Não há certeza em relação à intensidade e duração do conflito. As prováveis perturbações das actividades agrícolas destes dois grandes exportadores de produtos alimentícios básicos poderão agravar seriamente a insegurança alimentar em todo o mundo, num momento em que os preços internacionais dos alimentos e dos factores de produção já são altos e voláteis. O conflito também poderá limitar a produção agrícola e o poder aquisitivo na Ucrânia, o que provocará um aumento da insegurança alimentar a nível local.
Factores de risco fundamentais detectados
As culturas de cereais estarão prontas para a colheita em Junho. Não é claro se os agricultores ucranianos poderão colher as suas culturas e fazê-las chegar ao mercado. As deslocações massivas da população reduziram o número de trabalhadores agrícolas. O acesso aos campos agrícolas será difícil. A produção de espécies pecuárias e de aves de capoeira e a produção de frutas e hortaliças também se verão limitadas.
Os portos ucranianos do Mar Negro fecharam. Ainda assim, a infraestrutura de transporte terrestre mantém-se intacta, o envio de grãos por comboio será impossível devido à falta de um sistema ferroviário funcional. Os navios podem continuar a transitar pelos Estreitos Turcos, um ponto crítico para o comércio pelo que passa uma grande quantidade de cargas de trigo e milho. O aumento dos prémios de seguro para a região do Mar Negro encarecerá ainda mais os já elevados custos do transporte marítimo, aumentando os custos das importações de alimentos. Tampouco ainda é claro se as instalações de armazenamento e produção permanecerão intactas e terão pessoal para nelas trabalhar.
Os portos russos do Mar Negro estão abertos por agora, e não se prevêem grandes transtornos na produção agrícola a curto prazo. Contudo, as sanções financeiras impostas à Federação da Rússia provocaram uma forte desvalorização que, se se mantém, poderá fazer baixar a produtividade e o crescimento e, em última instância, ainda fazer subir mais os custos da produção agrícola.
A Federação da Rússia é um dos principais actores do mercado mundial da energia, pois representa 18 % das exportações mundiais de carvão, 11 % das de petróleo e 10 % das de gás. A agricultura necessita de energia através do uso de combustível, gás e electricidade, bem como fertilizantes, praguicidas e lubrificantes. O fabrico de rações e dos seus ingredientes também requer energia. O conflito actual provocou um aumento dos preços da energia, com consequências negativas para o sector agrícola.
O trigo é um produto alimentício básico para mais de 35 % da população mundial, e o actual conflito poderá supor uma repentina e pronunciada redução das exportações de trigo tanto da Federação da Rússia como da Ucrânia. Ainda não é claro se outros exportadores poderão colmatar este vazio. As existências de trigo já se estão a esgotar no Canadá e é provável que os Estados Unidos da América, a Argentina e outros países limitem as exportações, já que os governos tentarão garantir o fornecimento interno.
É provável que os países que dependem das importações de trigo aumentem o seu volume, o que trará mais pressão aos fornecimentos mundiais. Egipto, Turquia, Bangladesh e a República Islâmica do Irão são os principais importadores mundiais de trigo e compram mais de 60 % do seu trigo à Federação da Rússia e à Ucrânia; todos eles têm importações pendentes. O fornecimento de trigo do Líbano, Tunísia, Iémen, Líbia e Paquistão também depende, em grande medida, dos dois países. É provável que o comércio mundial de milho se contraia devido às expectativas de que a perda de exportações da Ucrânia não seja coberta por outros exportadores e por causa dos preços altos.
As perspectivas para as exportações de óleo de girassol e outros óleos alternativos também são incertas. Os principais importadores de óleo de girassol, como a Índia, a União Europeia, a China, a República Islâmica do Irão e a Turquia, devem encontrar outros fornecedores ou outros óleos vegetais, o que poderá ter efeitos secundários nos óleos de palma, de soja e de colza, por exemplo.
11 de Março de 2022/ FAO.
https://www.fao.org/