O compromisso de erradicar a fome e a pobreza deve ser acompanhado de uma rápida transformação dos sistemas agrícolas e alimentares para se adaptar a um planeta cada vez mais quente, segundo advertiu a FAO num novo relatório.
A agricultura - incluindo a silvicultura, as pescas e a pecuária -, gera cerca de um quinto das emissões de gases de efeito de estufa do mundo. O sector agrícola deve fazer mais para combater as alterações climáticas, enquanto se esforça para superar o seu impacto, segundo a última edição do relatório sobre O estado mundial da agricultura e da alimentação 2016 (SOFA, nas suas siglas em inglês).
A FAO adverte que a estratégia de "continuar a fazer sempre da mesma maneira" pode converter mais uns quantos milhões de pessoas em vítimas da fome, o que não sucederia no futuro se não houver alterações climáticas.
Renovar os sistemas agrícolas e alimentares será complexo devido à grande quantidade de actores envolvidos, à multiplicidade dos sistemas agrícolas e de processamento de alimentos e às diferenças entre os ecossistemas. Contudo, os esforços devem començar a sério e já, pois prevê-se que os efeitos adversos das alterações climáticas piorarão com o tempo, segundo destaca o relatório.
Está na hora de passar dos compromissos à acção
"2016 deve ser o ano de passar dos compromissos à acção", instou Graziano da Silva, recordando que a comunidade internacional conseguiu, no passado ano, um consenso sobre os Objectivos de Desenvolvimento Sustentado e que o Acordo de Paris, sobre o clima, está quase a entrar em vigor.
O relatório da FAO sublinha que o êxito na transformação dos sistemas alimentares e agrícolas dependerá em grande medida em apoiar com urgência os pequenos produtoresa adaptarem-se às alterações climáticas.
O relatório SOFA 2016 descreve formas alternativas e economicamente viáveis de ajudar os pequenos produtores a se adaptarem e que os meios de vida das populações rurais - frequentemente as mais expostas às ameaças das alterações climáticas - sejam maos resilientes.
O relatório aporta evidências de que a adopção de práticas "climaticamente inteligentes", como variedades de culturas eficientes no uso de azoto e tolerantes ao calor, a lavoura zero e a gestão integrada da fertilidade do solo, aumentariam a produtividade e a receita dos agricultores. Apenas a adopção geralizada de práticas eficientes no uso do azoto reduziria o número de pessoas em risco de sub-alimentação em mais de 100 milhões de pessoas.
O caminho a seguir
Já se estão a sentir os efeitos globais negativos das alterações climáticas nalguns rendimentos das culturas de cereais. As alterações climáticas provavelmente conduzirão a uma perda de conteúdo nutricional de alguns alimentos, como a diminuição de zinco, ferro e proteínas nos cereais básicos e implique novos problemas de saúde: incluindo diarreias para os seres humanos e diversas doenças transfronteiriças dos animais.
Depois de 2030, segundo as evidências científicas, cada vez mais se irão sentir por todos lado as pressões negativas na produção alimentar. Até agora, o impacto adverso das elevadas temperaturas está muito inclinado para os países em desenvolvimento, apontando para perspectivas mais sombrias para a sua autosuficiência alimentar.
O SOFA 2016 reafirma a necessidade de maior financiamento para o clima para sufragar as iniciativas dos países em desenvolvimento em matéria de alterações climáticas. Os fundos públicos a nível internacional para a adaptação às alterações climáticas e a mitigação estão a aumentar e, ainda que sejam ainda relativamente modestos, podem actuar como catalizador para obter maiores fluxos de investimentos públicos e privados. É necessário maior financiamento para combater as alterações climáticas para a agricultura, a pesca e a silvicultura sustentáveis e para financiar a transformação em grande escala e o desenvolvimento de sistemas de produção alimentar climaticamente inteligentes. A adaptação e mitigação das alterações climáticas devem andar de mãos dadas.
Se não se actua, a agricultura continuará a ser um importante emissor mundial de gases de efeito de estufa. Contudo, adoptando práticas climaticamente inteligentes e aumentando a capacidade dos solos e bosques para capturar carbono, as emissões podem reduzir-se aumentando ao mesmo tempo a produção de alimentos para uma crescente população mundial, segundo o novo relatório da FAO. Os sistemas alimentares podem dar uma posterior contribuição, minimizando as perdas e o desperdício de alimentos, bem como promovendo dietas mais saudáveis que tenham, além disso, uma pegada ambiental mais reduzida.
Lunes, 17 de octubre de 2016/ FAO.
http://www.fao.org