A implementação de novos processos (maneio, tecnologia, redimensionamento, etc.) é orientada para aumentar a eficiência. Na alimentação de porcas, podemos considerar a aplicação de um sistema de alimentação com base em tecnologia, um sistema mecânico de distribuição de alimento líquido controlado por um software. Neste artigo vamos examinar os prós e os contras e fazer uma estimativa da rentabilidade do sistema.
Vantagens | |
gestação | Permite ajustar as curvas de alimentação com grande comodidade |
Garante elevados consumos de água, evitando problemas genito-urinários | |
Permite moagens finas aumentando a eficiência alimentar | |
Reduz o impacto ambiental através de uma melhor eficiência alimentar | |
Podemos dar 2 ou 3 refeições por dia. Isto reduz o stress e a presença de úlceras | |
Monitorização do consumo diário | |
Menor necessidade de mão de obra (o tempo pode ser utilizado noutras tarefas da produção) | |
lactação | As mesmas comentadas para a gestação |
Aumenta o consumo de alimento comparativamente com a alimentação seca (+20% e em tempo quente até 40%) | |
Maior conforto comendo mais vezes (3 ou 4 refeições por dia) | |
Podemos ajustar o horário das refeições (à noite, fora do horário laboral, etc.) e, mais importante, permite não quebrar as curvas de alimentação aos fins de semana; sobretudo no pré-desmame reduzindo os cios em parideiras e o aumento do IDC |
O elevado custo destas instalações pode ser um inconveniente, por isso é necessário estabelecer um plano do retorno do investimento com base em premissas sólidas e prudentes.
Entre as marcas que estão no mercado (cada vez mais e melhores) deve ter em conta a qualidade da mecânica e o apoio técnico. Neste caso é perfeitamente aplicável o ditado “o barato sai caro”.
Além disso, há uma série de pontos críticos que devem ser bem controlados, se não as perdas causadas podem inviabilizar tudo o que foi conseguido.
Inconvenientes | |
gestação | O único inconveniente é a necessidade de operadores qualificados e responsáveis: são frequentes os erros em activar e desactivar as válvulas, causando perdas por desperdício de alimento, ou stress por falta de alimento. |
lactação | A falta de rigor no volume a ser administrado (hoje em dia os sistemas disponíveis solucionam-no perfeitamente) (1) |
Porcas de primeiro parto que não se adaptam bem à curva de alimentação pré-estabelecida para multíparas | |
Comedouros mal dimensionados que provocam desperdício de ração (3) | |
Necessidade de trabalhadores qualificados e responsáveis (4) | |
Peri-parto difícil de manejar (5) | |
As instalações sofrem mais que o habitual (6) |
Como ultrapassar os principais inconvenientes?
- Doseando pequenas quantidades por vávula, especialmente com a restrição no peri-parto, há erros que resultam de válvulas que não alimentam, provocando stress e prisão de ventre. Os volumes podem ser aumentados dando menos refeições (2 ou 3) ou aumentando a diluição. A segunda opção é preferível, no verão pode chegar a diluir 6:1, e no inverno 4,5:1.
- Ao precisar de menos quantidade de ração, se não prestar atenção, as marrãs recebem mais ração do que o necessário. Isso produz um início desastroso da lactação. A criação de uma curva para as marrãs não é viável, uma vez que teria que alimentar em momentos diferentes e fazer esperar algumas porcas, e isso iria causar um grande stress. Os sistemas produzem ruídos ao preparar a refeição e as porcas já sabem com muita antecedência que vão comer.
- Quando é dada a alimentação líquida, se o tamanho e desenho do comedouro não forem adequados, ocorrem desperdícios de ração que podem chegar a ser superiores a 20%. O volume deve ser quase o triplo do dos comedouros convencionais e o desenho deve evitar os fundos em curva para que o alimento líquido não seja impulsionado para fora.
- O processo de aprendizagem de um trabalhador é curto e simples, mas alguns excelentes trabalhadores não conseguem adaptar-se à mudança por não estarem habituados a lidar com teclados. O mais importante é o rigor e responsabilidade do operador (deve ser ágil e dinâmico). Quando o grau de automatização é muito alto, tende-se a não estar em cima do sistema, o mais frequente é encontrar níveis de alimentação abaixo do esperado: o operador deve ir subindo o consumo a partir de uma curva base subdimensionada para evitar rejeições. Se não procurar o máximo consumo nas porcas, evita ter de esvaziar os comedouros. Se for feita uma boa gestão do aumento da curva, os comedouros a limpar são mínimos, e conseguem-se consumos excepcionais.
- A restrição no peri-parto pode causar prisão de ventre. Isso é resolvido com elevados inputs de água e usando fórmulas de lactação com elevado teor em fibra bruta (5,5%) sem comprometer uma fórmula de alta densidade. Pode-se fazer uma mistura especial para o peri-parto, mas isso causaria stress ao dar de comer em diferentes momentos (tal como no caso do ponto 2).
- Conforme o mencionado no ponto (2), as proteções, comedouros e tubagens devem ser de grande resisitência, produzindo algum aumento na manutenção da instalação.
É essencial ter um programa de manutenção, principalmente se diminuir a troca de membranas das válvulas:
- 1 vez por ano a dos animais, e 2 vezes as que rodeiam o mecanismo de mistura e entrada e saida da nave (há enormes diferenças de qualidade nos vários fabricantes).
- ter bombas do mecanismo de movimentação e compressores de reposição.
- um bom programa de desratização.
São necessários cerca de 1500€ por ano de manutenção numa exploração de 500 reprodutoras.
A primeira impressão do sistema cria alguma rejeição pela aparente complexidade, mas uma vez que o conheça, percebe que é de uma simplicidade extrema e a mecânica evolui com grande qualidade.
Estudo do retorno do investimento
O sistema de alimentação líquida tem um retorno alto, principalmente em lactação e particularmente em zonas quentes. Para calcular o retorno, fundamentamos a hipótese exclusivamente num ponto: a porca em lactação come mais, por isso dá mais leite e o leitão tem mais peso ao desmame.
Quanto aumenta o consumo? Quanto pesam mais os leitões ao desmame
?
Um aumento médio anual de 20% no consumo é garantido (em desmames aos 21 dias, o consumo médio é normalmente de 6 kg/dia chegando no verão (4 meses) a cair abaixo de 5 kg. Com a alimentação líquida, as porcas lactantes mantêm facilmente o consumo acima de 7 kg (com 4 refeições).
Vinte quilos de ração extra na lactação traduzem-se em aumentos de 2,5-3 kg por ninhada (cerca de 0,25 kg por leitão). As pesagens são fáceis, pois o sistema permite monitorizar o consumo diário da porca. Dado que o custo de kg de leitão desmamado é geralmente cerca de 4 €, terá um fluxo positivo por leitão de 1€. Uma exploração de 500 reprodutoras com 25 leitões/ano daria um fluxo de caixa extra de 12.500€ (menos 1500€ de manutenção extra = 11000€/ano). Estes numeros são prudentes e claramente apoiados em dados reais.
O custo do investimento para maternidades (que é muito mais caro): 60.000€. Entre 35.000€ - 85.000€.
Tempo de amortização: 10 anos. Aos 10 anos consideramos um valor residual de 0 (embora existam máquinas que trabalhem mais de 10 anos com uma manutenção muito menor que o exposto).
Presumimos que o dinheiro perde valor ano após ano: taxa de desconto. O TIR (taxa interna de rentabilidade) e o VAN (valor actual liquido) são dois parâmetro financeiros intimamente relacionados e ambos nos vão servir para ver se um investimento é rentável tendo em conta os fluxos de caixa futuros.
TIR: | 14% |
VAN (taxa de desconto = 6%): | 23246,23 € |
VAN (taxa de desconto = 7%): | 19412,32 € |
O TIR diz-nos o que o dinheiro teria que se desvalorizar 14% a cada ano para que o investimento ficasse equilibrado. O VAN diz-nos que se o dinheiro se desvaloriza 7% ao ano, ao dia de hoje o investimento deixaria 19000€ ou se o dinheiro perde 6% ao ano o investimento deixaria 23000€. |
O investimento é rentável sempre e quando consigamos que a porca aumente o consumo, e para isso é fundamental um trabalhador qualificado e responsável, com uma supervisão continua.
É verdade que o custo extra dos 20 kg não são incluídos no cálculo, mas para simplificar assume-se que esse custo tem um amplo retorno noutras melhorias que também não foram tidas em conta (menor perda de condição corporal da porca, melhor IDC, melhor prolificidade futura e maior valor residual na eliminação da porca, etc.).
Mas de longe, o maior valor acrescentado é que podemos evitar a quebra da curva de alimentação aos fins de semana e, naturalmente, a melhoria da qualidade de trabalho dos trabalhadores. Se considerarmos estes últimos parâmetros obtemos uma rentabilidade muito maior.