi superior nos DDGS de milho comparativamente aos DDGS de trigo (tabela 2).
Tabela 2. Digestibilidade ileal estandarizada de aminoácidos essenciais em DDGS de milho ou trigo.
Aminoácido | DDGS trigo | DDGS milho | valor P |
Arg | 74,31 | 82,83 | <0,01 |
His | 71,16 | 78,28 | <0,01 |
Ile | 70,20 | 75,27 | <0,001 |
Leu | 77,76 | 86,52 | <0,01 |
Lys | 33,07 | 58,45 | <0,01 |
Met | 72,89 | 83,51 | <0,01 |
Phe | 77,41 | 81,21 | <0,01 |
Thr | 64,05 | 70,09 | <0,01 |
Trp | 63,21 | 59,62 | <0,01 |
Val | 68,14 | 75,35 | <0,01 |
Média | 70,67 | 78,67 | <0,01 |
Digestibilidade de nutrientes e efeito sobre o crescimento de duas fontes de DDGS de milho obtidas mediante dois processos diferentes
Determinou-se a SID dos AA e a digestibilidade aparente total no aparelho digestivo (ATTD - apparent total tract digestibility) da FND e do extrato etéreo hidrolizado com ácido (AEE) em dois tipos de DDGS: convencional e Dakota Gold. Também se registou o crescimento e as características da carcaça dos porcos de engorda alimentados com dietas contendo as duas fontes de DDGS.
O Dakota Gold é um DDGS com baixo teor de óleo obtido sem tratamento térmico, usando uma técnica de fermentação a frio chamada BPX que pode ter uma influência positiva na digestibilidade dos nutrientes. A adição de gordura às dietas aumenta a digestibilidade dos AA (Kil and Stein, 2011) e é possível, por isso, que a digestibilidade dos AA seja afetada pela baixa concentração de óleos do DDGS. A composição de ambas as fontes de DDGS apresenta-se na tabela 3 e a SID dos AA essenciais, assim como a digestibilidade aparente total no aparelho digestivo de EB, FND e AEE e a concentração de energia metabolizável (EM) na tabela 4.
Tabela 3. Concentração de matéria seca (MS), energia bruta e composição de nutrientes em duas fontes de DDGS.
DDGS Dakota Gold | DDGS convencional | |
Matéria seca, % | 87,77 | 82,26 |
Energia bruta, kcal/kg | 4,442 | 4,831 |
Proteína bruta, % | 29,5 | 28,67 |
Extrato etéreo, % | 4,49 | 7,91 |
Extrato etéreo hidrolizado com ácido, % | 6,82 | 9,54 |
FND, % | 29,4 | 37,59 |
Tabela 4. Digestibilidade ileal estandarizada de AA essenciais, digestibilidade total aparente no aparelho digestivo da energia bruta, FND e do extrato etéreo hidrolizado com ácido (AEE), e concentração de EM em DDGS convencionais e Dakota Gold.
DDGS Dakota Gold | DDGS convencional | Erro padrão da média | valor P | |
Digestibilidade ileal estandarizada | ||||
Arg | 93,3 | 87,2 | 1,2 | 0,013 |
His | 86,6 | 82,1 | 1,1 | 0,043 |
Ile | 84,7 | 79,8 | 1,4 | 0,051 |
Leu | 90,5 | 86,9 | 1,2 | 0,075 |
Lys | 68,1 | 53,0 | 4,6 | 0,007 |
Met | 89,3 | 85,4 | 0,9 | 0,007 |
Phe | 88,4 | 84,2 | 1,1 | 0,017 |
Thr | 80,8 | 77,4 | 1,1 | 0,052 |
Trp | 79,1 | 76,7 | 2,7 | 0,582 |
Val | 83,2 | 77,6 | 1,5 | 0,026 |
Digestibilidade total aparente no trato digestivo | ||||
Energia bruta, % | 67,9 | 67,2 | 0,505 | |
FND1, % | 49,9 | 60,6 | 0,002 | |
AEE1, % | 51,9 | 68,4 | 0,001 | |
Concentração de EM, kcal/kg | 2,743 | 2,965 | 0,001 |
1NDF: fibra neutro detergente; AEE: extrato etéreo hidrolizado com ácido.
Observou-se uma maior SID de Arg, His, Lys, Met, Phe e Val no DDGS Dakota Gold em comparação com o convencional. Parece que o tratamento a frio utilizado para processar o DDGS Dakota Gold teve uma influencia positiva na digestibilidade dos AA devido à redução dos danos térmicos nesta fonte de DDGS. Contudo, a ATTD da FND e do AEE bem como a concentração de EM foi superior no DDGS convencional que no Dakota Gold. Não houve diferenças na ATTD da energia bruta entre ambas as fontes, por isso, a maior presença de EM no DDGS convencional, é o resultado da maior energia bruta no DDGS convencional.
Para comparar o crescimento e as características da carcaça, foram formuladas dietas com o mesmo nível de SID para Lys; para isso acrescentou-se Lys sintética à dieta com DDGS convencional. Porém não se tentou igualar a EM. Como consequência, a EM das dietas com DDGS convencionais era ligeiramente superior às que tinham DDGS Dakota Gold. Não houve diferenças no crescimento nem nas características de da carcaça (peso da carcaça quente, rendimento, gordura dorsal, área do músculo longissimus e percentagem de massa magra; resultados não apresentados) entre os porcos alimentados com DDGS Dakota Gold e os alimentados com DDGS convencional (figura 1). O efeito da redução de EM das dietas com DDGS Dakota Gold não se refletiu no crescimento.
Destas 2 experiências conclui-se que:
- O DDGS de milho tem mais SID de PB e AA essenciais em comparação com o DDGS de trigo.
- O processo para obter o DDGS pode alterar a digestibilidade de nutrientes, mas não o crescimento, nem as características da carcaça. A SID da maioria dos AA foi maior no DDGS Dakota Gold que no convencional, mas a ATTD da FND e o extracto etéreo hidrolizado com ácido e as concentrações de EM foram menores no DDGS Dakota Gold que no convencional. Contudo, o uso das 2 fontes de DDGS em dietas de desmame no mercado não afetaram o crescimento nem as características da carcaça, ainda que tenha sido necessária uma menor quantidade de AA sintéticos quando se utilizaram DDGS Dakota Gold.