A abertura do mercado chinês à carne de porco portuguesa é o "mais importante" acontecimento para a suinicultura nacional "nos últimos 40 anos", afirmaram hoje produtores, à margem da chegada dos primeiros contentores à China.
Trata-se do acontecimento mais importante para a suinicultura portuguesa nos últimos 40 anos", explicou à agência Lusa Marco Henriques, director comercial da AGP Meat, um dos maiores exportadores portugueses de carne de porco. Marco Henriques falava durante uma cerimónia em Binhai, um dos maiores portos do mundo, situado no norte da China.
O evento celebrou a chegada do primeiro carregamento de carne de porco portuguesa para a China, composto por um total de 13 contentores, com destino às cidades de Xangai, Shenzhen, Xiamen, Qingdao e Tianjin.
"Sem a abertura do mercado chinês, não tínhamos hipótese de aumentar a produção", realçou o empresário, lembrando que, durante anos, Portugal teve dos porcos mais baratos do mundo, devido aos produtores estarem limitados às grandes cadeias de distribuição nacionais.
As autoridades chinesas autorizaram, desde o final do ano passado, os matadouros Maporal, ICM Pork e Montalva a exportar para o país. A importação está a cargo do grupo chinês ACME Group, com sede na província de Hunan, centro da China.
A carne suína compõe 60% do total do consumo de proteína animal no país asiático. Dados oficiais revelam que os consumidores chineses comem mais de 120 mil milhões de quilos de carne de porco por ano.
David Amorim, director de exportação do Grupo Montalva, admitiu que Portugal não tem capacidade de resposta para o maior mercado do mundo, mas ressalvou que os produtores nacionais podem preencher nichos. "Claro, não temos capacidade para abastecer 1.400 milhões de habitantes, mas podemos e devemos diferenciar-nos pela qualidade dos produtos", afirmou.
Para já, o protocolo abrange apenas carne de porco congelada e não transformada. Os enchidos e o presunto, por exemplo, continuam interditos.
Xia Yu, diretor executivo do ACME Group, explicou à Lusa que, no futuro, o grupo pretende alargar as importações aos setores frutas, peixe e marisco. "Portugal é um país pequeno, mas as relações com a China são boas e estáveis", notou.
O início das exportações de suínos portugueses para a China surge num momento em que o país tenta diversificar fornecedores, depois de Pequim ter subido as taxas alfandegárias até 70% sobre as importações de carne de porco oriunda dos Estados Unidos, como retaliação numa guerra comercial com Washington, que estalou no verão passado.
No mesmo período, surtos de peste suína em vários pontos da China resultaram no abate de dezenas de milhares de porcos, aumentando a procura por carne importada.
Marco Henriques estima que, até ao final do ano, as exportações portuguesas para China se fixem em 15000 porcos por semana, movimentando, no total, 100 milhões de euros.
O cônsul-geral de Portugal em Cantão, André Sobral Cordeiro, enfatizou ainda a importância de os três produtores portugueses se terem associado para atacar o mercado chinês.
"É uma questão de dimensão: o facto de eles estarem associados permite garantir a permanência no fornecimento, porque a nossa dimensão é, de facto, pequena para este mercado", disse.
"A procura não será o problema de todo", lembrou, "enquanto mais houver, mais eles [os chineses] consomem".
Sexta-Feira, 29 de Março de 2019, FPAS Newsletter nº 445 http://www.suinicultura.com