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Ventilação forçada em suínos (I): um problema multifactorial

Muitas vezes não temos resposta satisfatória a perguntas deste tipo: sabes como funciona o regulador?, qual é a ventilação mínima nas baterias?, porque diminuiu tanto o cresc...

Introdução

Muitas vezes não temos resposta satisfatória a perguntas deste tipo: sabes como funciona o regulador?, qual é a ventilação mínima nas baterias?, porque diminuiu tanto o crescimento nos leitões?, porque têm frio os leitões e defecam na zona de descanso?, qual é a origem das manchas no tecto e condensação nas paredes?, qual é o custo de ventilar a sala e ao mesmo tempo manter a temperatura?...e seguramente muitas mais.

De todos é conhecida a importância que tem um ambiente correcto pela sua relação directa com parâmetros produtivos e patologias. Menos conhecidas são as penalizações nos consumos energéticos derivados, o funcionamento do sistema de ventilação, o conforto dos animais e a saúde dos trabalhadores.

a obtenção de um ambiente correcto depende do bom desenho, conhecimento, funcionamento e manutenção do sistema de ventilação. A detecção de problemas de ventilação com aa simples observação dos animais ou com a ajuda de aparelhos deveria ser mais uma tarefa periódica.

Problema multifactorial

Um estudo realizado a partir de visitas a clientes põe de manifiesto que os problemas do sistema de ventilação detectados na exploração podem-se atribuír directa ou indirectamente ao suinicultor, instalador, fabricante ou desenhador. Para o trabalho apresentado escolhemos salas de baterias cmn ventilação forçada por pressão negativa para poder comparar dados. Analizam-se os principais problemas detectados em 37 salas de baterias de distintas explorações em toda a Espanha (aproximadamente uns 8100 leitões).

O controle que se pode atribuír ao suinicultor ou proprietário da instalação reflecte-se nos gráficos 1, 2 e 3. Por um lado, o suinicultor deveria entender o correcto funcionamento do regulador (gráfico 1) e cada um dos parâmetros que permitam alcançar o conforto dos animais em função do seu peso e as necessidades (curva de ventilação e temperatura, banda proporcional e zona neutra). Muitas vezes ninguém explicou o funcionamento do sistema ao suinicultor, e não que seja por falta de motivação deste em aprender. A observação dos leitões (gráfico 2) deveria ser um indicador fiável para confirmar o funcionamento do sistema. Os mesmos leitões mostrar-nos-ão se se encontram confortáveis com as condições de ventilação eleitas. Sempre que se realize uma mudança no regulador deceria confirmar-se através da observação dos leitões.

Gráfico 1: controle do suinicultor (controle e regulação do sistema de ventilação)

Caudal de ventilação: curva de ventilação em função das necessidades dos leitões.
Temperatura: curva de temperatura em função das necessidades dos leitões.
Banda proporcional: margem de temperatura ou número de graus necessários para que a ventilação passe de caudal mínimo a máximo.
Zona neutra: margem de temperatura para o arranque ou paragem do aquecimento em função da temperatura seleccionada.


É importante a combinação entre a regulação e a observação dos animais na sala.

Outro aspecto muito importante é a manutenção e limpeza periódicos de todo o sistema (gráfico 3), sem incluír reparações de avarias (tarefas não programadas). Não se analisa o grau de satisfação dos suinicultores que realizam manutenções periódicas. Muitas das explorações têm um programa de manutenção global de todas as instalações pautado e periódico mas não inclui o sistema de climatização e só se limitam a realizar aquelas reparações imprescindíveis, substituindo a peça quando seja realmente indispensável.

Gráfico 2: controle do suinicultor (controle dos leitões) Gráfico 2: controle do suinicultor (manutenção habitual)
O conforto dos leitões realiza-se de forma subjectiva mediante a observação do comportamento dos leitões na sala com a ventilação funcionando.
Manutenção habitual do sistema de ventilação sem incluír reparações de emergência.
A manutenção e limpeza periódicos deveriam ser mais uma tarefa dentro do plano global de manutenção da exploração.

Há factores que escapam ao controle directo do suinicultor que são imprescindíveis para o correcto funcionamento do sistema de ventilação como podemos ver no gráfico 4. São indispensáveis o desenho e instalação correctos das entradas de ar, dimensionamento de ventiladores (caudal), potência instalada de aquecimento, necessidades de isolamento das zonas de fecho, estanquicidade de toda a sala e altura do pavilhão para a correcta circulação do ar. Muitas vezes não coincidem fabricante, desenhador e instalador numa exploração pelo que é mais difícil repartir responsabilidades.

Gráfico 4: controle do fabricante, desenhador e instalador

Entrada de ar: dimensionamento da entrada de ar em função das necessidades, praticamente 100% das incorrectas devido a entrada insuficiente.

Ventilador: dimensionamento da capacidade de ventilação em função das necessidades, do total incorrectos 71% eram-no em excesso e 29% por defecto.

Aquecimento: dimensionamento e potência de aquecimento em função das necessidades.

Isolamento: não se calculou o coeficiente de transmissão térmica do pavilhão. Trata-se de uma medição mais subjectiva, medindo a capacidade das zonas de fecho da sala em manter a temperatura e em observações.

Estanquicidade: mediante provas de fumo para comprovar as selagem da sala.

Altura pavilhão: relação correcta entre comprimento e altura do pavilhão para a correcta circulação e flujo de ar na sala.

Finalmente apresentamos uma série de medições objectivas para o diagnóstico detalhado do sistema no gráfico 5. a utilização de instrumentos adequados e uma correcta metodologia de trabalho serão de grande utilidade para comprovar que o sistema de ventilação funciona correctamente e detectar, junto com a observação e a experiência, a origem dos problemas ambientais.

Podemos ver se os resultados obtidos se encontram dentro da normalidade (% correctas) ou não (% incorrectas) para depois tomar as medidas correctoras adequadas.

Gráfico 5: medições e controles para o diagnóstico ambiental

[CO2] ao nível do leitão: indicador de ventilação, sobretudo mínima, considerando o nível correcto entre 1500 ppm (0,15%) e 2000 ppm (0,20%). 100% dos resultados incorrectos são por ventilação insuficiente.

Humidade Relativa (%): consideramos uma humidade relativa tolerável entre 50% e 80% (ideal 60-70%). De 100% das salas com humidade incorrecta, cerca de 71% por excesso e 29% por defeito.

Velocidade ar entrada (m/s): recomendada uma velocidade de 1,5 m/s ao nível da entrada de ar.

Velocidade ar leitão (m/s): recomendada uma velocidade de 0,2 m/s ao nível do leitão.

Distribuição do ar: medição através de provas de fumo e observação.

Sondas: medição do desvio entre a sonda e temperatura real para a calibrar e evitar sub- ou sobreventilações na sala que afectem os leitões. Considera-se limite tolerável de desvio da sonda de ±1ºC.

Provas de fumo realizadas para ver a circulação do ar na sala com ventilação por fossa (esquerda) e para detecção de fugas de ar (direita).

Para concluir, poderiamos dizer que para obter um correcto funcionamento do sistema e conforto dos animais deveremos actuar directamente na origem do problema: fabricaç~so (desenho, funcionamento, opções de regulação, etc.), instalação (dimensionamento, montagem da instalação, isolamento) ou simplesmente de má regulação por desconhecimento.

Conclusões

– Os dados introduzidos na caixa reguladora não coincidem con os parâmetros correctos numa elevada percentagem das explorações analisadas.

– A maioria das explorações analisadas (83%) não realizam manutenção periódica e programação do sistema de ventilação.

– As entradas de ar insuficientes apresentam-se em 71% dos casos, normalmente acompanhadas de um funcionamento do deflector deficiente.

– Os ventiladores inadequados (colocação, excesso ou defeito de caudal, necessidade de diafragma, pouco rendimento, etc.) é o principal problema (91% dos casos) que temos encontrado nas explorações. É de destacar também neste ponto a ausência ou uso incorrecto de diafragma para obter as ventilações mínimas na maioria dos casos.

– Em geral o isolamento é deficiente, quer seja por ser insuficiente quer por degradação do mesmo. Um correcto isolamento do tecto tem especial importância, pelo tecto podem-se perder entre 70% e 80% do total de perdas.

– Cerca 75% das salas apresentam fugas que afectam significativamente a circulação do ar mediante provas de fumo. A estanquicidade da sala assegura o bom funcionamento do sistema por pressão negativa.

– a altura do pavilhão tem a importância de “oferecer” espaço físico para a correcta circulação do ar no interior da sala e evitar turbulências não desejadas. Cerca de 75% das salas cumprem com este ponto.

– É de destacar em geral uma má ventilação em 68% dos casos, dos quais 93% apresentam pouca ventilação ao nível do leitão com [CO2] <1500 ppm. É um problema habitual, sobretudo no inverno encontrarmos no interior da sala uma ventilação mínima deficiente.

– A metade das salas apresentam uma humidade relativa incorrecta, maioritariamente elevada (78%).

– Os resultados obtidos nas medições de velocidade do ar são muito significativos, incorrectos em 94% na entrada de ar e 83% ao nível do leitão.

– Medimos o desvio entre sonda e temperatura real e 58% apresenta erros superiores a 1ºC. Devemos lembrar que a sonda dá informação o regulador.

Joan Escobet. Marco i Collell. Espanha

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