Vantagens competitivas com o uso da informação (II) – Um passo a mais para a gestão em tempo real no sector suíno?

Outro assunto de importância crescente é a necessidade de monitorizar a informação, para além de a analisar. Em alguns casos há uma grande aproximação à gestão em tempo real, o que não será surpreendente já que é habitual em muitos aspectos da vida. A 15 de Janeiro de 2009, quando o vôo 159 de US Airways caia no rio Hudson, o primeiro tweet que o anunciou apenas demorou três minutos e desde então tudo se acelerou, incluindo a gestão dos negócios de todo o tipo.

Os clientes exigem uma atenção e uma reacção imediata ás suas perguntas e problemas, qualquer gerente sabe que o êxito está muito dependente de decisões rápidas. Cada dia mais empresas se aproximam de uma gestão em tempo real, ainda que as primeiras não sejam deste sector, já que se trata de empresas petrolíferas, de gás e de electricidade, cujas margens dependem extraordinariamente de uma procura que se altera com grande rapidez. É certo que o sector suíno não necessita ainda de tanta proximidade a este tipo de gestão, mas sem dúvida que há elementos que fazem pensar numa aproximação mas rápida que a pensada. De facto, nem só pelos dados animais mas também pelos dados ambientais, que em muitas ocasiões são excelentes indicadores de riscos ou problemas existentes ou vindouros. Assim há dados animais indicadores precoces de possíveis problemas reprodutivos, como são o controlo semanal dos abortos ou diagnósticos de gestação negativos, de nascidos vivos, mortos e mumificados ou o controlo diário dos animais mortos ou tratados em momentos chave da cria, como o pós-desmame ou a entrada para a engorda, que começam a ser indispensáveis se se querem manter standarts elevados de eficiência produtiva.

Além destas opções, que ainda não estão amplamente implementadas na prática, estão a surgir outras opções derivadas de outros sectores que estão a ser rapidamente adaptadas a este. Esta situação surge também porque em muitas ocasiões o lugar onde se gera a informação e onde se encontram os usuários não são os mesmos; na época das comunicações isto deixou de ser um problema, já que vivemos um "boom" onde cada vez são mais potentes, baratas e com maior cobertura e potência. Portanto, porque não usar estas vantagens também para este sector? Muitos produtores e usuários utilizam rotineiramente smartphones de grande potência e alto custo, porque não usá-los também para controlar o negócio?

Por último, a tecnologia também permite já, de forma simples e a baixo custo, controlar parâmetros ambientais em tempo real e reagir rapidamente a desvios que antecipam problemas (diminuição brusca no consumo de água), ou que os podem provocar (diminuição ou aumento rápido e injustificado da temperatura) e cujo controlo se pode efectuar à distância sem necessidade de estar fisicamente na exploração. De facto, estes são os primeiros passos para estabelecer um sistema de inteligência de negócio, tal como existem em outros sectores desde há algum tempo. Estes sistemas permitem detectar e corrigir desajustes entre o esperado das instalações e o rendimento real. No exemplo 1 pode observar-se o controlo ambiental de uma sala de transição onde só são mantidos entre valores ambientais óptimos 3,59 % do tempo e pouco mais de um quarto do tempo entre os valores mínimos adequados (Gráfico 1).

Gráfico 1. Monitorização da temperatura semanal em transição; valores dentro do intervalo óptimo e adequado.

Fonte: PigCHAMP Pro Europa SL. Dados por publicar
Zona azul escura: Intervalo óptimo de temperatura para leitões de 5 semanas (Buxadé et al, 1998)
Zona azul clara: Intervalo de oscilação térmica adequada
Percentagem de dados contidos dentro do intervalo óptimo: 3,59%
Percentagem de dados contidos dentro do intervalo adequado: 27,54%
A variação diária é grande com uma variação média de mais de 6 de graus (tabela1). O gasto desnecessário e o risco para a saúde dos animais é evidente.

Tabela 1. Valor médio de oscilação térmica diária.

No gráfico 2 pode ser observada também a oscilação de temperatura diária e a sua relação com o consumo eléctrico devido à ventilação. Pode ser observado que um sistema mal regulado ou mal ajustado, como é o caso, pode continuar a funcionar e gerar consumo, ainda que a temperatura desça e não seja necessário o seu uso.

Gráfico 2. Consumo eléctrico vs Tª ambiente nas salas de maternidade

Fonte: PigCHAMP Pro Europa SL. Dados por publicar

Pode ser observado um claro desequilíbrio entre os dados de consumo eléctrico (kw/h) e temperaturas, o que indica claramente um funcionamento inadequado dos sistemas de ventilação-climatização. Ao observar as subidas e descidas diárias de temperatura, vê-se que o consumo eléctrico não vai subido e descendo gradualmente com a temperatura, mas sim que simplesmente se activa e desactiva obedecendo a valores extremos, sem nenhum tipo de regulação intermédia. Isto pode responder ou a uma má configuração dos equipamentos ou a um funcionamento deficiente dos mesmos. Não tem só consequências económicas directas, mas também sobre o estado sanitário dos animais, aumentando o risco de aparição de processos clínicos e subclínicos.

Vamos a dispôr, num futuro muito próximo, de uma enorme quantidade de dados, com muita mais rapidez e facilidade que nunca e, além disso, de origens muito diversas, como já se viu. Os profissionais do sector devem apoiar-se cada vez mais em dados de qualidade. A recolha e o processamento dos mesmos deixou de ser um problema, ainda que a sua aplicação prática ainda está distante de ser rotineira. O uso de novos dispositivos de recolha (canetas digitais, sensores e emissores "wireless"), além dos clássicos (fax, USB) parecem ser uma boa solução em termos de simplicidade e custo, pondo à disposição dos consultores dados até agora impossíveis de utilizar. Os dados produtivos, sanitários ou ambientais, são carregados em "dashboards", ou ‘painéis de controlo’ que geram imediatamente informação de qualidade via web ou em relatórios genéricos ou feitos à medida. Assim, a sanidade, a produção e os parâmetros ambientais podem ser controlados em qualquer momento e de qualquer lugar e uma análise combinada gera informação de extraordinária qualidade. A integração harmónica de dados de fontes diferentes pode supôr um cenário novo tanto para explorações familiares como para grandes produtores, já que o custo da tecnologia geralmente não suporá um problema.

Com esta abordagem, e usando um sistema de inteligência de negócio de qualidade (o software apenas já não será suficiente), todo o potencial dos dados ficará à disposição dos usuários, e não sub-utilizado, compreendendo e controlando rapidamente muitos mais aspectos da produção. Em outros sectores a passagem a estes sistemas gerou problemas por falta de tecnologia adequada e de experiência, a incorporação tardia neste sector é uma vantagem.

A situação do mercado exige cada vez standats de qualidade mais elevados e um custo-benefício muito claro que suporte a tomada de decisões. A abordagem que proporcionará apoiar nas novas tecnologias pode ser decisiva nos próximos anos, segundo esta forma de trabalho se vá incorporando na rotina de produção. Transformar a informação em conhecimento rentável será uma obrigação para todos os profissionais do sector.